Enviado especial do Observador à Rússia (em Moscovo)

Até nas zonas mistas dos jogos de Portugal e Argentina parece haver necessidade de criar um barómetro de comparação entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi por parte dos jornalistas estrangeiros. Param ou não param? Falam ou não falam? Ficam muito tempo ou ficam pouco tempo? Mas também aqui, como no futebol, a comparação perde sentido quando se pensa que, pela segunda vez consecutiva, o capitão nacional foi nomeado Homem do Jogo, marcando por isso presença na conferência e receção do troféu. Daí que, após ter falado, seja “normal” que siga dos balneários para o autocarro, o que não aconteceu com o jogador do Barcelona, depois do empate entre o conjunto das Pampas e a Islândia, havendo mesmo necessidade de reforçar as barreiras divisórias por parte dos voluntários presentes no espaço para não cederem para a frente.

Antes, cá fora, o ambiente estava estranho para o que era normal ou assistimos noutro jogo realizado no Luzhniki Stadium, o Alemanha-México: ao contrário das comemorações que chegavam a juntar vencedores e vencidos, havia pouco ruído e festa, alguns adeptos do conjunto de Marrocos ainda em lágrimas e portugueses sem qualquer traço de alegria desmedida. Aqui sim, um barómetro do que aconteceu no encontro, em que os vencedores admitiram que o mais importante foi o resultado e os vencidos destacaram a exibição com personalidade. E a verdade é que, no final, o resultado é sempre o que mais interessa.

A caminho da zona mista, numa percurso bem maior do que noutros estádios deste Mundial, uma paragem por parte dos muitos polícias presentes no recinto. Ia passar “alguém” pensámos, sendo que o “alguém” era Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, acompanhado por Fernando Gomes, líder da Federação Portuguesa de Futebol. “Estou feliz mas sofri muito. Acabei de dizer aos jogadores uma coisa como isso. Portugal tem de se convencer que é campeão da Europa, que a bola não queima. Demos um passo importante e agora temos de entrar para o próximo jogo para ganhar. Mesmo que o empate chegue, temos de jogar para ganhar. Foi isso que eu disse. Felicitei o Rui Patrício por aquela defesa do outro Mundo, o Cristiano Ronaldo pelo golo no momento adequado. Dito isto, tal como os dez milhões de portugueses mais os dez milhões espalhados por todo o mundo, sofri que me fartei. Sofremos todos mas este passo está dado”, tinha dito antes o Presidente da República.

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Tudo pronto para aceder à zona mista, tudo pronto para mais uma longa espera. E entretanto sai o primeiro jogador da equipa de Marrocos a falar com os jornalistas. De onde estamos não conseguimos perceber ao certo quem é, mas o estilo está lá todo, dos óculos com hastes douradas à roupa aprumada como se fosse uma pop star. Fala, fala, fala, fala, mas continuamos sem perceber quem é porque está ali ao longe.

Entretanto surge Adrien, o primeiro jogador nacional a passar pela zona mista. “Foi melhor o resultado do que a exibição, mas conseguimos os três pontos que era o mais importante. Entrada mais forte e recuo? Também mostra alguma maturidade da nossa parte, porque é preciso ter a humildade para encarar cada momento do jogo”, comentou, antes de responder também aos gritos por Messi para “picar” Ronaldo de forma irónica: “Ainda bem que gritam que ele fica mais… Tenho reparado que sempre que fazem isso não fica bom para o adversário”.

O médio segue para o autocarro e aquele jogador marroquino continua a falar. Aliás, está no mesmo sítio. E chega Cédric, que voltou a falar como tinha acontecido após o jogo com a Espanha. “Sabemos que não foi a nossa melhor exibição, temos a noção disso, mas nem sempre os jogos são fáceis. Isto é o Campeonato do Mundo, não há equipas fáceis. Depois dos primeiros 25/30 minutos, eles começaram a ganhar mais confiança, a ganhar mais segundas bolas e passaram a controlar a posse de bola, mas sabemos que no futebol é preciso sofrer para alcançar os objetivos. Irão? Vai ser mais um jogo muito difícil, como todos os do Mundial, porque as equipas teoricamente mais fracas estão cada vez mais competitivas”, destacou.

Entretanto, e já mais uns longos minutos depois, passa pela zona onde estavam os jornalistas portugueses a tal pop star. Que, apesar de ter na acreditação que traz ao pescoço Mehdi Amine El Moutaqui, é Benatia, capitão de equipa, jogador da Juventus e alguém que tem uma paciência infinita para abordar o encontro que acabou por ditar a eliminação de Marrocos do Mundial após duas derrotas pela margem mínima. Chapeau ao número 5 dos africanos, que ao vivo parece mais pequeno do que na realidade é.

Ao contrário de José Fonte, o último jogador da Seleção Nacional a parar por ali, na mesma altura em que Bernardo Silva tinha parado um pouco antes onde falou com alguns jornalistas brasileiros. “Não há jogos fáceis no Mundial e hoje foi mais um mas o importante foi termos ganho. Marrocos tem uma boa equipa, está a correr e a lutar pelo seu país e pelas suas famílias também. Soubemos defender mas acho que foi evidente que tivemos dificuldades na posse de bola, na saída de jogo e na exploração do contra ataque. Temos agora cinco dias para rever o filme. Ronaldo? Já todos sabem quem ele é, o melhor do mundo e o melhor de sempre. Só temos de fazer o nosso lá atrás, porque ele vai continuar a fazer a parte dele lá na frente”, disse.

Os jogadores portugueses já tinham quase todos passado, começaram depois a sair mais de Marrocos, entre os quais Manuel da Costa, o central de 32 anos que jogou por Portugal nos Sub-21, chegou a ser chamado a algumas concentrações da equipa A mas estava descontente com a tarde que o seu conjunto teve. “Não tenho nada para dizer”, atirou, antes de passar Amrabat e deixar aquela frase onde garantiu que o árbitro pediu a camisola de Pepe ainda antes do encontro. Algo que, sem ter qualquer problema “legal”, tentou sobretudo demonstrar as críticas do conjunto africano à exibição do americano Mark Geiger.