Quem olha para o clima de guerra aberta que se instalou no CDS, pode pensar que se trata de um partido grande. Pelo menos no distrito do Porto. Em causa estão as eleições para a distrital que, pela primeira vez, estão a ser disputadas em ambiente de confronto. Depois de uma primeira derrota nas eleições para a concelhia, em março, que foi conquistada por uma lista adversária à lista apoiada pela direção nacional, Cristas prepara-se para o derradeiro teste no Porto, já este sábado. De um lado está a lista encabeçada pela deputada e vice-presidente do partido Cecília Meireles, que conta com o apoio da cúpula do partido. Do outro lado, está uma lista encabeçada por Fernando Barbosa, homem “do terreno” que quer que o Porto deixe de ser uma “sucursal do largo do Caldas” e que o CDS deixe de ser dominado pelos “amigos” da cúpula nacional.

Depois de uma campanha tensa, as acusações seguem a todo o gás na véspera da ida às urnas: a lista de Fernando Barbosa queixa-se de parcialidade por parte da organização do ato eleitoral, garantindo ao Observador que não lhe foi dado acesso a todos os cadernos eleitorais com os nomes dos militantes do distrito, que foi alterado à última hora o local da votação na maior concelhia do distrito, Vila Nova de Gaia — afeta à candidatura de Barbosa — e que lhes foi negada a possibilidade de terem um maior número de mesas de voto para evitar filas e constrangimentos na hora da votação. As queixas, segundo apurou o Observador junto de fonte próxima da candidatura, já seguiram para a líder do partido e para o Conselho de Jurisdição, não tendo ainda recebido respostas.

A candidatura de Cecília Meireles, contudo, rejeita qualquer ligação à postura de maior ou menor parcialidade assumida por quem está a gerir o processo eleitoral e recusa “alimentar polémicas”. Em todo o caso, fonte próxima acusa a lista de Fernando Barbosa de estar a levantar a questão do acesso aos cadernos eleitorais apenas para “tentar criar sindicatos e bolsas de voto à pressa”.

Fernando Barbosa tem outra versão e  acusa a organização do processo eleitoral de lhe barrar o acesso às listas de militantes do distrito para efeitos de mobilização dos potenciais eleitores, acrescentando que mesmo depois de lhes terem sido facultados os dados, as listas só incluíam dados dos militantes do CDS no distrito, e não da Juventude Popular nem dos FTDC (federação dos trabalhadores democratas-cristãos), que também votam nas eleições distritais.

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De acordo com fonte da candidatura, as omissões nos cadernos eleitorais são cirúrgicas mas não são inocentes: não há informação sobre os membros da Juventude Popular de Gaia, “que apoia em peso a lista do Fernando Barbosa”, mas há informação sobre a JP do Porto, por exemplo, que apoia a candidatura de Cecília Meireles. Na mesma lógica, a candidatura diz não ter acesso aos cadernos eleitorais dos FTDC, cujo presidente pertence à lista afeta a Fernando Barbosa. Ao Observador, o candidato diz não ter dúvidas de que as dificuldades acrescidas estão a ser criadas para enfraquecer a candidatura.

Está a ser um processo muito complicado, somos uma lista que nasce das bases e que não tem o apoio da direção”, diz Fernando Barbosa ao Observador, acrescentando que o presidente da Assembleia distrital do Porto, afeto à direção nacional do partido, “não se está a comportar dignamente”. “Está a tomar partido a 1000%, o que é indigno”, acusa.

Uma desistência em troca de um lugar de deputado

A existência de duas listas em confronto nunca foi do agrad de Assunção Cristas, que terá tentado várias vezes demover Fernando Barbosa da ideia de se candidatar. “A conversa era sempre no sentido de eu desistir, não a Cecília Meireles”, garante Fernando Barbosa, que admite ter falado uma ou outra vez com Cristas, embora o interlocutor habitual fosse o secretário-geral Pedro Morais Soares — que lhe terá chegado a fazer “ofertas” no sentido de desistir.O movimento que apoia aquela candidatura assume-se como um grupo “independentista”, que quer mais autonomia para o Porto dentro do CDS, querendo inclusive ter uma palavra a dizer na escolha dos deputados nacionais eleitos pelo distrito, que devem ser naturais do distrito. 

Em declarações ao Observador, Cecília Meireles limita-se a dizer que “a única coisa” que lhe compete é “apresentar ideias e discuti-las com os militantes”. A candidata, que rejeita a ideia de que um dos candidatos é “trabalhador”, do “terreno”, e o outro é apenas o lado da “comunicação” e da “visibilidade”, acredita ser “a pessoa que melhor reúne condições para projetar o trabalho interno para fora”. Cecília Meireles garante ainda que já tentou desafiar o adversário para um debate de ideias, ao qual os militantes do Porto pudessem assistir, mas que nunca recebeu resposta. “Tentei por telefone, e-mail, tudo, mas não tive resposta”, diz.

Confrontado com esta situação, Fernando Barbosa admite ao Observador que não quis fazer um debate com a candidata concorrente porque, numa primeira fase, a candidata chegou a convidá-lo para integrar a sua lista, numa tentativa de conciliação. “Se me queria na lista, o que é que vou debater com ela?”, atira.

Certo é que a disputa deste sábado, no Porto, vai ser renhida. Se, por um lado, a candidatura de Cecília Meireles se mostra confiante por ter o apoio de 11 das 18 concelhias, a candidatura de Fernando Barbosa gaba-se de ter algumas das mais importantes concelhias, como Gaia, Trofa, Felgueiras, Amarante ou Gondomar. Se acontecer o mesmo que na concelhia e ganhar a lista de Fernando Barbosa, ou, por outras palavras, se perder a de Cecília Meireles, vice-presidente do partido e rosto da cúpula democrata-cristã, pode simbolizar um cartão vermelho à própria Assunção Cristas.