O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, deu uma série de entrevistas a media alemães este sábado onde recuou nas críticas aos italianos, que tinha feito dois dias antes. “Não quero alimentar as acusações espalhadas pelos populistas, de que estamos sentados em Bruxelas a interferir nos assuntos de Itália”, afirmou. “Tenho a certeza que os italianos têm um sentido aguçado para o que será bom para o seu país. Eles vão resolver o assunto.”

As declarações foram feitas este sábado e parecem ter sido uma tentativa de Juncker para emendar as críticas que deixou a Roma na quinta-feira passada. As declarações “os italianos têm de tratar das regiões pobres de Itália. Isso significa mais trabalho, menos corrupção, seriedade” não foram bem recebidas por muitos em Itália. Foi o caso, por exemplo, do Il Giornale (jornal de Milão, da família Berlusconi) que titulou “Juncker insulta agora Itália” e também da edição italiana do Huffington Post, que classificou o presidente da Comissão Europeia como estando “sem freios”.

As afirmações de Juncker surgiram no mesmo em dia em que foi conhecido um novo acordo de Governo entre os dois partidos antissistema e críticos das políticas europeias, Movimento 5 Estrelas e Liga. Na sexta-feira, o primeiro-ministro Giuseppe Conte tomou posse.

Este sábado, Juncker adotou outro tom nas entrevistas à RedaktionsNetzwerk e ao Funke Mediengruppe. O presidente da Comissão insistiu na ideia de que Roma não tem razões de queixa da União Europeia (UE), mas deixou uma mensagem diferente. “Os italianos não se podem queixar de austeridade vinda de Bruxelas. Introduzi cláusulas de flexibilidade no Pacto de Estabilidade e Crescimento e Itália foi o único país que beneficiou disso”, começou por dizer.

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“Contudo, não quero dar um sermão a Roma. Temos de tratar Itália com respeito. Demasiados sermões foram dados à Grécia no passado, em especial da parte de países onde se fala alemão. Isto foi um golpe na dignidade do povo grego. Não podemos deixar que aconteça o mesmo em Itália.”

Relativamente às ideias eurocéticas defendidas por alguns membros do novo Executivo italiano, Juncker desvalorizou qualquer ameaça à zona euro, classificando a reação dos mercados como “irracional”. “Os investidores já se enganaram muitas vezes no passado”, acrescentou.

Quanto às alegações de que a UE teria de alguma forma interferido nas negociações para formar Governo em Itália, Juncker negou qualquer tipo de conversa com o Presidente italiano, Sergio Mattarella, mas não escondeu que teve vontade de o fazer. “Não interferi, embora tenha estado tentado a fazê-lo”, admitiu. O presidente da Comissão ainda acabou por se queixar de toda a situação: “Se me mantenho de fora, não estou a ajudar. Se me envolvo, não estou a ajudar. Estou entre a espada e a parede”, lamentou.