Mais do que um “bom nível de relacionamento económico” entre Portugal e Alemanha, o primeiro-ministro português, António Costa, destacou “o novo tipo de relacionamento” entre os dois países. Da “capacidade empresarial”, à “excelência dos recursos humanos” passando pela “qualidade da investigação” e “inovação”. Foi assim que Costa definiu esse “relacionamento”, durante declarações conjuntas à imprensa com a chanceler alemã, Angela Merkel, depois do encontro com Costa.

Estou satisfeito que a chanceler Merkel possa ter regressado a Portugal  num momento diferente da nossa vida, depois de termos virado a página da crise”, confessou Costa.

A chanceler alemã também manifestou “alegria” por encontrar Portugal “numa situação otimista”, enquanto o primeiro-ministro português assinalou que o país vive “um momento diferente”, com o “melhor crescimento económico” e criação de emprego das últimas décadas.

A minha última visita foi há cinco anos. Hoje Portugal apresenta-se numa situação otimista e é motivo de alegria para mim”, disse a chefe do Governo alemão.

O primeiro-ministro admitiu que Portugal e Alemanha “nem sempre” partilharam “dos mesmo pontos de vista sobre ao futuro da Europa” — algo que Costa considera “natural”. Ainda assim, não deixou de destacar que “Portugal e Alemanha têm sido dos países mais constantes em estarem de acordo quanto ao que é essencial”. Costa revelou que existe uma “vontade comum de aproximar pontos de vistas e concorrermos para decisões que, muitas vezes, sendo difíceis exigem um grande sentido de compromisso”.

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Fundos europeus. “Novas ambições exigem recursos” mas Costa defende que deve ser feito esforços

Questionado sobre a distribuição de fundos proposta pela Comissão Europeia — com a qual Merkel já foi confrontada por Rui Rio –, o primeiro-ministro português considerou que “há margem” para se continuar a “trabalhar para se melhorar essa proposta” da Comissão Europeia.

Costa defendeu que a “Europa tem de ter um orçamento à medida da sua ambição“. E explicou que Portugal tem novas ambições nomeadamente área da defesa, combate ao terrorismo, capacidade de gerir as migrações e capacidade de contribuir ativamente para o desenvolvimento do continente africano. “Estas novas ambições exigem recursos”, alertou Costa.

Rio disse a Merkel que não concordava com distribuição de fundos. “Ouviu, percebeu. Também não disse que ia ser defensora”

O primeiro-ministro não deixou de apontar que a saída do Reino Unido da União Europeia fez com que houvesse menos um contribuinte, o que “exige um maior esforço”. Também a chanceler alemã reconheceu esse facto:

A aprovação do quadro financeiro plurianual será tão complicada como a quadratura do círculo, depois da saída de um país, de um contribuinte líquido e ao mesmo tempo com o acréscimo de tarefas. É de facto um enorme desafio”, afirmou.

Merkel ressalvou: “Enquanto União Europeia, temos de enfrentar esses desafios e, com um pouco de boa vontade, seremos bem-sucedidos”, declarou. A chanceler alemã recordou que, no seu primeiro dia de visita a Portugal, visitou no Porto e em Braga “projetos que foram financiados com fundos europeus”. “Um país como Portugal quer convergência com os Estados-membros da União Europeia. Temos interesse que haja essa convergência, porque caso contrário muitos dos benefícios, como livre circulação, são sempre postos à prova. Temos interesse no desenvolvimento comparável nos países”, comentou.

No encontro, os dois governantes abordaram os desafios que a União Europeia enfrenta, quando se prepara um Conselho Europeu, no final de junho, mas também a situação internacional foi discutida por Costa e Merkel. “Também temos desafios externos, no que diz respeito aos conflitos na Líbia, Síria ou Ucrânia”, disse Merkel, defendendo a necessidade de a Europa ter aqui “um papel cada vez mais ativo”.

Além disso, sublinhou, Portugal como “país de navegadores e que sempre pensou de forma global”, introduz uma perspetiva que a Alemanha, “como país mais a leste, não pode ter”, acrescentou a chanceler. “É de grande interesse também falar sobre África, é um grande desafio para nós enquanto continente vizinho”, disse a governante, comentando que “as iniciativas quanto ao desenvolvimento em África ainda não são tão dinâmicas como é desejável”.

“Gostei muito de conhecer o Porto. Este país é muito bonito”

O encontro com Costa que marcou o fim da visita de dois dias a Portugal. A governante alemã afirmou a sua satisfação por “conhecer um pouco mais de Portugal”.

A minha presença no Porto foi muito satisfatória. A beleza deste país já é conhecida por muitos turistas alemães”, comentou.

António Costa esteve reunido a sós com Angela Merkel no Palácio Foz. O encontro foi posteriormente alargado às comitivas. O primeiro-ministro português já tinha estado com a chanceler alemã em Braga – no novo Centro de Investigação e Desenvolvimento da Bosch e no I3S – e no Porto — no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde.

Além do encontro com o primeiro-ministro e com o presidente do PSD, Rui Rio, a chanceler alemã, Angela Merkel, reuniu-se ao início da manhã com o Presidente da República, no Palácio de Belém. Apesar de não ter havido declarações à comunicação social, Merkel fez questão de assinar o livro de honra do Palácio de Belém e de seguida decorreu uma curta reunião com Marcelo Rebelo de Sousa.

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