Nove mil quilómetros. É esta a distância que separa Tóquio de Los Angeles e que o francês Ben Lecomte começou a percorrer esta terça-feira. Mas o percurso vai ser feito a nado. O objetivo é alertar para a poluição ambiental.

No Dia Mundial do Meio Ambiente, o nadador de 51 anos ambiciona ser a primeira pessoa a atravessar a nado o Oceano Pacífico. Serão oito horas diárias, durante 180 dias, em que Ben Lecomte vai nadar pela chamada “Ilha de Lixo do Pacífico”, caracterizada por águas cobertas de resíduos e plásticos, com o objetivo de alertar para a consciencialização sobre o problema da poluição plástica nos oceanos e o risco que representa a nível mundial.

O percurso de Ben Lecomte começa em Tóquio e termina em Los Angels. São nove mil quilómetros no total.

Apesar de nadar sozinho, Lecomte vai estar acompanhado por mais seis pessoas, transportadas num iate de apoio, que o vão recolher ao fim das oito horas diárias de percurso. A equipa vai também recolher e estudar amostras com ajuda de 12 instituições, incluindo a NASA, a Woods Hole Oceanographic Institution e a Universidade do Texas. A equipa de investigadores vai analisar de que forma é que a poluição de plástico se mistura com as cadeias alimentares dos animais e, provocando, muitas vezes, a sua morte.

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Lecomte vai utilizar um fato de neoprene, um monitor cardíaco, uma pulseira que serve de repelente para afastar os tubarões e um dispositivo que calcula os níveis de radioatividade da água. Os investigadores vão estudar os efeitos da poluição, mas também o efeito do exercício extremo no coração do atleta.

Antes de partir nesta viagem, Lecomte praticou diariamente natação em águas abertas e fez exercícios de visualização e dissociação para garantir que está pronto a nível mental. “A componente mental é muito mais importante que a física”, disse o nadador à AFP, citado pela BBC News. “É preciso garantir que vou estar sempre a pensar em algo positivo”, referiu, acrescentando que “quando não há nada para ocupar a mente, entra-se numa espécie de espiral e aí é que os problemas começam”.

Esta não é a primeira vez que Ben Lecomte se aventura pelos oceanos. Em 1998, o nadador foi a primeira pessoa a atravessar o Oceano Atlântico a nado, depois de 6.400 quilómetros percorridos em 73 dias. “Nunca mais”, foram as últimas palavras de Ben quando chegou a França, disse numa entrevista a Oprah Winfrey. No entanto, o tempo mudou as suas ideias: “Três ou quatro meses depois já estava a pensar na próxima aventura”.

Uma ilha de lixo de 80.000 toneladas no Pacífico

O caminho percorrido por Lecomte vai passar pela chamada “Ilha de Lixo do Pacífico”, localizada entre a costa californiana e o Havai. Os estudos indicam que só neste pedaço de oceano, que tem o triplo da dimensão da França, estão cerca de 80.000 toneladas de plástico na superfície, o que constitui a maior acumulação de plástico a nível mundial.

“A verdade é que a situação é bastante pior. O oceano está cheio de microplásticos. Em vez de ser uma ilha de lixo é uma espécie de poluição de plástico ao longo do oceano”, acrescentou o atleta.

Segundo os dados revelados na página do projeto (“The Longest Swim”), todos os anos entram no oceano entre 1,15 e 2,41 milhões de toneladas de plástico. Mais de metade deste plástico é menos densa do que a água, o que significa que fica a flutuar à superfície do mar.

Ben Lecomte aprendeu a nadar no oceano quando tinha cinco anos: “É por isso que o ambiente e o estar dentro de água tem sido muito importante para mim ao longo da minha vida. E agora que sou pai olho para isto como uma forma de fazer alguma coisa pelo futuro dos meus filhos”, concluiu.