Há ameaças e ameaças e esta, de multar uma empresa em 3,75 mil milhões de euros, faz estremecer qualquer um, especialmente se for acionista ou pertencer à administração, como é o caso. O novo ministro alemão dos Transportes, Andreas Scheuer, que assumiu o lugar apenas em Março, está apostado em ‘limpar a casa’, pelo menos no que respeita aos fabricantes de automóveis que não respeitam as regras do jogo. Scheuer, um protegido da Angela Merkel e membro do partido conservador CSU, começou por deixar bem clara, logo de início, a sua posição: “Não sou amigo dos patrões da indústria automóvel”, declarou.

Sem citar fontes, o sempre bem informado Siegel, especialmente no que toca a assuntos que digam respeito à realidade alemã, informou que Scheuer convidou o CEO da Daimler, o grupo que é liderado pela Mercedes, para uma reunião à porta fechada no ministério. O tema era decidir não se a Mercedes tinha comercializado furgões e automóveis equipados com software ilegal nos motores diesel, mas sim em quantas unidades é que esses motores foram instalados. Na reunião e de acordo com o Spiegel – e noticiado pela Reuters –, foi decidido que seriam no mínimo 750.000 veículos (valor que entretanto subiu para 774.000), o que de acordo com a recém-aprovada lei europeia permite que o fabricante seja multado por uma determinada quantia por cada unidade ilegal comercializada. Andreas Scheuer estimou o valor em 5.000 euros por veículo, o que atira a potencial multa que pesa sobre a Daimler para 3,75 mil milhões de euros.

774.000 Mercedes “apanhados” com engenhos ilegais

Um porta-voz do ministério confirmou por email a reunião, bem como o tema, informando que o membro do governo alemão e o patrão da Daimler acordaram definir uma série de pormenores complexos relacionados com as emissões, bem como o número de unidades que necessitam de ser reparadas. Isto acontece no seguimento dos contactos mantidos em Maio, após a agência que regula os transportes na Alemanha (KBA) ter ordenado à Daimler o recall de um número não especificado de furgões Mercedes Vito equipadas com motor diesel 1.6, que acusou de quebrarem os limites impostos para as emissões. A Daimler disse então que ia apelar em relação à decisão da KBA considerar o software ilegal e ameaçou defender-se em tribunal mas, depois, aceitou chamar cerca de 6.300 Vito à oficina. Isto foi apenas o início, pois desde então e segundo o relatório, mais de 80.000 veículos foram entretanto envolvidos pelo recall.

Ainda de acordo com o Spiegel, do problema dos furgões o diferendo evoluiu para os Mercedes Classe C e Classe GLC, o que originou a reunião da passada semana, sob a ameaça de Scheuer impor uma pesada multa ao grupo alemão. As conversações parecem evoluir satisfatoriamente – para o ministério, é claro – com um porta-voz da Daimler a afirmar que comprometeu-se com o ministro a manter a natureza das negociações confidenciais. Isto, contudo, não impede que existam accionistas da Daimler muito preocupados com o nível de exposição do grupo às penalidades, o que coloca o CEO da Daimler, Dieter Zetsche, sob pressão.

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