Harvey Weinstein, que se entregou à polícia de Nova Iorque nesta sexta-feira, saiu em liberdade depois do pagamento de uma fiança de 1 milhão de dólares (cerca de 858 mil euros) e com pulseira eletrónica, refere a BBC. O ex-produtor norte-americano foi acusado de violação, crimes sexuais e de abuso e assédio sexual a duas mulheres diferentes (não identificadas), mas negou todas acusações. À saída do tribunal, o advogado Ben Brafman, disse aos jornalistas que Weinstein vão declarar-se inocente.

Weinstein entregou-se às autoridades, numa esquadra da baixa de Manhattan, por volta das 7h25 (11h25 em Lisboa) de sexta-feira. Levou consigo dois livros, um deles de Elia Kazan, realizador e produtor norte-americano de origem grega considerado um dos mais importantes da história de Hollywood e da Brodway. Durante a curta audiência, a promotora adjunta de Manhattan, Joan Illuzzi, acusou Weinstein de “usar a sua posição, dinheiro e poder para atrair jovens mulheres para situações em que as podia violar”, de acordo com a BBC. O caso foi adiado para 30 de julho.

Em declarações aos jornalistas à saída do tribunal nova-iorquino, o advogado do ex-produtor, Ben Brafman, disse que ele e o seu cliente pretendem “agir rapidamente para desmentir as acusações”, considerando que existem poucas evidências de que Harvey Weinstein tenha cometido os crimes de que é acusado. “Acreditamos que têm falhas constitucionais. Acreditamos que não são factualmente apoiadas por evidências”, disse Brafman. Segundo a Agência France Press, Weinstein está acusado de um crime de violação que terá ocorrido em 2013 e de um ato sexual criminoso em 2004.

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O caso de Weinstein, revelado pelo The New York Times, foi o empurrão para as dezenas de outros casos que se tornaram públicos ao longo do ano passado. Começou por ser uma acusação feita pela atriz Ashley Judd. Num piscar de olhos, várias outras atrizes de Hollywood denunciaram casos semelhantes com o produtor: Angelina Jolie, Cara Delevingne, Rose McGowan e Gwyneth Paltrow são algumas das mais mediáticas das cerca de duas dezenas que dizem ter sido assediadas pelo poderoso produtor.

Outras atrizes e celebridades juntaram-se numa campanha contra Harvey Weinstein, como Meryl Streep ou Hillary Clinton. A mulher deixou-o. Weinstein foi demitido da sua própria empresa, a Weinstein Company, e expulso do sindicato de produtores de Hollywood.

Mas afinal, o caso de Weinstein seria o segredo mais mal guardado de Hollywood. Toda a gente conhecia as histórias do poderoso produtor que usava sempre o mesmo método: levava jovens atrizes para o quarto ou pedia-lhes que subissem e aparecia só de roupão, a exigir serviços sexuais a troco de uma carreira no cinema.

A teia de Harvey Weinstein

Caso de Lucia Evans. “Ele forçou-me a fazer sexo oral. Só mais um dia normal para ele”

O The New York Times tinha avançado que o ex-produtor deveria ser acusado relativamente ao caso da atriz Lucia Evans. Weinstein aproximou-se de Lucia Evans, numa discoteca em 2004, em Nova Iorque, recordou em declarações ao The New Yorker, em outubro do ano passado. Evans queria ser atriz e, embora já tivesse ouvido rumores sobre o ex-produtor, deu-lhe o seu número de telefone na esperança que a pudesse ajudar a iniciar uma carreira no cinema.

Desde aí, as chamadas não pararam. Weinstein — ele próprio ou através da assistente — insistia em marcar um encontro durante a noite. Evans recusou sempre. Até receber uma proposta da assistente do ex-produtor para se encontrar com Weinsten no seu escritório em Nova Iorque e, depois, com uma diretora de casting que era uma mulher e que fez Evans sentir-se “segura”. Aceitou e foi. Falaram sobre trabalho mas depois Weinstein obrigou a fazer sexo oral.

Ele forçou-me a fazer sexo oral. Eu disse vezes sem conta: ‘Não quero fazer isto. Para! Não quero!’, recordou.

Evans ainda se questiona se se esforçou o suficiente para se ver livre dele. “Ele é grande. Ele dominou-me”, contou, acrescentando: “Foi como se eu tivesse desistido. Essa é a parte mais horrível”. Evans sentiu que aquele foi “só mais um dia normal para ele”, recordando que o ex-produtor agiu como se nada tivesse acontecido.

“Apanhámos-te, Harvey Weinstein, apanhámos-te”

Weinstein entregou-se à polícia e nas redes sociais surgem reações. Uma delas é a da atriz Rose McGowan que escreveu no Twitter: “Apanhámos-te, Harvey Weinstein, apanhámos-te”.

Artigo atualizado às 13h02 de 26/5