Depois de ter sido noticiada a possibilidade de a Panasonic ir para a China, em conjunto com a Tesla, para aí montar mais uma Gigafactory, eis que os japoneses fizeram questão de vir a público esclarecer que nada ainda está fechado. Em vez de abrirem ou fecharem a porta, deixam-na entreaberta: “No futuro, a Tesla poderá vir a montar uma operação de produção completa na China, e poderíamos produzir em conjunto”, admitiu o CEO da Panasonic, Kazuhiro Tsuga. Mas o mesmo fez questão de frisar que, de momento, ainda não há “nada de definitivo”. E, como que para mostrar que há mais Panasonic para além da Tesla, o presidente da companhia nipónica até fez questão de partilhar com os jornalistas a recente aproximação à Toyota, tão só o maior construtor mundial de automóveis (como marca, não como grupo).

Há muito que corriam rumores de estar na calha um acordo entre as duas empresas japonesas, tanto mais que a Toyota tem vindo a redireccionar a sua trajectória dos veículos híbridos plug-in para híbridos mais eficientes, com maior autonomia em modo EV, ao mesmo tempo que prepara a sua entrada nos 100% eléctricos a bateria. Pelo que, uma parceria com a Panasonic para o fornecimento de baterias encaixa perfeitamente na estratégia do construtor de Aichi. Tsuga revelou, a propósito, que “as conversações entre a Panasonic e a Toyota também estão a progredir”.

Como interpretar esta posição do gigante das baterias? O Nikkei Asian Review escreve que a Panasonic não só está descontente pelo estilo muito próprio de Elon Musk – aquela declaração dizendo que “perguntas financeiras não são fixes”, não terá caído muito bem aos japoneses –, como até se diz prejudicada com os atrasos na produção do Model 3.

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A produção do mais acessível dos Tesla iniciou-se em Julho do ano passado, mas o ritmo previsto de fabrico tende a derrapar, com a meta de 5.000 unidades por semana a ser atirada para o final de Junho deste ano. Mas, em Março, o objectivo ainda estava a meio-gás, com uma produção semanal de 2.200 carros. Para a Panasonic, este incumprimento de prazos afectou as contas: o lucro operacional, no final do ano fiscal, poderia ter sido superior em 20 mil milhões de ienes. Ou seja, qualquer coisa como 153 milhões de euros…

Dirão outros analistas que a Panasonic se queixa de “barriga cheia”. E porquê? Porque a própria companhia assume que, no próximo ano, espera que os seus lucros operacionais disparem 11,7%, só por conta do negócio das células que compõem as baterias para os veículos eléctricos.

Recorde-se que Tesla e Panasonic têm uma relação de longa data e um acordo que, naturalmente, compromete ambas as partes. Dos 5 mil milhões de dólares investidos na Gigafactory 1, no Nevada, 1,8 mil milhões foram colocados pela empresa nipónica, que até está disposta a avançar com novos investimentos. Mas disso dependerá não o que Elon Musk disser em conferências de imprensa, mas sim uma “clara avaliação da situação” feita pela Panasonic, adiantou um executivo da empresa. Num relatório interno lê-se que a gigante nipónica está “cada vez mais relutante em assumir novos compromissos” com a Tesla.