Um relatório a que o jornal alemão Bild am Sonntag teve acesso revela que as autoridades alemãs descobriram cinco sistemas de manipulação das emissões de gases poluentes nos motores diesel da Mercedes-Benz. A descoberta, tal como já aqui escrevemos, deveu-se a suspeitas da agência de regulação dos transportes da Alemanha, a KBA, de que resultou uma investigação aos propulsores Euro 6 da Daimler.

Embora o relatório apontasse para, pelo menos um milhão de carros equipados com software ilegal, da reunião de ontem entre o CEO da Daimler, Dieter Zetsche, e o ministro alemão dos Transportes, Andreas Scheuer, o número que saiu foi outro: 774.000 Mercedes vão ser chamados às oficinas, a fim de regularizar o funcionamento dos respectivos motores. Em causa estão os Classe C (220d), GLC (220d) e o furgão Vito (109/111 CDI), todos eles com motores diesel Euro 6, norma introduzida em 2014.

Sucede que, de acordo com a KBA e conforme relatado pelo Bild am Sonntag, estes motores desactivam os mecanismos de controlo antipoluição passado um tempo definido – algures entre os 1.200 e os 2.000 segundos, ou seja, 20 a 33 minutos. Aparentemente, essa desactivação faz-se sem atender às circunstâncias da condução, sendo certo que qualquer prova de homologação faz-se antes desse período, o que leva as autoridades alemãs a suspeitarem que essa terá sido mesmo a intenção da Daimler: manipular as emissões.

Porém, ao contrário da Volkswagen, que assumiu as suas culpas e está a pagar a por isso, a Mercedes não reconhece que recorreu a dispositivos fraudulentos. Isto, embora acabe de anunciar a chamada às oficinas de 774.000 veículos. E porquê? A posição oficial do fabricante apoia-se numa zona cinzenta da legislação que, efectivamente, permite que um diesel moderno possa desactivar momentaneamente sistemas de controlo antipoluição. Mas só se, por razões de natureza mecânica, tal for recomendado, em função da leitura que a unidade de gestão do motor (ECU) faz dos diferentes sensores que tem de processar. Isso é legal. O que não é legal é quando isso acontece sistematicamente ou, pura e simplesmente, a fim de ter “boa nota” nos testes de homologação – o que implica uma programação específica para cometer essa fraude.

Na Alemanha, o Vito foi a ponta do icebergue, mas o grosso dos recalls incidirá nos Classe C e GLC. Dos 774.000 veículos que serão chamados, 238.000 encontram-se nesse país. A Mercedes Portugal, ao que o Observador apurou, não faz ainda ideia de quantas unidades serão chamadas, tudo apontando para que a irregularidade possa ser resolvida com uma intervenção que pode levar entre meia a uma hora. Salvo se houver necessidade de alguma intervenção mecânica, o trabalho consistirá apenas numa reprogramação da ECU. Desconhecem-se os efeitos, em termos de consumo e de prestações ou, mais a longo prazo, da própria fiabilidade do motor.

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