A intensificação da crise humanitária no Iémen, em guerra desde 2014, permanece entre as principais preocupações dos Médicos Sem Fronteiras, disse à Lusa o chefe da missão, João Martins.

Os Médicos sem Fronteiras (MSF) estão “dos dois lados da linha da frente” no Iémen e a organização tem atualmente no país cerca de 100 colaboradores estrangeiros, para além de mais de mil iemenitas integrados nas suas estruturas de apoio, referiu em contacto telefónico com a Lusa, a partir da capital, João Martins, chefe da missão dos MSF no Iémen.

Natural de Vila Nova da Barquinha, João Martins, 31 anos, trabalha com os Médicos sem Fronteiras (MSF) há quatro anos e efetua a sua segunda missão no Iémen, tendo a primeira decorrido em meados de 2016. João Martins refere-se a um conflito que tem atingido particularmente a população civil, com uma epidemia de cólera e uma crise humanitária já definida pela ONU como a mais grave das últimas décadas, e que atinge pelo menos metade dos 23 milhões de habitantes.

“Sei que esta guerra tem sido feita de uma maneira, pelas duas partes, sem consideração pelo que são as pessoas, pelo que é a população no seu geral, pelo bem-estar da população civil que nada tem a ver com esta guerra”, denuncia.

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O chefe da missão local dos MSF — organização fundada em 1971 pelo médico francês Bernard Kouchner e outros colaboradores, incluindo jornalistas, que tinham estado com a Cruz Vermelha na guerra do Biafra, na Nigéria, em apoio às populações — revela que a epidemia de cólera atingiu o pico em 2017, na altura das chuvas e do Ramadão.

“No nosso hospital em Abs [norte do Iémen] chegávamos a receber 400 pacientes por dia, foi uma epidemia muito grande que matou milhares de pessoas”, recorda.

Entretanto, os casos baixaram, e agora para esta época de chuvas que está a agora a começar preparávamo-nos para um novo ciclo. Felizmente não está a acontecer para já mas vamos continuar a acompanhar, agora é mais complicado porque o nosso centro de tratamento de cólera foi bombardeado, mas vamos tentar reconstruir e continuar a servir as pessoas”, garante.

Em 7 de julho, o Comité internacional da Cruz Vermelha (CICV) anunciou a retirada do Iémen, por motivos de segurança, de 71 dos seus colaboradores internacionais e que representam mais de metade do seu pessoal no país.

“Em contextos como o Iémen, onde o conflito vai sendo cada vez mais intenso, tomámos diferentes precauções. Estabelecemos contacto com todos os grupos armados, com as partes do conflito, comunicamos com muita regularidade onde estamos, como nos movemos, quando nos movemos”, explica João Martins.

“Estabelecemos ligações com os dois lados e tomamos as precauções necessárias para uma segurança efetiva, também para nos resguardamos em caso de bombardeamentos, temos uma série de medidas que são medidas standard dos MSF devido ao contexto em que trabalhamos”, salienta.