O chefe da diplomacia portuguesa classificou como “muito, mas mesmo muito preocupante” a situação no Médio Oriente, insistindo que Portugal “discordou muito” da decisão norte-americana de transferir a embaixada de Telavive para Jerusalém.

“A situação no Médio Oriente é muito, mas mesmo muito preocupante”, afirmou Augusto Santos Silva, na sua intervenção inicial na audição pela comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas.

Para o governante, a somar às já difíceis situações na Síria, Afeganistão, Iraque e Irão, “duas decisões norte-americanas vieram perturbar ainda mais”.

Santos Silva reiterou a forte discordância de Lisboa à decisão do Presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada para Jerusalém, o que foi formalizado esta segunda-feira, motivando protestos, marcados pela morte de 60 palestinianos por balas do exército israelita.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sobre a violência na Faixa de Gaza, que fez também mais de 2.700 feridos, o governante considerou que Israel fez um “uso desproporcionado” da força: “Não é com balas reais que em democracias se responde a manifestações de pessoas desarmadas”, disse, enquanto apelou ao movimento Hamas, que lidera Gaza, para que respeite a “segurança e soberania de Israel sobre o seu território”.

Portugal foi um dos 24 Estados-membros da União Europeia que recusaram o convite de participar na cerimónia de inauguração da nova representação diplomática norte-americana, afirmou.

“Afasta-nos dos esforços necessários para retomar o processo de paz no Médio Oriente e avançar no sentido da única solução política, que é a justa e exequível, de dois Estados — israelita e palestiniano”, sublinhou Santos Silva.

Além disso, a decisão “enfraquece as forças dispostas ao compromisso e fortalece as forças extremistas” em ambos os lados do conflito, “faz aumentar a tensão” e “põe em perigo a condição dos EUA como mediador entre Israel e a Palestina”.

Santos Silva insistiu ainda nas críticas à decisão de Donald Trump de abandonar o acordo nuclear com o Irão, formalizada na semana passada.

Durante a audição, PCP e Bloco de Esquerda — os dois partidos que apoiam o Governo socialista no parlamento — questionaram o ministro sobre que medidas admite tomar face à violência das forças israelitas na Faixa de Gaza.

O comunista João Oliveira acusou os EUA de “imporem a lei do mais forte, do arbítrio e da violência nas relações internacionais”, considerando que Lisboa deve assumir uma “clara demarcação e não apenas votos de pesar e declarações de preocupação com a situação”

O líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, condenou a “mortandade inaceitável” de palestinianos, assinalando que no último mês “foram assassinadas 97 pessoas pelo exército israelita, enquanto nenhum israelita ficou ferido”, perante o que disse ser “a complacência a nível internacional”.

Santos Silva explicou que esta manhã a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros, Teresa Ribeiro, recebeu os embaixadores árabes e da Turquia acreditados em Lisboa para “procurar ouvir o seu ponto de vista e opiniões”.

Portugal também se associa ao pedido da União Europeia para a necessidade de “investigações independentes para apurar as responsabilidades dos factos” ocorridos na segunda-feira.

PSD e CDS-PP afirmaram concordar com a posição do Governo, enquanto a socialista Lara Martinho sustentou que “a paz é condição essencial para se chegar a uma solução duradoura de dois Estados”.