Seis pessoas morreram este sábado na Nicarágua, na sequência da violência que tem abalado o país nas últimas semanas. Cinco delas foram mortas na pequena cidade de Masaya, onde os manifestantes procuraram refúgio em vários locais como numa igreja, alegando que as forças policiais utilizaram balas reais, com snipers a efetuar disparos nas ruas.

A Associação da Proteção de Direitos Humanos da Nicarágua (ANPDH) confirmou à Agência France Press que cinco pessoas foram mortas na cidade, entre elas um rapaz de 15 anos. “Estamos a enfrentar uma situação de crise profunda em termos de violação de direitos humanos”, afirmou o responsável do grupo Álvaro Leiva.

Nessa mesma noite, um cidadão de origem norte-americana, Sixto Henry Vieira, foi morto na capital Manágua, alegadamente por milícias populares pró-Governo. A embaixada dos Estados Unidos confirmou a morte de Vieira através do Twitter.

Um dos manifestantes mortos em Masaya, Donald Ruíz, tinha 22 anos. De acordo com o que testemunhas no local disseram ao jornal El Nuevo Diario, Donald estava entrincheirado na igreja de San Miguel, onde vários manifestantes procuraram refúgio, quando uma mulher “vestida de negro” terá efetuado um disparo que lhe acertou no peito. Foi o caso de Jonathan Jose que disse à AFP não ter dúvidas sobre a origem do tiro: “Foi um sniper. Basta ver pelo tamanho do buraco da bala”, disse.

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Também o bispo auxiliar de Manágua, Silvio José Báez, alertou para a presença de atiradores furtivos na cidade. “Peço às pessoas da minha cidade de Masaya que não saiam à rua”, pediu no Twitter.

Masaya é uma pequena cidade de cerca de mil habitantes com um passado de apoio ao movimento sandinista, do qual o Presidente Daniel Ortega faz parte. No entanto, é agora um dos palcos dos protestos contra o chefe de Estado da Nicarágua, que duram desde abril, quando foram anunciados cortes às pensões e aos apoios sociais.

Ortega acabaria por recuar na decisão, mas os protestos não abrandaram — em vez disso, transformaram-se em resistência ao próprio Presidente, que domina a política do país há décadas. Antigo guerrilheiro sandinista, Ortega liderou o país de 1979 a 1990 como coordenador da Junta de Reconstrução Nacional e depois como Presidente. Em 1990 perdeu as eleições presidenciais para Violeta Chamorro, mas regressou ao poder em 2007. Em 2014 levou a cabo alterações constitucionais para acabar com as limitações de mandatos do Presidente. O mandato atual termina apenas em 2022.

Os protestos que abalam a Nicarágua há seis semanas têm resultado em violência. Ao todo, mais de 100 pessoas morreram. Só na passada quarta-feira, 18 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas quando uma marcha liderada por mães de vítimas foi atacada por homens armados.

Ortega acusa a direita de colocar “delinquentes” infiltrados nos protestos para provocar distúrbios. Mas várias organizações como a Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos ou a Amnistia Internacional alertam para o uso de “força excessiva” por parte de “forças de segurança do Estado e de terceiros, armados”.

As conversações entre Governo e oposição que decorriam há várias semanas, com mediação da Igreja Católica, colapsaram na semana passada.