As opiniões dos senadores socialistas espanhóis dividem-se sobre quando é que Pedro Sánchez devia convocar eleições para se legitimar nas urnas: já este ano? No início de 2019? No fim do próximo ano? Certo é que, depois de uma moção de censura que deitou abaixo o governo do PP de Mariano Rajoy e deu posse a uma espécie de “geringonça” encabeçada pelo líder do partido socialista espanhol, Espanha vive uma experiência governativa inédita e há mais dúvidas do que certezas.

Mas enquanto a opinião pública e política se habitua à ideia, Pedro Sánchez não perde tempo e já tem uma agenda preenchida: esta segunda-feira recebe o presidente da Ucrânia no Palácio de Moncloa, e até ao fim do ano vai pelo menos quatro vezes a Bruxelas, onde se reunirá não só com as personalidades de topo das instituições europeias, nem só com os chefes de Estado dos Estados-Membros da UE, mas onde se reunirá também com o presidente dos EUA, Donald Trump.

De acordo com o El Mundo, além da receção ao presidente ucraniano Petró Poroshenko, a primeira visita oficial de Sánchez enquanto chefe do governo espanhol não será nenhuma visita bilateral (ou seja, não será uma visita/reunião a dois), mas será sim a Bruxelas: a visita acontecerá a 28 e 29 de junho, para participar naquela que será a sua primeira reunião de chefes de Estado e de Governo da União Europeia. O encontro servirá para abordar o futuro da união económica e monetária, um tema que, no discurso da moção de censura, Sánchez prometeu debater primeiro no Parlamento antes de levar uma posição a Bruxelas.

Duas semanas depois desse encontro, Sánchez voltará a Bruxelas a 11 e 12 de julho para integrar outra cimeira, desta vez também com os países-membros da NATO. É nesse âmbito que o novo chefe do governo espanhol se vai reunir pela primeira vez com o presidente norte-americano Donald Trump, que fez saber este sábado que está disponível para colaborar com o novo governo espanhol que deitou abaixo Rajoy. Até ao fim do ano Pedro Sánchez ainda voltará a Bruxelas pelo menos mais duas vezes: em outubro e em dezembro, para reuniões do Conselho Europeu.

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Enquanto isso, ficam por agendar as reuniões bilaterais habituais, que se realizam anualmente, nomeadamente com o primeiro-ministro português, António Costa (que já veio dizer que a reunião estará para breve), bem como com o chefe de Estado francês. Incerta é sobretudo a habitual ida a Marrocos, que é, por tradição, a primeira viagem ao estrangeiro de todos os chefes de governo espanhóis: Sánchez ainda não decidiu se vai manter a tradição, cumprida até aqui por Felipe González, José María Aznar, Zapatero e Mariano Rajoy.

António Costa já falou com Pedro Sánchez e combinaram encontro para breve

A agenda de Pedro Sánchez segue a todo o gás, mas em território espanhol as dúvidas permanecem. Com apenas 84 deputados de um total de 350, o PSOE de Sánchez teve de pedir apoio à extrema-esquerda, aos partidos separatistas e aos partidos nacionalistas para, como uma manta de retalhos, conseguir superar aritmeticamente os 176 votos necessários para fazer cair Rajoy (que nas últimas eleições não conseguiu recuperar a maioria absoluta, ficando com 137 deputados). Os números chegaram para Sánchez se tornar chefe do Governo, resta saber se chegam para governar. De acordo com o El País, entre os barões socialistas há muitas dúvidas sobre a melhor altura para convocar eleições e legitimar um governo saído de uma moção de censura.

Como Costa inspirou Sánchez para uma geringonça que saiu Frankenstein

Para a maior parte dos governos autónomos espanhóis, o governo nacional é débil: “A oposição ao Governo pode vir não só do PP e do Ciudadanos, mas de todos os lados”, alerta um dirigente regional citado pelo El País, afirmando que essa fragilidade parlamentar deve ser superada com eleições o quanto antes. “O melhor seria eleições ainda este ano, no outono. Este é um governo sem apoio”, diz a mesma fonte. Outros apontam as eleições para o final do ano, já que com o verão no meio, “não haverá tempo para nada até lá”. Certo é que os dirigentes regionais estão preocupados com as forças políticas independentistas, que ajudaram Sánchez a formar este governo, e que agora podem querer algo em troca. “Não pode haver contrapartidas”, diz um representante de uma comunidade autónoma.