O mais recente relatório divulgado pela Transport & Environment, organização não-governamental que se dedica à promoção de uma mobilidade mais “verde”, nota que a Europa está a ser largamente ultrapassada pela China, o que é tanto mais grave quanto isso acontece num sector-chave para a economia europeia: a indústria automóvel. A T&E partiu de dados que foram tornados públicos, fez as contas e concluiu que, só no ano passado, a China conseguiu captar 21,7 mil milhões de euros para a produção de veículos eléctricos, enquanto a Europa não foi além dos 3,2 mil milhões. Ou seja, sete vezes menos!

O que está em cima da mesa, nota a ONG, é se a Europa vai ou não acordar para estes números, isto é, se vai ou não adoptar políticas que estimulem a captação de investimento neste domínio, à semelhança daquilo que a China e o estado norte-americano da Califórnia fizeram. Sob pena de ver um quarto dos trabalhadores da indústria automóvel europeia, até 2030, perderem os seus postos de trabalho, se continuar de braços cruzados. Um cenário que colide claramente com a janela de oportunidade aberta pelos veículos eléctricos, na medida em que, ainda segundo a T&E, seria possível criar 200 mil novos empregos em toda a economia da UE, através de uma mudança para veículos de baixas e zero emissões produzidos na Europa.

Há vários estudos e trabalhos que apontam nesse sentido, recorda o organismo, tanto mais que as novas metas fixadas em termos de emissões de CO2 obrigam os construtores a fabricar veículos eléctricos ou com algum tipo de electrificação. A dúvida, portanto, é onde é que eles vão ser produzidos: se em solo europeu, ou se importados da China.

Se a Europa quiser colher os benefícios económicos, de emprego e ambientais da transição para a mobilidade eléctrica, tem de adoptar uma política que encoraje activamente o investimento no fabrico de veículos mais amigos do ambiente aqui na Europa, assim como a China e a Califórnia fizeram”, avisa a T&E.

Este alerta ocorre poucos dias antes do encontro dos ministros do Ambiente da UE, que se vão reunir já na próxima segunda-feira, dia 25 de Junho, para discutir o que é preciso fazer em relação às novas regras para as emissões de CO2 em veículos ligeiros. O objectivo, até 2025, é baixar 20% das emissões.

Políticas fortes podem ajudar a Europa a manter sua liderança global na indústria automóvel. Com metas fracas, é provável que a posição da UE e seu sector-chave sejam usurpados pela China”, antecipa a T&E.

O Grupo Volkswagen, a Daimler (Mercedes e Smart) e a Nissan são os maiores investidores na China, impulsionados por uma agressiva política que obriga os construtores a obter créditos para a produção de veículos eléctricos correspondente a 10% do mercado total de ligeiros de passageiros em 2019 e 12% em 2020. Mais, como o Governo chinês só subsidia a produção se a investigação e desenvolvimento (a propriedade intelectual) forem locais, o know-how que a China garante por esta via e os baixos custos da sua mão-de-obra podem ser “assassinos” para a indústria automóvel europeia. Neste momento, o dragão asiático é o que melhor se posiciona para, também no que toca à produção de veículos eléctricos, vir a ser a fábrica do mundo. Isto embora recentemente tenha alterado as regras do jogo, deixando cair a imposição de os construtores de automóveis terem de criar empresas locais em joint-venture com sócios do país – limitação que continuará até 2020, mas que ainda este ano deverá ser eliminada no caso dos veículos eléctricos.

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