Muito se tem falado de barbas neste Mundial. No fundo, tem-se falado de pilosidade: desde o cabelo de Neymar até à barbicha de Cristiano Ronaldo. O primeiro por maus motivos, o segundo por motivos simplesmente… curiosos. Mas se tudo o que se pode chamar ao que Ronaldo deixou no queixo é barbicha, o mesmo não acontece com Mile Jedinak. O médio australiano tem uma barba digna desse nome que até já lhe valeu uma alcunha: “A barba para ser temida”.

Mile, na verdade, chama-se Michael John. Nasceu em Sydney em 1984 e, apesar de ser “nascido e criado” australiano, os pais são croatas e era esse o idioma que se falava na casa da família Jedinak quando o agora capitão da seleção australiana era criança. Michael John rapidamente passou a Mile e o nome pegou. Ganhou o gosto pelo futebol nos colégios católicos por onde passou, jogou em clubes australianos e até na Croácia, quando se rendeu às origens e decidiu viajar para a Europa para representar o Varazdin. Regressou a casa, foi o segundo melhor marcador da principal liga da Austrália e começou a chamar a atenção em emblemas com voos mais altos. Em 2009, foi para a Turquia jogar pelo Gençlerbirligi e esteve emprestado durante uma época ao Antalyaspor.

Jedinak joga atualmente no Aston Villa.

Mas não estava satisfeito. Em 2011, anunciou que ia deixar a Turquia e procurar um lugar noutras paragens: um mês depois, estava a assinar pelos ingleses do Crystal Palace. Tornou-se um dos favoritos dos adeptos com poucos jogos no currículo e na segunda temporada em Inglaterra, devido à lesão do habitual capitão Paddy McCarthy, assumiu a braçadeira e encarnou o papel de líder dentro das quatro linhas. Em outubro de 2014, já depois de ter ajudado o Crystal Palace a regressar à Premier League, foi considerado o melhor jogador do clube naquela temporada, o quinto melhor jogador da Europa, o melhor médio da Europa e o melhor jogador da principal liga inglesa. Coisa pouca.

Mas algo correu mal. E esse algo, contudo, ninguém sabe o que foi. Antes do arranque da temporada 2016/17, Jedinak anunciou que tinha resignado à braçadeira de capitão. Dias depois – e tendo contrato assinado para mais um ano no Crystal Palace – foi confirmado como o novo reforço do Aston Villa. 165 jogos e 10 golos depois, o médio australiano renegou a Premier League e regressou à segunda liga inglesa.

Mile Jedinak é o capitão da seleção australiana e já leva dois golos neste Mundial da Rússia: ambos de penálti. A grande penalidade que converteu esta quinta-feira, frente à Dinamarca, valeu o empate, evitou a eliminação da Austrália já na segunda jornada e mantém viva a esperança da seleção da Oceânia de passar à próxima fase. Mais do que isso, o golo de Jedinak valeu os primeiros pontos da seleção australiana num Campeonato do Mundo desde 2010. E ainda mais: a gigantesca exibição de Mile Jedinak faz com que esta crónica seja sobre um rapaz católico de Sydney com pais croatas e não sobre o dinamarquês Christian Eriksen que – e permitam-me o latim – o rapaz católico de Sydney meteu no bolso durante 90 minutos.

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