Se o Mundial 2018 fosse um jantar entre amigos, seria a primeira e última vez que alguns convidados iriam comparecer ao evento. Pelo menos, de livre vontade. Isto porque ninguém gosta de se deslocar à casa de alguém para ser mal tratado, enxovalhado ou sentir-se indesejado. Muito menos se o convidado quiser ser hóspede durante um mês e se for (quase) expulso do evento com menos de uma semana decorrida. 

Imagine o leitor que passava semanas a preparar-se para o tal jantar, investia todo o seu esforço para deixar a melhor imagem possível e, com isso em mente, levava a sua fantástica iguaria para o banquete. Seria certamente bem recebido, correto? Errado.

[Veja no vídeo como Cheryshev igualou Ronaldo e os golos da Rússia Vs. Egito em 3D]

Foi mais ou menos o que aconteceu ao Egito. A seleção de Héctor Cúper conseguiu o bilhete dourado para o Mundial 2018 e viajou até à Rússia com a intenção de prolongar a sua estadia ao máximo. Trabalhou, treinou e preparou a competição ao máximo. Na bagagem levava o seu maior astro, Mohamed Salah, pese embora as limitações físicas do avançado do Liverpool (lesionou-se na final da Liga dos Campeões e falhou a derrota egípcia frente ao Uruguai), na esperança de o ver recuperado e a brilhar em terras russas. Mas os anfitriões não foram de modas e mostraram que na Rússia mandam os russos: dois jogos, duas vitórias, oito golos marcados e um sofrido. 

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Adeptos russos festejam a vitória e a (quase) confirmada passagem aos oitavos de final, depois da vitória sobre o Egito, na Fan Zone em Volgograd.  (Créditos: NICOLAS ASFOURI/AFP/Getty Images)

O Egito tinha à sua espera uma receção com três pedras na mão, traduzida numa derrota por 3-1 às mãos da Rússia. E nem a estreia do faráo de 26 anos inverteu o rumo dos acontecimentos. Salah amenizou o pesadelo egípcio (golo de grande penalidade, aos 73′), mas foi insuficiente para contrariar a formação anfitriã que, de forma fria e eficaz, construiu o triunfo na segunda parte, com um auto-golo de Fathi (47′) e golos de Cheryshev (59′) e Dzyuba (62′).

Depois da goleada inaugural (5-0) sobre a Arábia Saudita, a Rússia soma seis pontos e dificilmente deixará fugir o acesso aos oitavos de final da prova. Só um terrível imprevisto impediria a formação de Stanislav Cherchesov de seguir em frente, já que os russos teriam de perder o encontro final contra o Uruguai e ver a Arábia Saudita somar seis pontos, fruto de vitórias sobre os sul americanos e o Egito. Mesmo nesse caso, em que Rússia, Uruguai e Arábia Saudita ficariam com seis pontos cada, os russos só ficariam de fora da próxima fase caso tivessem menos diferença de golos do que os dois opositores, algo que, com o 8-1 favorável de momento, parece altamente improvável de acontecer.

No extremo oposto encontra-se o Egito, que precisa de um autêntico milagre para não ir mais cedo para casa. Salah e companhia têm zero pontos, quatro golos sofridos e apenas um marcado. Para seguir em frente, a formação egípcia precisa de vencer a Arábia Saudita na última jornada do grupo, rezar para que os árabes vençam o Uruguai e para que os russos também superem a equipa sul americana na última ronda. Ainda assim, mais uma vez, tudo ficaria resolvido na diferença de golos.

Ainda nada está fechado no grupo A do Mundial, mas pouco faltará. A anfitriã Rússia organizou o jantar, aceitou a ementa e… devorou os adversários. Resta ao Egito lutar pela sobrevivência num evento onde nem a sua melhor iguaria parece chegar para causar boa impressão.

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