Neymar e Philippe Coutinho têm a mesma idade: 26 anos. Nasceram ambos em 1992 e os dois ganharam o estatuto de estrela em clubes brasileiros: o primeiro no Santos, o segundo no Vasco. Tanto Neymar como Coutinho jogam atualmente na Europa, um em França, outro em Espanha. Mas há algo que os distingue. É que enquanto Neymar só cruzou o Atlântico aos 21 anos, Coutinho fê-lo logo aos 18. E melhor: Neymar saltou do Santos diretamente para o Barcelona com o carimbo de pop star e o mesmo fez quando foi para Paris. Coutinho foi contratado pelo Inter Milão em 2010, foi emprestado ao Espanhol, regressou ao Inter, esteve cinco épocas e meia em Liverpool e agora assentou arraiais em Barcelona.

Resumindo: em oito anos, Philippe Coutinho passou pelo futebol italiano, espanhol e inglês. Neymar passou pelo espanhol e pelo francês e não se adaptou realmente a nenhum. Vive dos lances individuais, das bolas rápidas, da finalização e do gene de futebol de rua que é inerente a qualquer jogador brasileiro. E este fator fulcral ganha relevo principalmente quando jogam juntos, na seleção. Neymar sofre muitas faltas, é verdade. Mas existe um motivo para um número tão elevado de interrupções porque o jogador do PSG está no chão. É que Neymar não aguenta, não luta, não vê o jogo a longo prazo e cai assim que sente um encosto; acredita que é melhor para a equipa, para o coletivo, que as bolas paradas são importantes e conquistou ali um lance decisivo.

Coutinho, por sua vez, aguenta as cargas, levanta a cabeça e entende que, na esmagadora maioria das vezes, é mais importante continuar e encontrar linhas de passe do que cair, cortar o jogo e quebrar o ritmo da partida. Porque é isto que os grandes jogadores fazem: aproveitam a marcação carregada que lhes está reservada e deixam os colegas livres, soltos, prontos para aproveitar o espaço que lhes é dado. Neymar é talentoso como poucos, criativo como quase nenhuns. Mas, e com exatamente a mesma idade, Coutinho tem uma experiência incomparável.

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Esta sexta-feira, o Brasil precisava de ganhar. Precisava de vencer a Costa Rica para conquistar uma posição confortável no que toca à passagem aos oitavos-de-final. Coutinho marcou, Neymar também: ambos no tempo de compensação. Mas a importância de um e outro para o coletivo foi incomparável. Neymar não apareceu na primeira parte e surgiu na segunda — caiu, voltou a cair, protestou, viu um cartão amarelo por palavras mais ácidas e esteve sempre completamente desconcentrado. Philippe Coutinho foi constante no meio-campo com o passe certo, a viragem de flanco certa, o cruzamento certo e a inteligência certa. Por tudo isto e muito mais, foi novamente considerado pela FIFA o melhor jogador em campo.

A dada altura, com o resultado ainda em 0-0, o árbitro holandês Bjorn Kuipers fez um gesto com a mão ao falar com Neymar. Parecia querer dizer “cresce”. Melhor conselho do que esse só dizer-lhe para falar com o amigo Philippe Coutinho.