As dificuldades não são de agora, mas “desta vez o dinheiro não chegou”. A União Zoófila anunciou esta segunda-feira, através da sua página do Facebook, que não conseguiu pagar a conta da água referente ao mês de maio e que espera “que a água não seja cortada”. Ao todo são 2.450,10 euros de fatura, dos quais 1.140, 59 euros devem ser pagos à companhia EPAL e 1.309, 51 euros — referentes a taxas — à Câmara Municipal de Lisboa.
É o pagamento do valor das taxas à autarquia que a associação de apoio a animais contesta, pois “trata-se de uma instituição que faz um serviço público à cidade, que acaba também por ajudar o Canil Municipal”, disse ao Observador Luísa Barroso, presidente da União Zoófila. Só na associação estão cerca de 500 cães e 200 gatos e todos os meses entram animais que estão nas ruas de Lisboa e precisam de tratamento. “A União Zoófila presta um serviço a Lisboa. E paga à Câmara Municipal de Lisboa pelo serviço que lhe presta”, lê-se na publicação.
Hoje vence a factura da água da União Zoófila. O valor total, correspondente ao consumo de Maio, ascende a 2.450, 10…
Posted by União Zoófila on Monday, June 18, 2018
Além das contas da água e alimentação, também as despesas médicas têm sido um problema, com contas em atraso a fornecedores, a clínicas de análise e a hospitais onde alguns animais têm de ser internados. “Vamos pagando aos poucos”, explica Luísa Barroso.
Face à situação financeira, a União Zoófila tem vindo a pedir apoio à Câmara Municipal de Lisboa, através de cartas, emails e reuniões, mas “ficaram sempre respostas no ar. Dizem que vão fazer o que conseguem”, refere a responsável. A associação depende sempre de donativos e é a partir deles que esperam, até ao final da semana, conseguir pagar a conta da água. O problema, diz Luísa Barroso, “é que isto vai acontecer novamente no próximo mês”, pois vão continuar a receber cães doentes e “estes cães comem todos os dias, bebem água todos os dias e é necessário lavar o canil diariamente”, explica, salientando o “jogo de cintura” que a associação tem de fazer constantemente para conseguir pagar todas as contas que chegam à sede.
A Pinha, na imagem, é apenas um dos animais recém-acolhidos na União Zoófila. A Pinha vagueava, à fome e à sede, pelas ruas da cidade de Lisboa. Ontem, a Pinha bebeu água. Ontem, a boxe da Pinha foi lavada. Ontem, a almofada onde a Pinha dorme foi lavada.
O acolhimento dos animais abandonados é responsabilidade autárquica. Na letra da lei. Porque, na realidade, a Pinha foi acolhida na União Zoófila. Ou teria morrido de sede e fome nas ruas de Lisboa.”, escreveu a associação no Facebook.
Câmara garante que “ninguém vai cortar água a ninguém”
Depois da publicação da União Zoófila, a Câmara Municipal de Lisboa já reagiu e garantiu que “a Empresa Pública de Águas Livres (EPAL) não vai cortar a água à União Zoófila”.
“Ontem tivemos oportunidade de falar com a EPAL e ninguém vai cortar a água a ninguém. A EPAL não vai cortar a água à União Zoófila”, disse o vice-presidente Duarte Cordeiro à agência Lusa, acrescentando que a autarquia “está disponível para apoiar o plano de atividades da União Zoófila, num montante superior ao valor” da tarifa da água.
No mês passado a Câmara Municipal de Lisboa aprovou uma verba de apoio de 40.995,00 euros destinada à União Zoófila, na sequência do assalto e vandalização da Enfermaria do Gatil da associação. No entanto, esse valor “ainda não chegou ao seu destino e enquanto se espera estas situações vão acontecendo”, acrescenta ao Observador a diretora da associação. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, anunciou, em janeiro deste ano, que iria “dotar de novas instalações a União Zoófila e inserir no regulamento dos apoios municipais as instituições que se dedicam ao apoio e defesa dos animais”.
Já a Provedoria dos Animais de Lisboa tinha colocado esta segunda-feira como uma das hipóteses “entre várias” pedir à Câmara a isenção de taxas na fatura da água da União Zoófila, pois esta instituição “faz um serviço público e isso tem de ser considerado pela autarquia”, informou Maria Quaresma dos Reis, provedora dos Animais de Lisboa. Sobre este assunto, Duarte Cordeiro explicou que “a União Zoófila, à semelhança de outros utilizadores não-domésticos, beneficia de uma tarifa social de 25%”. “Não está prevista a isenção da tarifa, está prevista a tarifa social”, porque “o regime tarifário de Lisboa prevê a tarifa social a consumidores não-domésticos”, explicou.
“Já dissemos à União Zoófila que estamos disponíveis para financiar a associação através do regime de apoios do município. Permite-nos apoiar as atividades da União Zoófila num montante superior ao valor da tarifa, para no fundo comparticipar em muitas despesas”, acrescentou.