Em Itália, está tudo à espera que um homem se decida. Trata-se do Presidente, Sergio Mattarella, a quem cabe a função de aprovar o nome formalmente proposto pelo Movimento 5 Estrelas (M5E) e pela Liga para o cargo de primeiro-ministro, o advogado Giuseppe Conte. Porém, a polémica do currículo do homem ligado ao M5E e a proposta de um eurocético para o cargo de ministro das Finanças e Economia representam barreiras que o Presidente pode não estar disposto a transpor.

Os relatos que surgem na imprensa italiana apontam para reticências da parte de Sergio Mattarella, perante um governo dividido pelos dois partidos populistas e eurocéticos. Se já era assim quando o acordo entre o M5E e a Liga foi anunciado, passou a sê-lo ainda mais quando surgiram dúvidas em relação à passagem ao currículo de Giuseppe Conte, nome escolhido pelos dois partidos para primeiro-ministro. A lista de instituições que Giuseppe Conte diz ter frequentado, como aluno ou professor, e em torno das quais agora surgem dúvidas, é composta pela Universidade de Nova Iorque, Sorbonne, Cambridge, International Kultur Institut (Viena) e Universidade de Malta.

Giuseppe Conte. Universidade de Nova Iorque não tem registos com este nome

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Outra questão em jogo, e que pode dificultar a aprovação deste governo por parte de Sergio Mattarella, é a escolha de Paolo Savona para o cargo de ministro das Finanças e Economia. Escolhido pela Liga, este economista de 82 anos é conhecido pelas suas posições eurocéticas e por ser fortemente crítico da moeda única.

A possibilidade de um chumbo de Giuseppe Conte, ou de uma censura ainda que informal ao nome de Paolo Savona para a pasta das Finanças, já mereceu comentários críticos por parte do líder da Liga, Matteo Salvini, que já fez questão de dizer que um “não” de Sergio Mattarella levarão ao colapso de conversações com o M5E e a umas eventuais eleições antecipadas.

Matteo Salvini, da Liga, já respondeu que se houver veto de Sergio Mattarella o caminho passa por novas eleições

“Neste preciso momento estamos todos de acordo. Se alguns deixarem de estar, vamos assumir a responsabilidade. E vamos a votos”, disse Matteo Salvini esta terça-feira. O líder da Liga disse mesmo que está “pronto para tudo: para ir para o governo, para ir a votos, para ir para as barricadas”. “Fizemos todo o trabalho e esforço possíveis, estamos prontos. Não há tempo a perder: ou mudamos Itália, ou vamos a votos”, acrescentou.

Também o vice-secretário da Liga disse que o um veto ao governo de Giuseppe Conte (com Paolo Savona nas Finanças e Economia) “seria uma belo problema”.

Da parte do M5E, os sinais são mistos. Por um lado, Emilio Carelli, visto como possível ministro da Cultura, admitiu a hipótese de Giuseppe Conte sair de cena. “Não excluo que Conte possa sair, porque não sabemos o que se pode passar hoje”, disse na terça-feira, dia em que estalou o escândalo do currículo. Porém, outras personalidades do partido de Luigi Di Maio deram a entender que não vão deixar cair Giuseppe Conte. “O professor Giuseppe Conte continuará a ser o nosso candidato, e também da Liga”, disse o líder do M5E no Senado, Danilo Toninelli.

O M5E, de Luigi Di Maio (à direita), propôs o nome de Giuseppe Conte para primeiro-ministro. Após o escândalo do currículo, há quem admita deixá-lo cair para garantir a aprovação de Sergio Mattarella

O atual impasse surge das eleições de 5 de março, da qual não resultou nenhum vencedor óbvio. O M5E ficou em primeiro lugar, mas aquém de uma maioria absoluta. Atrás, ficou o bloco de centro-direita, composto, entre outros, pelo Forza Italia de, Silvio Berlusconi, e a Liga, de Matteo Salvini. Contra as expectativas de muitos e as previsões das sondagens, a Liga conseguiu mais votos do que o partido de Silvio Berlusconi, tomando assim a dianteira nas negociações para um possível governo.

A 17 de maio, a Liga e o M5E anunciaram um acordo, do qual resultou um programa de governo mais próximo da Liga, mas o compromisso de que o executivo seria liderado por um nome escolhido pelo partido de Luigi Di Maio. A proposta de executivo terá primeiro de ser aprovada pelo Presidente e só depois passará ao parlamento italiano. Além de não haver certezas em torno da escolha de Sergio Matarella, também não é seguro que um governo de Giuseppe Conte passe no parlamento, necessitando para isso dos votos do centro-direita, com destaque para o Forza Italia, de Silvio Berlusconi.