O Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keïta, e uma associação de migrantes saudaram esta segunda-feira a coragem de um cidadão maliano indocumentado que salvou uma criança de cair de um prédio em Paris, o que lhe valeu a legalização. Mas, tal como o presidente da Associação Maliana dos Expatriados (AME), Ousmane Diarra, “muito orgulhoso” do compatriota, muitos lamentam que tenha sido necessário um ato tão excecional para obter uma regularização que outros jovens africanos aguardam por vezes em vão durante “mais de dez ou 15 anos”.

“Não devia ser preciso esperar [a oportunidade de] salvar um francês para ser naturalizado francês”, sustentou Diarra, apelando para que “se reveja e altere a política europeia sobre a migração e a política francesa, em particular”. Na sua conta da rede social Twitter, o Presidente maliano, que telefonou a Mamoudou Gassama para o felicitar, descreveu-o como “um digno e corajoso filho do Mali”.

“Salvar uma vida colocando em perigo a sua não está ao alcance de todos. Mamoudou Gassama correu esse risco, demonstrando valores de coragem e de humanismo que honram toda a nação. Bravo!”, acrescentou o chefe de Estado. Durante a conversa telefónica, Keïta “transmitiu-lhe todo o orgulho que o Mali sente perante o seu ato”, disse o diretor de comunicação da presidência, Tiegoum Boubeye Maïga, embora considerando que “não é surpreendente quando se conhece o homem maliano”.

Um médico maliano a fazer o internato num hospital de Bamako, Sylvain Poudiougou, de 37 anos, criticou, por seu lado, “a recuperação política” por parte do Governo francês. “Porquê todo este barulho em torno deste caso? Tapete vermelho no Eliseu e um pouco por todo o lado. É preciso não esquecer que, ao mesmo tempo, em França — e sobretudo em Paris — se preparam para deportar centenas de estrangeiros em situação irregular”, declarou o clínico, citado pela agência noticiosa francesa AFP.

Para Oumar Gassama, que indicou ser originário da mesma aldeia que o herói desta história, no oeste do Mali, “ele mostrou que nós somos pessoas de bem”. “Agora que ele tem os seus papéis e trabalho, espero que ele pense mais em nós e envie mais dinheiro para o país, para a aldeia”, sublinhou.

“Tenho dois irmãos em França em situação irregular. Também espero que um dia eles façam alguma coisa assim para serem legalizados. Vejo também que se a França quiser regularizar imigrantes ilegais, isso é exequível”, disse um lojista, Hervé Keïta, acrescentando que “se eles vão para França, é porque não há trabalho” no Mali.

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