“Godard, o Temível”

Os sacerdotes mais zelosos e com menos sentido de humor do culto godardiano não acharão graça nenhuma a que Michel Hazanavicius (“O Artista”) tenha vindo brincar com o santinho da sua devoção em “Godard, o Temível”. Mas a verdade é que esta fita, baseada no livro “Un an aprés” (2015), que a actriz e autora Anne Wiazemsky (morta em 2017) escreveu depois de se ter separado do realizador em 1979, e passada entre a época de “La Chinoise” e o pós-Maio de 68, acerta em cheio várias das suas bandarilhas satíricas.

Em especial as bandarilhas políticas, ao mostrar Godard como uma barata tonta ideológica, endossando o maoísmo genocida mas vendo “La Chinoise” ser vetado pelos comissários culturais da embaixada da China em Paris, tentando colar-se sem sucesso aos estudantes anarquistas, sempre com a boca cheia de revolução e de “slogans” radicais mas sendo incapaz de se encaixar num dos nichos revolucionários da época. Louis Garrel entra como uma luva na pele deste jovem Godard, até ao seu leve ciciar, e Stacy Martin é uma óptima Anne Wiazemsky, que atura o egocentrismo, a misoginia, os trocadilhos e os caprichos da estrela rebelde da Nova Vaga, até um dia se fartar. Hazanavicius nem precisava de ter mimado as idiossincrasias formais do autor de “Pedro o Louco”.

“O Labirinto da Saudade”

Mais perto de “Autografia” do que de “José e Pilar”, os dois documentários anteriores de Miguel Gonçalves Mendes sobre escritores portugueses (Mário Cesariny e José Saramago, respectivamente), “O Labirinto da Saudade” estreia-se quando Eduardo Lourenço celebra 95 anos, e é um ensaio e uma síntese sobre o livro deste pensador que lhe dá o título, publicado em 1978. O realizador evita o ramerrão do documentário tradicional sobre autores e figuras da cultura, com muita gente ilustre a perorar e informação bio-bibliográfica em rajada, transformando Eduardo Lourenço em actor e narrador do filme e fazendo toda uma encenação que inclui sequências animadas e contempla uma envolvência visual de cinema fantástico.

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O senão de “O Labirinto da Saudade” é a presença de várias figuras públicas próximas de Eduardo Lourenço, algumas das quais em momentos que vão do ridículo ao falhado (Pilar del Rio armada em “sereia” do iberismo, Ricardo Araújo Pereira num chiste simplório de Salazar). E não falha o pormenor tendencioso, com loas e reverências a Mário Soares, Jorge Sampaio e Ramalho Eanes, enquanto que Cavaco Silva (que, para o melhor ou para o pior, foi primeiro-ministro e Presidente da República em épocas importantes da vida nacional) é pura e simplesmente gozado. Destoa, sobretudo num documentário sobre um pensador e filósofo que sempre se mostrou avesso a simplismos e esquematismos.

https://youtu.be/XEkNaqc5Nvg

Han Solo: Uma História de Star Wars”

Ron Howard realiza e Lawrence e Jonathan Kasdan assinam o argumento deste décimo filme da saga “Star Wars”, que é também o segundo da série autónoma “Star Wars Anthology”, depois de “Rogue One”, em 2016, e ainda o primeiro centrado numa personagem da série, Han Solo, aqui  quando jovem e interpretado por Alden Ehrenreich. A história explora as primeiras aventuras de Solo, que começam no seu planeta natal, Corellia, e conta como ele encontrou Chewbacca, o seu futuro co-piloto e grande amigo, bem como Lando Calrissian, e tomou posse do Millenium Falcon.

Phil Lord e Christopher Miller foram os primeiros realizadores do filme, mas seriam depois dispensados e substituídos pelo veterano Howard. Ao lado de Ehrenreich, encontramos intérpretes como Woody Harrelson, Thandie Newton, Emilia Clarke, Donald Glover, Paul Bettany e, debaixo do fato peludo de Chewbacca, Joonas Suotamo. A banda sonora é assinada por John Powell, tendo John Williams composto o tema musical pessoal da personagem de Han Solo. “Han Solo: Uma História de Star Wars” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.