Lembra-se de Lou Bega? E de Baha Men? Talvez Survivor lhe avive a memória… Não? E se falarmos dos The Buggles, já sabe quem são? Última hipótese: Nena, diz-lhe alguma coisa? Falamos-lhe de artistas e de bandas e, caso todos estes nomes lhe soem a chinês, não se preocupe – na verdade, não foram eles que se tornaram conhecidos do público em geral, mas sim as suas obras.

Repetimos o exercício: recorda-se da música “Mambo Nr. 5”? E “Video killed the radio star”? Apostamos que conhece o tema “Who let the dogs out”. “Eye of the tiger”, banda sonora dos míticos filmes de Sylvester Stallone no papel de Rocky, não lhe saiu da cabeça durante algum tempo, admita. E “99 red balloons”, sabe de cor e salteado? Pois é: há obras que superam os seus criadores e ficam nos anais da história como êxitos únicos. São os chamados one hit wonders, ou, em português, bandas de um só êxito.

E porquê falar de música num texto sobre futebol? Porque, observado o encontro que terminou com a derrota da Costa Rica perante a Sérvia (1-0), na partida inaugural do grupo E, a formação costa-riquenha corre o risco de se tornar numa dessas “bandas” que fica na história por um e um só êxito – neste caso, o Mundial de 2014. Há quatro anos, em pleno Brasil, a Costa Rica surpreendia tudo e todos ao chegar aos quartos de final da principal competição de seleções. E a dificuldade/qualidade dos adversários que encontrou pelo caminho só confere mais brilho à prestação costa-riquenha: Itália, Uruguai e Inglaterra foram as primeiras grandes vítimas da Costa Rica, que terminou o seu grupo na liderança, antes de eliminar a antiga campeã europeia Grécia, no desempate por grandes penalidades. Seguiu-se a despedida da prova, aos pés da Holanda (também nas grandes penalidades), mas a boa imagem deixada pela formação da América Central ficou na retina dos amantes da modalidade, que puderam assistir a exibições de encher o olho por parte dos ticos. 

Quatro anos depois, a formação de Óscar Ramirez voltou a um Mundial com o objetivo de repetir o sucesso alcançado no Brasil e continuar a fazer história para uma seleção que participou em apenas quatro fases finais de campeonatos do Mundo. Por outras palavras, a Costa Rica quer transformar um single de platina no início de um álbum triunfal. O problema é que começou mal. Os ticos entraram em campo receosos, à espera do que a menos experiente Sérvia podia fazer. O controlo de jogo foi oferecido à formação europeia, que o aceitou e criou as melhores oportunidades da partida, acabando, com justiça, por vencer (1-0). O capitão Kolarov, na cobrança exemplar de um livre direto, assinou o único golo do encontro.

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Keylor Navas bem se esticou, mas o remate de Kolarov levava selo de golo. Foi uma execução perfeita aquela que abriu o marcador a favor da Sérvia e valeu os três primeiros pontos do grupo E. (Photo by Dean Mouhtaropoulos/Getty Images)

A estratégia foi semelhante à utilizada no Brasil, há quatro anos, mas a eficácia não podia ser mais diferente. Se em 2014 a forma de jogar da Costa Rica funcionava por ser uma surpresa, em 2018 tornou-se facilmente anulável e previsível. É caso para dizer que uma fórmula de sucesso não cria dois singles; é preciso inovar – recordando as palavras de Jorge Jesus antes de partir para a Arábia Saudita, num evento organizado pelo International Club of Portugal, “quem repete, não inova, não aprende nem evolui”.

Para gravar um álbum de sucesso, a Costa Rica precisará de evoluir, e muito. Os próximos adversários dos costa-riquenhos serão o Brasil e a Suíça e, a avaliar pela prestação na jornada inaugural, a música da Costa Rica terá de ser outra, caso contrário, brasileiros e suíços não deverão ir na cantiga dos ticos.