O primeiro-ministro considera mais prioritário aumentar o número de funcionários públicos do que os seus vencimentos. Numa entrevista ao Diário de Notícias, cuja segunda parte foi publicada este domingo, António Costa é claro ao dizer: “Se me perguntar o que é mais importante, aumentar o número de funcionários ou o vencimento dos funcionários, respondo que aumento o número dos funcionários”. O chefe de Governo justifica esta opção dizendo que aumentar o número de trabalhadores nos serviços do Estado é “mais importante para melhorar a qualidade dos serviços.”

E até cita as respostas que tem ouvido dos funcionários do Estado.

“Aquilo que eu sinto, falando com a generalidade dos funcionários públicos, é que se houvesse as duas coisas seria excelente, mas se tiverem de escolher entre ganhar um pouco mais ou ter mais colegas para repartir o trabalho e prestar um melhor serviço, todos me dizem que preferem ter mais colegas de trabalho e prestarem um melhor serviço.”

A estratégia para a função pública é um dos temas incontornáveis da segunda parte da entrevista dada pelo primeiro-ministro ao Diário de Notícias, onde António Costa reconhece que está previsto um aumento da despesa no valor de 350 milhões de euros para a administração pública. Mas sublinha que é preciso fazer opções na hora de decidir onde gastar.

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“Queremos aumentar mais ordenados ou queremos contratar mais pessoal? (…) se eu gastar tudo no aumento dos funcionários que já tenho, não tenho dinheiro para contratar os novos que me faltam; se eu gastar tudo nos novos que me faltam não tenho ara aumentar aqueles que já tenho. Portanto, há aqui um equilíbrio…”

Sublinhando que é preciso encontrar um “equilíbrio” entre os objetivos de recuperação de rendimentos — que promete “vai prosseguir para os funcionários públicos como para todos os portugueses”, seja pela via fiscal e também pela redução do horário de trabalho para as 35 horas no Estado — e o “preencher as muitas carências que há na administração”.

E onde haveria mais contratações? António Costa dá exemplos: na Saúde foram contratados mais 8000 profissionais, na Educação, entraram 5000 novos professores, e vão ser precisos mais, tal como será também necessário contratar mais auxiliares. E também são precisos mais enfermeiros e reforçar o pessoal das forças de segurança.

Só há folga se o défice continuar a baixar

Na primeira parte da entrevista, publicada sábado, o primeiro-ministro já tinha enviado um recado para os parceiros da esquerda,  avisando que se demitiria se o Orçamento do Estado de 2019 fosse chumbado.

Governo demite-se se o Orçamento não for aprovado

Nesta segunda parte, António Costa responde à crescente pressão dos partidos de esquerda para que use uma suposta folga de 800 milhões de euros para investir mais nos serviços públicos. Lembrando que a redução da dívida pública era uma prioridade para esses partidos, que defendiam a sua reestruturação, o primeiro-ministro aponta outro caminho para lá chegar. Só reduzindo o défice do Estado é que se pode baixar a dívida pública e baixar a fatura com os juros e assim criar a tal folga para investir mais. E avisa que não se pode fazer em dois anos o que ficou por fazer em anos e anos de cortes.

“Foram anos e anos e anos de desinvestimento, portanto em dois anos não podemos fazer o que não foi feito durante uma década, temos de ir prosseguindo nesta trajetória mas temos de prosseguir, primeiro, para que continuemos a ter défices baixos para ir reduzindo a dívida e libertando dinheiro que conseguimos em juros à banca e podermos reinvestir nos serviços públicos. Porque se voltássemos a aumentar o défice aumentávamos a dívida e voltávamos a pagar mais juros e em vez de termos mais dinheiro para investir nos serviços públicos estávamos a dar mais dinheiro à banca para pagar os juros da dívida”.

E a ameaça de Marcelo de não se candidatar se a tragédia dos fogos se repetir? “Não precisava desse estímulo suplementar”

António Costa disse ainda que não precisava da ameaça de não recandidatura de Marcelo em caso de nova tragédia para que o seu Governo se empenhe no combate aos incêndios. “Vamos lá ver, não precisava desse estímulo suplementar para a motivação do Governo em dar prioridade absoluta a este combate”, explicou o primeiro-ministro. Para o governante é “muito claro que tudo tem que ser feito para evitar esta tragédia” pelo que “o comentário do senhor Presidente da República” é apenas “mais um estímulo”.

Marcelo não se recandidata se país voltar a arder como em 2017

O primeiro-ministro saiu ainda em defesa de Angela Merkel, dizendo que “em Portugal tende-se a diabolizar excessivamente a posição da Alemanha” e que “há outros países que têm posições muitíssimo mais difíceis que a Alemanha”. António Costa diz ainda que tem “encontrado sempre, ao longo destes dois anos e meio, junto da senhora Merkel uma enorme compreensão”. O chefe de Governo explica que a boa relação com Merkel “não é só pelo facto” de estarem “sentados lado a lado no Conselho, porque é essa a ordem da presidência que nos tem aproximado, mas também um diálogo muito franco que temos sempre mantido, muitas vezes concordante, outras vezes discordante e bastante frontalmente, mas dizer que a Alemanha está no polo oposto a Portugal é hoje uma visão completamente desajustada daquilo que é a realidade europeia.” E ainda acrescenta: “A Alemanha e Portugal estão seguramente mais próximos um do outro do que a Alemanha está de vários dos países do centro, do norte ou do leste da Europa”.

A um mês da visita aos Estados Unidos, António Costa não tem propriamente palavras simpáticas para Donald Trump: “Como imaginam não sou presidente do clube de fãs do presidente Donald Trump com certeza [risos], mas não reduzo os EUA ao presidente Trump nem à sua presidência”.