Se o futebol fosse matemática, era 100% garantido que, com Bruno de Carvalho na presidência, o próximo treinador do Sporting seria português. Verdade seja dita, era até provável que fosse… Jorge Jesus: o líder leonino apostou muito no ex-técnico do rival encarnado, que somara três Campeonatos, uma Taça de Portugal, cinco Taças da Liga e uma Supertaça em seis anos na Luz. No entanto, o risco da operação trouxe bons resultados financeiros através da realização de mais valias mas nem por isso no plano desportivo, com apenas uma Supertaça e uma Taça da Liga em três épocas. E é por isso que a hipótese de chegar um estrangeiro a Alvalade pode ganhar força.

Recuperando a temporada de 2012/13, que começou com Godinho Lopes na presidência e acabou já como Bruno de Carvalho como líder, Jesualdo Ferreira era o treinador de um plantel desmotivado, mutilado de referências e com a necessidade de lançar jovens valores da formação nem tanto por opção mas mais por necessidade. No final da temporada, o presidente verde e branco, que nas eleições de 2011 tinha como opção o holandês Marco van Basten (e Inácio como diretor geral do futebol, como voltou agora a acontecer) e em 2013 recusou falar sobre os planos que teria no epílogo do Campeonato, mexeu no comando técnico e lançou Leonardo Jardim num ano de contenção.

Leonardo Jardim esteve um ano em Alvalade, qualificando a equipa para a Liga dos Campeões (MIGUEL RIOPA/AFP/Getty Images)

O madeirense que hoje continua a dar milhões ao Mónaco (ainda recentemente Fabinho, que até tinha passado por Portugal, transferiu-se para o Liverpool por 50 milhões de euros) teve uma temporada muito positiva nos leões, que passaram do sétimo lugar (o pior na história do clube) para a segunda posição apenas atrás do Benfica de Jesus, alcançando o acesso direto à Liga dos Campeões numa equipa onde foram lançados valores como William Carvalho, a grande revelação da época. No final, Jardim rumou aos monegascos por três milhões de euros, tornou-se o técnico que maior encaixe deu ao conjunto verde e branco e foi substituído por Marco Silva.

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Marco Silva acabou a vencer a Taça uma passagem atribulada por Alvalade (PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP/Getty Images)

O antigo responsável do Estoril, que teve uma subida meteórica na carreira de treinador sempre pelos canarinhos, chegou a ser apontado ao FC Porto, sobretudo depois da saída de Paulo Fonseca. E, para prevenir o que se passara com Jardim, acabou por assinar um contrato de longa duração com o Sporting. No entanto, ainda na primeira metade da temporada, a relação com Bruno de Carvalho estava demasiado degradada, arrastando-se depois o clima de paz podre mais ou menos disfarçado até ao final da temporada, que terminou com uma fantástica conquista da Taça de Portugal frente ao Sp. Braga nos penáltis, após empate nos últimos minutos do tempo regulamentar (golos de Slimani e Montero). A 5 de junho, Marco Silva caiu e Jorge Jesus foi apresentado.

Bruno de Carvalho apostou forte em Jesus mas não conseguiu ser campeão (JOSE MANUEL RIBEIRO/AFP/Getty Images)

A contratação do antigo treinador do Benfica já andava a ser falada em surdina uns dias antes, mas ainda havia alguns que não acreditavam ser possível uma manobra daquela envergadura. Aconteceu mesmo. No entanto, com o maior contrato de sempre de um treinador no clube (ou SAD, de forma mais concreta), Jesus conseguiu manter o dedo de Midas em relação aos ativos que rentabilizava para vendas (como João Mário ou Slimani) mas ficou abaixo do esperado a nível de conquistas, com uma Taça da Liga e uma Supertaça em três épocas. Também por isso e não só, acabou por dar outro rumo à carreira. E agora, quem se segue?

Pela lógica e pela marca que tem definido o projeto desportivo de Bruno de Carvalho no futebol, o Sporting deveria escolher um português e já surgiram alguns nomes na imprensa especializada que tinham a vantagem de conhecer bem a realidade do futebol nacional. Entre essa lista encontra-se Ricardo Sá Pinto (que deixou o Standard de Liège no final da época após ter ganho a Taça da Bélgica), e Miguel Cardoso (que teve um ano muito positivo pelo Rio Ave, a nível de futebol e resultados, mas que estará também a ser cobiçado por dois clubes da Ligue 1 de França). Fugindo um pouco a este protótipo em Alvalade encontra-se Rui Faria, adjunto de José Mourinho durante mais de 15 anos que vai arriscar uma carreira a solo e que sempre foi um técnico bem visto em Alvalade.

No entanto, de acordo com informações recolhidas pelo Observador, a hipótese de haver um técnico estrangeiro no Sporting (algo que não acontece desde Frank Vercauteren, uma das últimas apostas de Godinho Lopes em 2012) ganha agora uma outra força. E aqui abrem-se duas vias possíveis: ou a aposta num treinador com experiência internacional e reconhecido trabalho no desenvolvimento de jovens talentos, apontando até para uma escola que já foi aposta de Bruno de Carvalho e Inácio em 2011 como a holandesa (os nomes de Peter Bosz e Frank de Boer chegaram a correr durante o dia, sem qualquer confirmação ou indicação do clube); ou a escolha de um nome mais experiente e com maior currículo que pudesse estar acima de qualquer dúvida – o jornal Record avança com o nome de Luiz Felipe Scolari, que teve nos últimos tempos uma passagem de sucesso pela China.

Uma coisa é certa: quando faltam pouco mais de duas semanas para o regresso aos trabalhos, o Sporting não tem treinador depois de Jorge Jesus ter sido confirmado pelo Al-Hilal. E além da urgência de resolver a questão por causa do timing da mesma, existe também a noção de que qualquer escolha feita nesta altura em Alvalade será sufragada ao limite, pelo que esta poderá ser uma decisão importante também em termos da própria SAD.