A coordenadora do Bloco de Esquerda considerou esta terça-feira que a proposta que os sindicatos dos professores apresentaram ao Governo é “bastante possível de acomodar”, fazendo “justiça ao tempo de serviço” daqueles profissionais e sendo financeiramente “compaginável”.

“Os sindicatos já fizeram uma proposta ao Governo que nos parece bastante possível de acomodar”, afirmou Catarina Martins, no Porto, à margem de uma visita ao Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

Para a coordenadora do BE, a proposta dos sindicatos vai ao encontro do que já foi feito anteriormente, nomeadamente no governo de António Guterres, e “parece” ser “bastante razoável”.

“A proposta faz justiça ao tempo de serviço dos professores, sendo também compaginável com o esforço das contas públicas”, frisou Catarina Martins, relembrando que o partido já entregou hoje um requerimento para que o Governo “mostre os estudos e as contas de quanto custaria esta proposta dos sindicatos”.

A 18 de novembro, o Governo e os sindicatos dos professores chegaram a um princípio de entendimento para o descongelamento e progressão nas carreiras, mas os termos e condições de concretização ficaram dependentes de negociações específicas, com início a 15 de dezembro, e que se arrastaram ao longo dos últimos meses, sem os resultados esperados pelos sindicatos e com uma inversão no discurso que gelou expectativas, mas descongelou a luta sindical.

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O processo culminou com a declaração pública, a 4 de junho, do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que deu as negociações com os sindicatos sobre esta matéria por terminadas, sem que se tivesse chegado a acordo, e retirou de cima da mesa a proposta que o executivo foi afirmando ao longo de meses ser o mais longe que poderia ir, mas que os sindicatos nunca estiveram dispostos a aceitar: recuperar apenas dois anos, nove meses e 18 dias de tempo de serviço.

Mas um dia depois, no debate quinzenal no parlamento, o primeiro-ministro, António Costa, desdisse o seu ministro e voltou a abrir a porta às negociações, dizendo que se os sindicatos estivessem disponíveis para voltar à mesa negocial, a proposta do executivo continuava em cima da mesa.

Nem greves regionais em março, nem uma grande manifestação nacional que em maio levou para a avenida da Liberdade, em Lisboa, mais de 50 mil professores, demoveu o Governo que recusa ir além da sua proposta, acusando os sindicatos de intransigência negocial.

O custo do descongelamento das carreiras dos docentes é um dos maiores pontos de discórdia entre Governo e sindicatos. Segundo números do Governo, um descongelamento total e imediato teria um custo de 650 milhões de euros (ME). Estes números foram várias vezes repetidos pelo Governo, mas desmentidos pelos sindicatos.

Em fevereiro passado, em resposta a valores apresentados aos jornalistas pelo Governo sobre o custo do descongelamento das carreiras dos professores, os sindicatos vieram contrapor outros.

Dando o exemplo do faseamento em vigor para a função pública, que só em dezembro de 2019 recebe o valor correspondente ao descongelamento na íntegra, o líder da Federação Nacional dos Professores, Mário Nogueira, apontou que nas contas da Fenprof, “feitas por alto”, partindo sempre do princípio que todos os professores em condições de progredir de escalão nesse ano progridem em janeiro, o que não acontece, a despesa em 2019 será de cerca de 22 ME, quase 60 ME abaixo dos 80 ME estimados pelo Governo.

Catarina Martins lembrou ainda que “o Orçamento do Estado diz que o tempo de serviço deve contar, mas que o Governo negoceia o faseamento do descongelamento da carreira”.

No requerimento que hoje entregou, o BE quer saber o impacto orçamental segundo a proposta apresentada pelos sindicatos dos professores “de recuperação integral faseada do tempo de serviço congelado, num total de nove anos, quatro meses e dois dias”.

Segundo o documento do grupo parlamentar bloquista, “têm sido avançados pelas partes [governo e sindicatos] diferentes números relativos ao impacto orçamental da recuperação integral do tempo de serviço congelado que importa conhecer e avaliar”.

O partido quer também conhecer o impacto perante o “cenário apresentado pelo Governo de recuperação integral do tempo de serviço, incluindo impacto do faseamento previsto para o descongelamento das carreiras da Administração Pública”.