O presidente da Assembleia da República defendeu esta sexta-feira que o esquecimento coletivo do interior do país, ao longo de décadas, teve custos “dramáticos” e salientou a ideia de que “há mais vida para além das cidades”.

Ferro Rodrigues falava na cerimónia de apresentação do relatório final do Movimento pelo Interior, no antigo Museu dos Coches, em Lisboa, num discurso que se seguiu ao do primeiro-ministro, António Costa, e que antecedeu o do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Na sua breve intervenção, Ferro Rodrigues recorreu a uma máxima usada pelo antigo chefe de Estado Jorge Sampaio, mas, em vez de falar em Orçamento, aplicou-a à dicotomia cidade/campo. “Grandes problemas globais têm origem nas cidades e têm de ter resposta a partir delas. Mas, há mais vida para além das cidades – e temos de ter isso bem presente num momento em que discutimos a descentralização de competências para os municípios”, sustentou. Ferro Rodrigues advertiu, neste contexto, que “o esquecimento do interior, um esquecimento coletivo e de décadas, tem sempre custos”.

“No passado teve custos dramáticos”, acentuou o presidente da Assembleia da República, antes de saudar as propostas apresentadas pelos responsáveis do Movimento pelo Interior, do qual fazem parte, entre outros, antigos ministros como Silva Peneda e Jorge Coelho, ou os presidentes das câmaras de Vila Real, Rui Santos, e da Guarda, Álvaro Amaro.

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Na primeira fila da plateia estavam a ouvir as palavras de Ferro Rodrigues os líderes do PSD, Rui Rio, e do CDS-PP, Assunção Cristas, o presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP), Manuel Machado, assim como os ministros da Presidência (Maria Manuel Leitão Marques), das Infraestruturas e Planeamento (Pedro Marques), Adjunto (Pedro Siza Vieira) e da Administração Interna (Eduardo Cabrita).

O presidente da Assembleia da República transmitiu depois a mensagem de que haverá “toda a colaboração por parte do parlamento” para as atividades que o Movimento pelo Interior pretender desenvolver a breve prazo. “Porque lutar pelo interior é mesmo uma causa nacional”, concluiu Ferro Rodrigues.

No relatório, este movimento propõe que a administração pública transfira 25 serviços de Lisboa para o interior em três legislaturas, ao ritmo de dois ao ano, a partir de 2020, com incentivos salariais, de progressão na carreira e de reforma aos funcionários que acompanhem essa transferência.

O Movimento Pelo Interior foi criado no final do ano passado exclusivamente com o objetivo de apresentar um conjunto de medidas para corrigir os desequilíbrios territoriais do país, após o que se extinguirá.

Marcelo saúda o Movimento pelo Interior

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, saudou o Movimento Pelo Interior. Numa intervenção de cerca de cinco minutos, Marcelo Rebelo de Sousa salientou a presença dos responsáveis políticos e também de vários ministros, deputados e eurodeputados, representantes da academia, parceiros sociais e autarcas nesta cerimónia, declarando que isso “é, a todos os títulos, simbólico”.

“Significa que Portugal como um todo abraça uma causa que mais não representa do que o cumprimento cabal da Constituição da República Portuguesa”, considerou. “Quer dizer que não nos resignamos a ser um Portugal com grandes metrópoles com grandes desertos, mais ou menos ocultos ou esbatidos”, acrescentou.

O Presidente da República saudou os promotores do Movimento Pelo Interior, criado no final do ano passado exclusivamente com o objetivo de apresentar um conjunto de medidas para corrigir os desequilíbrios territoriais do país, agradecendo-lhes pelo “empenho, devoção e sentido nacional”. Integram o Movimento Pelo Interior o antigo ministro e ex-presidente do Conselho Económico e Social José Silva Peneda, o presidente da Câmara da Guarda e dos Autarcas Social-Democratas, Álvaro Amaro, e o presidente da Câmara de Vila Real e presidente dos Autarcas Socialistas, Rui Santos.

Segundo o chefe de Estado, a abrangência da cerimónia de hoje demonstra que esta causa “conjuga Estado e poder local, no respeito estrito das suas diferentes áreas de ação” e “junta Administração Pública e sociedade civil, incentivando a democracia participativa na sua diversificada expressão”.

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que a luta contra a desertificação do interior deve ser “interterritorial e intergeracional, para que a coesão entre territórios olhe para os diferentes ‘portugais’” e “não fique como um mero exercício de gerações menos jovens, antes estimule o papel não menos determinante das gerações com mais vida pela frente”. Como “antigo autarca do então mais pobre município de Portugal”, Celorico de Basto, o Presidente da República expressou solidariedade para com os presidentes de câmara presentes.

O chefe de Estado referiu-se depois aos “muitos” que “antes mesmo deste louvável movimento” já “trabalhavam para mudar a face de um Portugal tão promissor, mas ainda tão desigual”. “Sabem esses e outros que estão cada vez menos sós nessa sua batalha pelo futuro. Estamos todos juntos nesse combate diário, como se impõe, sempre e só a pensar em Portugal”, afirmou.