“O Workshop”

Os melhores filmes do francês Laurent Cantet são, tal como “A Turma”, que lhe deu a Palma de Ouro em Cannes há 10 anos, histórias de grupos em que a conversa, o diálogo, a interacção verbal, seja cordial, seja conflituosa, definem as personagens, estabelecem-lhes a psicologia, dão forma ao drama e lançam as situações narrativas. Ao citado “A Turma” e a “Regresso a Ítaca” (2014), junta-se agora “O Workshop”, escrito mais uma vez com Robin Campillo. Cantet utiliza um grupo de adolescentes de La Ciotat, em Marselha, e a escritora parisiense de livros policiais que lhes vem dar um workshop estival de escrita, para expôr as tensões, os medos e as divisões da França de hoje, alvo preferencial do terrorismo islâmico e país em crise de identidade e de soberania.

Marina Fois, no papel de Olivia, a escritora insegura e vulnerável a críticas, e Matthieu Lucci, personificando Antoine, o rapaz solitário, inteligente e amigo de provocar, destacam-se no elenco deste filme escrito com regra e esquadro e de um realismo ao alcance da mão, que foge a caracterizações esquemáticas, juízos de valor tendenciosos e moralismos confortáveis. Só é pena que Cantet e Campillo não evitem o tique típico da esquerda bem-pensante de diabolizar a direita anti-sistema.

“Cabaret Maxime”

O português Bruno de Almeida filma em Lisboa como se estivesse em Nova Iorque, servindo-se do Cais do Sodré como um cenário americano, para contar a história do proprietário de um clube noturno decadente e da sua “família” de fiéis funcionários e artistas excêntricos. Uma bela noite, vêem chegar o “progresso” e a “gentrificação”, representados por um trio de mafiosos que abre um clube de strip na zona e começa a intimidar os proprietários dos estabelecimentos noturnos vizinhos, ao mesmo tempo que o seu senhorio, feito com estes, sobe as rendas para valores incomportáveis.

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“Cabaret Maxime” tem fumos de série B policial e urbano-notívaga como as de Abel Ferrara, acena a títulos de John Cassavetes como “A Morte de um Apostador Chinês” e é interpretado pelos habitués das fitas de Bruno de Almeida, como Michael Imperioli, John Ventimiglia, Drena De Niro ou Nick Sandow, vários deles conhecidos de “Os Sopranos”, bem como por Ana Padrão, Celeste Rodrigues e Manuel João Vieira, que foi sócio do realizador no defunto Maxime, à Praça da Alegria, em vias de ser mais um hotel (quaisquer semelhanças com o filme não são coincidência).

“Sou Sexy, Eu Sei!”

No seu terceiro filme de destaque depois de “Descarrilada” e “Olha Que Duas”, a comediante de stand-up e atriz Amy Schumer interpreta Renee Bennett, uma mulher “normal”, sem namorado, com amigas iguais a ela, um grande problema de auto-estima (agravado pela frequência de um ginásio que parece ter apenas top models como sócias) e um emprego anónimo numa empresa de cosméticos de luxo de Nova Iorque.

Uma noite, em desespero, e depois de ver “Big” na televisão, Renee vai pedir um desejo a uma fonte. Na manhã seguinte, cai da bicicleta no ginásio, bate com a cabeça, desmaia, e quando acorda, convence-se que está transformada numa mulher lindíssima e “sexy” e começa a viver nessa ilusão. Escrito e rodado por Marc Silverstein e Abby Kohn, argumentistas que se estreiam aqui a realizar, “Sou Sexy, Eu Sei!” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.