Um dos cinco elementos do grupo apelidado La Manada, condenados pela violação de uma jovem de 18 anos durante as festas espanholas de São Firmino em 2016, quebrou o silêncio. Antonio Miguel Guerrero, agente da Guardia Civil, enviou uma carta ao jornal “La Tribuna de Cartagena”, que divulgou dados e imagens da vítima e publicou um polémico artigo com o nome “Eu não acredito em ti”.

Antonio Miguel Guerrero, de 28 anos, está preso desde julho de 2016 e foi condenado a nove anos de prisão e a uma indemnização de 50 mil euros por abuso sexual: assim como os restantes quatro elementos do grupo. Os juízes entenderam que não se tratou de agressão sexual (ou violação), mas de abuso sexual, justificando-se assim as penas mais leves. Um dos magistrados votou mesmo pela absolvição dos arguidos. Guerrero foi ainda condenado pelo delito de furto, por ter retirado o telemóvel à rapariga.

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Na carta enviada ao “La Tribuna de Cartagena”, o polícia escreveu que “depois de 22 meses na prisão” decidiu falar. Guerrero refere-se à jovem de 18 anos como “vítima”, sempre com aspas, utilizando-as também para a palavra “violadores”. Com frases duras e linguagem explícita, ataca a adolescente e recusa todo o tipo de acusações que lhe são feitas.

Não sou nenhum violador nem abusador, não odeio as mulheres e não cuspo fogo pela boca. Amanhã pode acontecer ao teu irmão, ao teu pai, ao teu filho ou a ti mesmo e aí vais arrepender-te de ter apoiado #yositecreo”, afirmou Antonio Miguel Guerrero, referindo-se ao movimento de apoio à rapariga de 18 anos que foi criado nas redes sociais.

O polícia espanhol defende que a leitura da sentença do caso foi transmitida como se se tratasse do “discurso de Natal do Rei” e que, quando os cinco arguidos foram absolvidos do crime de agressão sexual, a população de Espanha fez várias perguntas: “Será que nenhum dos juízes vê televisão?, Nenhum tem redes sociais?, Nenhum leu os artigos do jornal El Español?”, numa menção à publicação espanhola, que tem sido uma das principais vozes contra La Manada.

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“A todas estas pessoas posso garantir que, pelo menos a um dos três magistrados, importa-lhe bastante pouco o que se diz na televisão e nas redes sociais. São juízes e a sua missão é transmitir justiça, não caçar bruxas”, diz Antonio Miguel Guerrero, acrescentando que as mesmas pessoas que pedem penas mais pesadas para a La Manada são as que defendem “uma segunda oportunidade para Ana Julia Quezada e ‘El Chicle'”.

No último parágrafo, o agente da Guardia Civil revela que tem a certeza de que vão escrever “artigos e comentários” sobre a carta para “conseguir aplausos fáceis”. Ainda assim, Antonio Miguel Guerrero garante: “Ainda confio na justiça e na sua independência”.