A tomada de posse dos 17 ministros do novo Governo socialista espanhol ficou marcada pela expressão utilizada pela grande maioria dos ministros na cerimónia: “Conselho de ministras e ministros”, substituindo a habitual forma “Conselho de ministros”. É um pormenor que condiz com a composição deste Executivo do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE): em 17 ministros, 11 são mulheres.

A velha formulação “Conselho de ministros” só foi utilizada por quatro governantes: Dolores Delgado (Justiça), Josep Borrell (Negócios Estrangeiros), José Luis Ábalos (Obras Públicas) e Nadia Calviño (Economia). A partir do momento em que Carmen Calvo, nova vice-presidente e ministra da Igualdade, deu o mote, a maioria seguiu a expressão “ministras e ministros”.

O novo primeiro-ministro, Pedro Sánchez, tinha prometido um Governo “comprometido com a igualdade” e assim fez. Com 11 mulheres no cargo de ministras, Espanha é agora um dos países do mundo com mais mulheres a ocupar esse cargo, ultrapassando até o governo sueco, onde 15 em 30 ministérios são liderados por mulheres.

Governo de Sánchez tem mais mulheres do que homens porque está “comprometido com a igualdade”

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Esse compromisso foi reforçado pela ministra da Igualdade na sua tomada de posse. “Este é um Governo que tem de trabalhar para diminuir as desigualdades e conseguir maior igualdade, que nos afeta a todos, homens e mulheres”, declarou. Na passagem de pastas, Calvo também aproveitou para elogiar a sua antecessora na vice-presidência, também ela uma mulher — Soraya Sáenz de Santamaría, por quem Calvo disse ter “alta estima pessoal e intelectual”, segundo conta o El País.

A tomada de posse dos novos ministros ficou ainda marcada pelo facto de, à semelhança do que aconteceu com a tomada de posse do primeiro-ministro Pedro Sánchez, não ter havido nem crucifixo nem Bíblia na sala. Os 17 novos ministros apenas tomaram posse prometendo respeitar a Constituição espanhola.

A cerimónia foi ainda marcada por alguns momentos insólitos, como aponta o La Vanguardia: a titular da pasta da Economia, Nadia Calviño, engasgou-se na palavra “deliberações” (o que a fez rir-se) e o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Borrell, quase quebrava o protocolo ao esquecer-se de regressar de imediato ao seu lugar depois da tomada de posse.

Um cartoon premonitório, um ministro astronauta e um responsável pelo Desporto que não gosta de desporto

Várias curiosidades têm sido destacadas a propósito deste Executivo, a começar pelo seu compromisso com a paridade. A propósito desse tema, o jornal El País destaca um cartoon que publicou a 1 de março de 1994 e que parecia ser premonitório. Na caricatura podem ver-se várias mulheres sentadas com as suas canetas à frente, em cima da mesa, e uma bandeira ao lado. Na legenda lê-se: “As ministras da Cultura, Saúde, Educação, Assuntos Sociais e Aeróbica de todo o mundo querem ser ministras dos Negócios Estrangeiros, Interior, Economia, Indústria e Marinha de Guerra.”

A ideia do cartoon do artista Máximo, escreve o El País, é a de que o “clima do momento” era o de atribuir às mulheres ministérios que “tinham uma espécie de corte feminino tradicional por implicaram exercer cuidados, ocupar-se de crianças ou doentes ou tratar do entretenimento e dos tempos livres”. Neste novo Governo, 24 anos depois, há de facto várias mulheres à frente de pastas tradicionalmente atribuídas a homens, como é o caso da Economia (Nadia Calviño), Finanças (Maria Jesús Montero), Justiça (Dolores Delgado) e Indústria (Reyes Maroto).

Do lado dos homens, há escolhas surpreendentes. Para o Ministério do Interior foi nomeado pela primeira vez um homem assumidamente gay, Fernando Grande-Marlaska. Para a Ciência foi escolhido um antigo astronauta, Pedro Duque, que esteve em órbita em 1998, através da Agência Espacial Europeia.

Pela primeira vez, há um ministro assumidamente gay em Espanha

A escolha até agora mais insólita foi a do ex-jornalista Màxim Huerta, nomeado para o cargo de ministro da Cultura e do Desporto. Tudo porque, como destaca o jornal desportivo Marca, Huerta já deixou claro no seu Twitter que não aprecia muito uma das pastas sobre a qual tem agora responsabilidades: “Umberto Eco: ‘odeio os desportistas’. Eu, o desporto. Que maneira de sobrevalorizar o físico!”, escreveu em 2010. No Twitter do novo ministro do Desporto é ainda possível encontrar outras referências a essa matéria: Huerta garante que não percebe muito de futebol, mas deixa claro que torce sempre pelo Barcelona.

https://twitter.com/maximhuerta/status/12878276730