O Gabinete de Obras Especiais (GOE) do Governo angolano lançou esta segunda-feira os concursos públicos de requalificação da vila e do Santuário da Muxima, o maior centro mariano da África subsaariana, prevendo a construção de uma basílica para 4.600 fiéis.

De acordo com os anúncios publicados pelo GOE, aos quais a Lusa teve acesso, em causa estão concursos limitados por prévia qualificação para a empreitada de construção da basílica de nossa Senhora da Muxima e áreas externas contíguas e para a empreitada de construção das infraestruturas daquela vila, além dos respetivos contratos de fiscalização das obras.

Os concursos, que eram aguardados há vários anos e cujas obras foram sendo atrasadas devido à crise económica e financeira em Angola, decorrem até 4 de julho e estão abertos à participação de empresas estrangeiras, tendo como critério de adjudicação a “proposta economicamente mais vantajosa”.

No anúncio dos concursos não são adiantados valores para estas obras, mas o Governo angolano inscreveu no Plano de Investimentos Públicos de 2018 uma verba de 713.452.079 kwanzas (2,5 milhões de euros) para estes trabalhos.

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Este projeto foi lançado em 2008 pelo então Presidente José Eduardo dos Santos que, cerca de um ano depois, aquando da visita pastoral de Bento XVI a Angola, mostrou a maqueta ao papa e ofereceu a futura basílica à Santa Sé.

Durante uma visita recente à Muxima, no município da Quissama, província de Luanda, a ministra da Cultura de Angola, Carolina Cerqueira, admitiu que a requalificação da vila, do santuário e a construção da nova basílica tornará aquele espaço num postal para Angola, potenciando o turismo religioso.

Aquela vila foi ocupada pelos portugueses em 1589, que dez anos depois construíram uma fortaleza e a igreja de Nossa Senhora da Conceição, também conhecida como “Mamã Muxima”, que na língua nacional quimbundu significa “coração”.

O projeto visa a intervenção numa área de 40 hectares e só a basílica será edificada num espaço de 18 mil metros quadrados, tendo capacidade para acomodar 4.600 pessoas sentadas, bem como o seu arranjo urbanístico. Prevê, no exterior da basílica, a construção de uma praça pública com capacidade para receber 200 mil peregrinos. Envolve ainda infraestruturas rodoviárias em torno do perímetro do santuário e áreas de estacionamento para três mil viaturas.

A 130 quilómetros de Luanda, a vila da Muxima transformou-se no maior centro mariano da África subsaariana, imagem que será renovada com a prometida construção da nova basílica. O templo atual tem apenas capacidade para 600 pessoas sentadas, insuficiente, por exemplo, para a anual peregrinação de setembro que leva àquela vila, junto ao rio Kwanza, mais de um milhão de fiéis.

Hoje sem espaços e serviços de apoio, na Muxima sonha-se com a concretização das prometidas obras de requalificação daquela vila angolana, que vão permitir transformar aquele santuário no primeiro com o estatuto nacional em Angola, por decisão da Igreja Católica.

Esperamos que mude não apenas com a nova basílica e todas as infraestruturas de apoio, como transporte, hospedagem, informação, parque de estacionamento e albergues para passarem a noite, mas também ao nível da pastoral e do acolhimento e atendimento ao peregrino”, explicou anteriormente à Lusa o padre Albino Gonçalves, de uma congregação de missionários mexicana e responsável por aquele santuário desde 2010.

Além das estruturas, a mudança anunciada passa também pela disponibilização de serviços a peregrinos estrangeiros noutras línguas, nomeadamente com o reforço da presença missionária internacional no santuário. O executivo angolano decidiu, em outubro de 2014, reestruturar o projeto do novo santuário, da autoria do arquiteto português Júlio Quaresma, prevendo a implantação do novo santuário numa área de 18.352 metros quadrados, tendo a nova catedral capacidade para acomodar 4.600 devotos sentados, além de contemplar a construção da vila Nossa Senhora da Muxima.

No mês seguinte, o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, criou uma comissão interministerial para acompanhar e executar o projeto de requalificação daquela vila, mas as obras ainda foram para o terreno, numa altura em que o Governo limitou as despesas públicas, face à crise com a quebra das receitas petrolíferas.

Além das peregrinações semanais e da grande promessa anual que leva milhares de fiéis a acompanhar nos arredores do santuário, onde chegam a pé, de carro ou por barco através do rio Kwanza, também mais de cinco mil cartas com pedidos de peregrinos são enviadas todas as semanas para a igreja da “Mamã Muxima”.

“Sentem que têm de agradecer, que não podem vir ao santuário de mãos vazias, porque daqui também não vão vazios, saem com a bênção e com a paz no coração”, rematou o pároco da Muxima, que se manifestou ansioso pelo início da empreitada que promete mudar o rosto do maior templo angolano.