Enviado especial do Observador à Rússia (em Sochi)

Já lhe chamaram a “Riviera Russa”. Com o Mar Negro ali ao lado, entretenimento com fartura, muitas coisas para passar tempo e uma autêntica invasão esta quinta-feira às praias para aproveitar o tempo de Verão que se faz sentir. Sochi mudou muito desde que foi eleita para organizar os Jogos Olímpicos de Inverno em 2014, sobretudo na zona onde está o Fisht Stadium, no Parque Olímpico da cidade. Nessa altura, houve problemas e dores de crescimento numa cidade que não estava ainda preparada para um boom tão grande num lapso tão curto de tempo; hoje, ficou com a melhor parte do ADN que ganhou aí.

Tudo neste principal recinto da área que vai receber o Portugal-Espanha foi pensado ao pormenor. O formato, por exemplo, que faz lembrar os famosos ovos Fabergé. As aberturas nos dois topos, uma para a Clareira Vermelha e a outra para o infinito do Mar Negro. A cobertura, fazendo lembrar neve branca nas montanhas mas que vai ganhando várias cores ao longo da noite. Ao seu redor, as ofertas são muitas e a prática do desporto uma constante, seja em passeios de bicicleta, seja num simples jogging. E com um dado curioso: se agora está muito calor, na altura dos Jogos Olímpicos de Inverno não havia em alguns dias o frio suficiente, o que provocou alguns problemas na neve artificial utilizada em algumas modalidades da competição de 2014.

Período inicial do treino aberto à comunicação social teve situações de finalização pelo meio (ODD ANDERSEN/AFP/Getty Images)

Esta tarde, após a conferência de João Moutinho e Fernando Santos, a Seleção Nacional teve o habitual treino de adaptação ao relvado do Fisht Stadium, com os habituais “meiinhos” a serem seguidos por situações de finalização com cruzamento num dos corredores laterais e aparecimento de duas unidades na área para concluir a jogada. De equipa provável ou possível, nem uma indicação percetível. Mas as marcas que ficaram na zona do relvado mais pisada deixam a dúvida de como estará amanhã. Uma coisa é certa: problemas como aqueles que existiram em 2014 parecem colocados de parte. E estes são cinco exemplos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quando abrimos a porta e está um lobo no corredor a passear

Kate Hansen é uma atleta americana do luge que não tem propriamente um grande currículo como sénior (ganhou algumas medalhas internacionais nos juniores) e que terminou a sua prova nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 no décimo lugar. Mas deu nas vistas, logo a começar por fazer o aquecimento a dançar enquanto ouvia Beyoncé nos phones. Ainda assim, não foi isso que lhe valeu um clip com o apresentador Jimmy Kimmel: durante a prova, fez um filme que se tornou viral ao abrir a porta do quarto onde estava em estágio e apanhar um lobo que se passeava de forma vagarosa pelo corredor do hotel.

Quando vamos à casa de banho e temos alguém ao nosso lado

Começou por ser apenas um episódio isolado, retratado na altura por um dos correspondentes da BBC que faziam os Jogos de Inverno, mas depressa se tornou notícia um pouco por todo o mundo: as casas de banho em Sochi com duas sanitas. Quando saiu a primeira imagem do insólito caso, que estava centrada na zona das provas do duatlo, a organização explicou que era apenas uma exceção, mas à medida que os dias foram passando tornou-se regra e havia um pouco por todo o lado, entre as infraestruturas desportivas e os próprios hotéis. Com o passar dos dias, todas as que foram detetadas foram sendo “arranjadas” com divisórias.

Das obras que estavam atrasadas aos percalços que iam surgindo

Johnny Quinn, jogador de futebol americano que saltou depois para o bobsled, ganhou o prémio de atleta mais azarado de 2014 em Sochi extra competição: logo nos primeiros dias, ficou fechado na casa de banho e teve de fazer um buraco ao pontapé na porta para sair; mais tarde, ficou preso no elevador até ser resgatado. Em paralelo, havia relatos de fossos sem elevador, água que saía amarela das torneiras e wifi pendurados no teto. A realidade da cidade quatro anos depois é totalmente diferente, com um visível aumento de hotéis e condições dos mesmos na zona onde se encontram as principais infraestruturas desportivas.

Os problemas sociais, da deportação de emigrantes aos homossexuais

A lei assinada por Vladimir Putin em junho de 2013, que bania qualquer distribuição de “propaganda não tradicional a nível de relações sexuais”, bem como as polémicas declarações do presidente da Câmara, Anatoly Pakhomov, que sublinhou não haver esse tipo de problemas em Sochi porque “os gays sabem que não são bem recebidos e por isso estão todos longe”, gerou enorme polémica social durante os Jogos Olímpicos de Inverno, sempre com a organização a dar tudo para dispersar protestos. Em paralelo, houve o problema dos emigrantes ilegais que, depois de terem reforçado a equipa responsável pela construção de todas as infraestruturas, foram obrigados a deixar o país. Agora, o primeiro tema deixou de ser notícia e o segundo não existe.

O clip anti-Putin e a detenção das Pussy Riot

Durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, pouco depois de terem sido libertadas após dois anos de prisão por alegados atos de vandalismo, Nadejda Tolokonnikova e Maria Alekhina, das Pussy Riot, voltaram a ser detidas em Sochi, nessa altura pela acusação de roubo. Uns dias depois, as cantoras lançaram o primeiro clip após saírem em liberdade, intitulado “Putin vai ensinar-nos a amar a pátria”, que foi filmado com imagens junto ao Mar Negro e com várias alusões aos Jogos, com uma letra onde o presidente da Rússia era criticado pela violação dos direitos humanos no país. Esta tarde, no dia em que arranca o Campeonato do Mundo, até pode haver mais protestos, mas os mesmos já não terão a cidade de Sochi como pano de fundo.