Detido há quase cinco meses, José Enrique Abuín Gey (ou El Chicle, como é conhecido) vai finalmente contar a sua versão dos factos. Esta sexta-feira, vai revelar como assassinou a jovem madrilena de 18 anos, na madrugada de 22 de agosto de 2016. Desde aí, passaram 496 dias e Diana Quer continuava desaparecida. A três dias do fim de 2017, o principal suspeito, El Chicle confessou o crime: tentou violar a jovem madrilena mas acabou por estrangulá-la depois de Diana ter resistido. O corpo foi encontrado no último dia do ano.

Desde o momento em que confessou ter matado a jovem, El Chicle pouco colaborou com as autoridades. Vários pedidos foram feitos para que reconstituísse o assassinato, mas foram sempre negados. Os mistérios sobre o caso que chocou Espanha podem mesmo ficar resolvidos esta sexta-feira. É que, além da reconstituição, será também realizada uma simulação virtual do percurso que El Chicle percorreu desde o rapto ao assassinato. Isto será conseguido graças à localização do telemóvel do detido. Serão também facultadas as filmagens das câmaras de vigilância das zonas por onde o Alfa Romeo cinzento de El Chicle poderá ter passado e onde Diana Quer foi transportada no porta-bagagem, viva ou morta.

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Como é que raptou a jovem e a meteu dentro do carro?

Sabe-se a hora em que El Chicle abordou Diana: pouco antes das 2h40 da madrugada de 22 de agosto de 2016. Foi a essa hora que a jovem mandou uma mensagem a uma amiga: “Estou a ficar com medo, um cigano está a chamar-me.” Era El Chicle. “Morena, vem aqui”, terá dito, de acordo com as mensagens. Diana estava no passeio marítimo de Areal, na localidade de Pobra do Caramiñal, na Corunha, onde estava de férias com a mãe e a irmã. Tinha estado nas festas da zona e ia a caminho de casa. Às 2h43, a jovem já não respondeu às mensagens. Aliás, não chegou sequer a vê-las.

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A troca de mensagens entre Diana Quer e uma amiga

Depois da abordagem verbal, não se sabe o que aconteceu e qual foi o método de El Chicle para conseguir que Diana Quer entrasse no carro. As hipóteses são várias. A jovem foi agredida e levada à força para o carro? Conseguiu fugir e El Chicle foi atrás dela? Foi deixada inconsciente para facilitar o rapto? Se sim, como foi deixada inconsciente?

Outra dúvida que poderá ser esclarecida é se a mulher de El Chicle, Rosario Rodríguez, esteve com ele no carro. O suspeito modificou várias vezes a sua versão da história, no que diz respeito a este aspeto.

Que caminho percorreu? O que aconteceu na ponte de Taragoña?

No caminho percorrido entre o rapto no passeio marítimo de Areal e o local onde escondeu o corpo, em Rianxo, houve uma paragem: na ponte de Taragoña — a cerca de 20 quilómetros onde a família estava a passar férias. Foi exatamente nesse local que tinha sido obtido o último sinal do telemóvel. Foi também nesse local que foi encontrado por um pescador, a 27 de outubro, dois meses depois de a jovem madrilena ter sido dada como desaparecida.

As autoridades acreditam que El Chicle possa ter parado o carro nessa ponte para abrir a janela e atirar o telemóvel para o rio. Mas, nesse momento, a jovem ainda estava viva? A paragem pode ter acontecido porque a ponte foi o local onde El Chicle tentou violar Diana Quer e acabou por matá-la?

El Chicle violou Diana Quer antes de a matar?

O resultado da autópsia foi inconclusivo, neste aspeto. As autoridades estavam convencidas que, estando o corpo da jovem submerso, estaria também conservado. Mas não: os restos mortais de Diana Quer estavam num estado de degradação tão elevado que foi impossível concluir se foi ou não violada antes de ser assassinada.

Era esta a resposta da qual o advogado de El Chicle estava a espera. José Ramón Sierra garantiu, na altura, que deixava de representar o assassino caso o resultado da autópsia revelasse que El Chicle tinha violado a jovem. A autópsia não esclareceu se houve ou não violação mas, ainda assim, Ramón Sierra deixou de representar El Chicle. A razão nunca foi conhecida.

Já o assassino sempre garantiu que não violou a jovem. El Chicle admitiu, aliás, que tentou violá-la mas Diana Quer resistiu. Foi esse o motivo, segundo a confissão, que o levou a assassiná-la.

Tráfico de drogas, violações e sequestros. Quem é El Chicle, o assassino de Diana Quer?

Onde é que Diana Quer foi estrangulada, antes de ser atirada para o poço?

Sabe-se que o corpo de Diana foi encontrado numa fábrica da zona industrial de Asados, na localidade de Rianxo, na Corunha. Mas não se sabe onde é que Diana morreu exatamente.

A única informação confirmada pela autópsia confirmou a versão de El Chicle: Diana Quer foi estrangulada antes de morrer. Exclui-se assim a hipótese de Diana ter sido atirada para o poço ainda viva e de ter morrido afogada. Na confissão, El Chicle disse que estrangulou Diana depois de a tentar violar e de a jovem ter resistido. Depois, terá amarrado as mãos de Diana com braçadeiras de serrilha e usou o mesmo método para prender o pescoço ao encosto de cabeça do banco do carro. Se esta versão for a verdadeira, sabe-se que Diana morreu no carro, mas fica por saber exatamente o local onde estava estacionado e a distância que El Chicle teve de percorrer com o cadáver, até à fábrica.

O corpo de Diana Quer foi encontrado no último dia do ano passado (Foto: GaliciaeXornal/Twitter)

Diana foi encontrada no poço, amarrada a blocos de cimento, a oito metros de profundidade. No poço, a equipa forense encontrou também uma braçadeira de serrilha que poderá ter sido, de facto, usada para estrangular a jovem ou para prender alguns dos seus membros aos blocos de cimento usados para manter o corpo submerso.

Outras pessoas estiveram envolvidas no crime?

De facto, houve mais alguém envolvido neste crime: a mulher de El Chicle. Não que — pelo que se sabe até ao momento — tivesse colaborado com o autor da morte de Diana no estrangulamento em si, mas no desenrolar da história.

Rosario Rodríguez, com quem o assassino é casado há 15 anos, protegeu o marido ao longo de toda a investigação, ao dizer às autoridades que estava com ele na noite do desaparecimento da jovem madrilena. Foi também Rosario que fez com que El Chicle fosse descoberto nos últimos dias do ano. Pressionada, a mulher disse às autoridades que mentiu e que não esteve com El Chicle naquele noite. Ao ver a mulher a ser detida, El Chicle acabou por confessar.

“Morena, vem aqui”. A história dos 496 dias do desaparecimento de Diana Quer