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Crónica. O Desp. Aves ganhou a Taça que o Sporting já tinha perdido. Ou melhor, o Sporting está perdido

Este artigo tem mais de 5 anos

Desp. Aves fez história e ganhou pela primeira vez a Taça de Portugal. E de forma justa, por 2-1. O Sporting perdeu hoje. Já tinha perdido ontem. E anteontem. O amanhã, assim, já parte como derrotado.

Alexandre Guedes, avançado formado no Sporting, foi o herói do Desop. Aves na Taça de Portugal
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Alexandre Guedes, avançado formado no Sporting, foi o herói do Desop. Aves na Taça de Portugal

AFP/Getty Images

Alexandre Guedes, avançado formado no Sporting, foi o herói do Desop. Aves na Taça de Portugal

AFP/Getty Images

Quando Tiago Martins deu o último apito da primeira parte, o Sporting estava a perder. No resultado e no controlo anímico: Coates saiu em direção ao árbitro a protestar um lance que se passara antes, os suplentes foram confortar alguns dos seus companheiros a caminho dos balneários, Coentrão estava com aquele registo do coração ao pé da boca a explicar qualquer coisa que se tinha passado a Jorge Jesus. Já o técnico ia caminhando para fora do relvado, após 45 minutos mais descontraídos do que era normal no banco. As camisolas eram as Stromp; os nomes repetiam-se na ficha; a equipa, parecia outra.

Muitos catalogaram a invasão de 50 indivíduos à Academia, de caras tapadas, bastões de ferros, cintos e tochas, como um dos momentos mais negros da história do clube. Pecou por escasso: foi o pior de sempre. Na terça-feira, essa terça-feira que ainda não foi esquecida (e dificilmente será, acrescente-se), houve jogadores, treinadores e elementos do staff agredidos de forma brutal e até aleatória, a partir de determinado momento. Mais tarde, todos se foram revezando para prestar depoimentos na GNR do Montijo. Cada palavra funcionava como um murro no estômago de todos. Tão mau como isso, alguns testemunhos terminavam com a confissão de que tinham receio que o filme se repetisse, até numa dimensão ainda mais grave.

Ficha de jogo

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Desp. Aves-Sporting, 2-1

Final da Taça de Portugal

Estádio Nacional, em Lisboa

Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa)

Desp. Aves: Quim; Rodrigo, Ponck, Diego Galo, Nélson Lenho; Tissone, Vítor Gomes, Braga (Falcão, 71′); Amilton (Mama Baldé, 76′), Nildo (Jorge Filipe, 90′) e Alexandre Guedes

Suplentes não utilizados: Adriano Fachini, Fariña, Derley e Elhouni

Treinador: José Mota

Sporting: Rui Patrício; Ristovski, Coates, Mathieu , Fábio Coentrão (Misic, 63′); William Carvalho (Montero, 46′), Battaglia; Gelson Martins, Acuña, Bruno Fernandes e Bas Dost

Suplentes não utilizados: Salin, Lumor, Wendel, Petrovic e Rúben Ribeiro

Treinador: Jorge Jesus

Golos: Alexandre Guedes (16′ e 72′) e Montero (86′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Amilton (43′), Ponck (61′), Vítor Gomes (69′), Acuña (83′), Mama Baldé (83′) e Nildo Petrolina (90′)

Os atletas do Sporting, que nesse dia esvaziaram os cacifos todos antes de ir embora e que na véspera, dia de folga, tinham sido chamados para uma reunião em Alvalade, encontraram-se com o Sindicato de Jogadores, discutiram a possibilidade de rescindir unilateralmente os contratos, foram recebendo muitas mensagens de apoio mas também algumas “farpas” através das páginas nas redes sociais, andaram a trabalhar separados com uns na Grande Lisboa e outros no Grande Porto, juntaram-se pela primeira vez em Cascais para rumarem ao Jamor e fazerem o único treino conjunto antes da final, pernoitaram nas suas casas, voltaram a concentrar-se esta manhã numa unidade hoteleira, foram para o Estádio Nacional. A receção apoteótica no aquecimento funcionou como bálsamo mas há feridas que só se curam com o tempo. E foi isso que se viu no jogo.

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Apesar de Bas Dost ter sido dado como inapto na noite dos bárbaros ataques à Academia, o holandês recuperou e, mesmo com um penso na zona onde foi atingido de forma violenta tendo mesmo de ser suturado com seis pontos (na véspera tinha treinado com uma ligadura verde à volta de toda a cabeça), foi titular numa equipa onde a única “surpresa” acabou por ser Ristovski, que ocupou o lado direito da defesa em vez do lesionado Piccini. Do lado do Desp. Aves, confirmou-se a aposta de José Mota em Quim na baliza. E que foi uma aposta histórica: o guarda-redes tornou-se o mais velho de sempre a participar na final da Taça de Portugal (42 anos), passando Melo (jogou com 40 anos pelo Est. Amadora em 1990, sendo que hoje é um dos comentadores da Sporting TV) e o carismático Vítor Damas (aos 39 anos, representou o Sporting em 1987).

[Clique nas imagens para ver os principais momentos da final da Taça de Portugal entre Desp. Aves e Sporting]

Toda aquela festa antes do início do encontro, com uma bola “voadora” a ser entregue ao árbitro Tiago Martins, o hino e todas as iniciativas que fazem deste jogo algo especial, parecia que tinha deixado os avenses deslumbrados, quase como se estivessem a admirar aquele palco que pareceu sempre um sonho mas que se tinha tornado realidade. Acuña ainda ganhou um canto e viu um remate ser prensado na muralha defensiva contrária, mas bastou o som do tiro de Rodrigo, na sequência de um pontapé de ressaca após canto, para dar aquele abanão necessário nos comandados de José Mota.

O conjunto da Vila das Aves trabalhou bem durante a semana esta final e o seu treinador, mesmo percebendo que iria ter um adversário demasiado abalado, trabalhou sobretudo em termos táticos uma estratégia para neutralizar o favoritismo teórico dos leões. Conseguiu, em muitos momentos do encontro. Mas conseguiu apenas porque, em menos de cinco minutos, Gelson Martins não teve o killer instinct e, em dois duelos individuais com Quim isolado na área, permitiu defesas para canto do veterano guarda-redes. Tudo poderia mudar aí porque um golo verde e branco no primeiro quarto de hora daria uma outra estabilidade ao jogo da equipa de Jorge Jesus; ao invés, pouco depois, as coisas só viriam a piorar.

O Desp. Aves teve sempre a humildade para entender todos os momentos de jogo. Quando tinha de baixar linhas sem ficar acantonado em frente à área de Quim. Quando devia subir para pressionar na primeira zona de construção dos leões e com isso condicionar o jogo ofensivo adversário. Quando conseguia, em posse, chegar à baliza de Rui Patrício. Se recuarmos ao encontro em Alvalade no arranque da segunda volta do Campeonato, a teoria avense foi a mesma mas a prática não demorou a tornar-se outra: num jogada que serve de exemplo paradigmático de como sair em contra-ataque, Amilton conseguiu desposicionar a transição defensiva com um passe a rasgar flancos, Braga cruzou ao segundo poste e Alexandre Guedes, avançado que passou vários anos na formação verde e branca na Academia, encostou de cabeça para o golo inaugural (16′).

O Sporting acusou a desvantagem. De quando em vez, lá se ouviam com mais força os cânticos que mostravam uma enorme falange de apoio a funcionar como 12.º elemento do exército pronto para virar a batalha. Mas por maior que fossem, pareciam sempre curtos. Tão curtos como o futebol que se via em campo. Previsível, lento, com pouca criatividade. Com laterais a irem à frente sem fazer a diferença, com William Carvalho a passar totalmente ao lado do jogo, com Bas Dost sem bolas para o último toque. Bruno Fernandes mexia no jogo, Gelson Martins agitava com uns piques, mas não só o Desp. Aves ia controlando as investidas contrárias como, quando conseguia meter o primeiro passe num dos elementos da frente tendo capacidade de virar, chegava sempre com algum perigo ao último terço verde e branco, com remates travados por Rui Patrício.

Ao intervalo, Jorge Jesus trocou Montero por William Carvalho, deu outro peso ao corredor central e recuou Bruno Fernandes para uma zona de maior construção (e menos meia distância, como no primeiro tempo). Houve mais Sporting, nem tanto com clarividência na capacidade de criar oportunidades mas pelas tentativas de remate de longe ou de livre direto (Mathieu) ou de bola corrida (Bruno Fernandes). No entanto, havia sempre pela frente um Quim a fazer um jogo de encher o olho e as unidades do meio-campo a conseguirem sempre dar o esticão na partida que colocava os leões divididos entre a intenção de partir de vez o encontro ou assumir a mesma organização coletiva sem haver descompensações.

Os minutos iam passando. Nem sempre com a melhor qualidade mas com o jogo vivo, intenso, capaz de prender todos aqueles que seguiam a partida. A que, no segundo golo do Desp. Aves, se juntou Coates: Gelson Martins teve uma perda de bola com a equipa desequilibrada, Alexandre Guedes, que não é propriamente aquele avançado muito rápido e que gosta de serpentear pelas defesas contrárias, enfrentou o uruguaio, ganhou no 1×1 e rematou para o 2-0 (72′).

Bas Dost, isolado e sem Quim (nem oposição) na baliza, ainda atirou uma bola fácil de golo à trave. Montero, quando Coates já estava também na frente para a aposta no jogo mais direto, reduziu a desvantagem a cinco minutos do final. Ainda houve um forcing final, muitas bolas bombeadas, mas o Desp. Aves conseguiu mesmo fazer história, levantando pela primeira vez a Taça de Portugal. E olhando para o que se passou ao longo do encontro, de forma justa. Os parágrafos e as linhas acima não fazem de facto jus ao mérito que o conjunto avense teve neste triunfo. Mas o futebol, numa semana destas, é a coisa mais importante entre as menos importantes. E é do Sporting, e da semana mais negra de sempre da sua história, que se vai continuar a falar.

O Sporting perdeu hoje mas tinha perdido ontem. E anteontem. E desde terça-feira. Assim, vai partir derrotado amanhã.

P.S. Às 19h05, Bruno de Carvalho voltou a falar de Sporting na sua página oficial do Facebook. Às 19h27, Bruno de Carvalho escreveu de novo no Facebook. 

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