O histórico socialista Manuel Alegre só vai ao congresso do PS, que se realiza no próximo fim de semana, se for convidado — mas acha “estapafúrdio” não ser. “Será um caso estapafúrdio não ser convidado, mas em política tudo é possível. Já resolvi muitos congressos, também já virei congressos do avesso. Não sei o que as pessoas querem deste congresso”, diz em entrevista ao Diário de Notícias, onde também fala da desfiliação de José Sócrates do PS e da “captura do Estado por outros interesses quando Sócrates foi primeiro-ministro”. Segundo Manuel Alegre, agora que está livre do PS é possível que o ex-primeiro-ministro “não se fique”.

Questionado sobre se José Sócrates pode agora sentir-se tentado a provocar danos no PS, Alegre responde afirmativamente. “Pode, pode”, responde. “Gostaria que ele não fizesse isso, mas pode. Embora ache que ele tinha ligações profundas ao PS. Teve uma maioria absoluta, foi glorificado como poucos em congressos e agora é natural que esteja magoado. E uma pessoa como o Sócrates, magoada e ressentida, em princípio não se fica…”, diz.

Ainda sobre José Sócrates, o histórico socialista não tem dúvidas de que o PS, no tempo da liderança de Sócrates, ficou capturado por interesses económicos. Mas que isso começou antes, com António Guterres. “Começou com uma pessoa que está acima de toda a suspeita, o António Guterres. Que é um socialista cristão que foi o pai político. Foi ele que abriu as portas a muitas coisas. Sinto que a partir de certa altura, e sobretudo quando Sócrates foi primeiro-ministro, houve uma captura do Estado por outros interesses. Um grande encosto à banca, por orientação política. Mas foi uma orientação que nós combatemos. E distingo a questão pessoal, política e a outra”, diz, referindo-se à questão judicial.

Para Manuel Alegre, a questão da justiça também importa muito e não se deve arrastar no tempo. “Há acusações que foram feitas que têm de ser provadas e demonstradas”, diz na mesma entrevista, onde critica a lentidão da justiça. “Arriscamo-nos, como disse o Presidente da República e muito bem, a morrer antes de certos julgamentos serem feitos. Isso não é bom para a ustiça nem é bom para a saúde da democracia”, acrescenta.

Sobre o futuro do PS, e as moções que vão ser debatidas no congresso, Manuel Alegre destaca a moção de Pedro Nuno Santos e Duarte Cordeiro sobre o papel “estratega” do Estado, mas curiosamente também se apressa a aplaudir Fernando Medina, outro rosto apontado como possível candidato ao pós-Costa. “Devo dizer que também tenho apreciado muito o Fernando Medina”, disse.

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