Enviado especial do Observador à Rússia (em Saransk)

A zona mista estava tranquila, tinham falado apenas João Mário e Adrien, até que Ricardo Quaresma chegou. Em campo como fora dele, o extremo é diferente dos outros. Aberto, sem problemas de ir no 1×1, capaz de responder de trivela com a sinceridade com que dá outra magia a um jogo de futebol com a bola nos pés. Aos 34 anos, o jogador do Besiktas continua fiel ao carácter puro que tinha há 17 anos, quando foi lançado pela primeira vez na equipa principal do Sporting. Não tinha o prémio de Homem do Jogo na mão, mas ganhou também o imaginário prémio do Homem da Zona Mista.

“Estou feliz por tudo: por marcar, por jogar, por termos passado”, começou por dizer antes da primeira finta ao discurso mais politicamente correto. “Exibição? Vocês nunca estão contentes com nada, pois não?”, atirou com aquele sorrido malandro de quem não concorda com a pergunta mas também não quer entrar por aí. “Jogámos bem, sabíamos que íamos ter dificuldades. O Irão joga todo lá atrás, tivemos oportunidades, o que é que podíamos fazer mais?”, completou.

Quaresma festejou com Ronaldo mais um golo candidato ao top 5 dos melhores neste Mundial (FILIPPO MONTEFORTE/AFP/Getty Images)

Mas não ficaria por aqui, naquele que é o seu primeiro Mundial da carreira depois de ter ficado à porta da convocatória final sobretudo em 2002 e 2014 (e já lá vamos às outras edições, ou uma em específico). “Golo de trivela? Habituei-me a chutar dessa maneira. Melhor golo do Mundial? Sobre isso não sei”, comentou, antes de admitir que não saiu propriamente muito contente. “Sair assim como? Com azia? Vocês sabem como eu sou, quero sempre jogar o máximo. Nem deviam ligar já a essa coisa de sair com azia”, atirou novamente a sorrir, levando com toda a naturalidade o assunto. Segunda trivela. Mas haveria uma terceira, contra Carlos Queiroz, que acabou por deixá-lo também de fora do Campeonato do Mundo da África do Sul, em 2010, a propósito de uma pergunta que dizia apenas respeito a uma certa tentativa de desestabilização por parte dos jogadores iranianos ao longo do jogo: “Irritado com os iranianos? Sim. Mas mais com o treinador, deve respeitar mais os portugueses”. “Cartão vermelho a Ronaldo? Isso é uma conversa para outro dia…”, rematou.

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Antes falara João Mário. O médio, que manteve a titularidade no onze de Fernando Santos, admitiu que, antes do empate do Irão os jogadores sabiam que a Espanha estava a perder, mas nem por isso se livraram de um susto nos descontos. “Começámos bem. Sabíamos o que o adversário fazia e faz, uma equipa que luta muito e é muito agressiva. Tivemos sempre mais bola, depois houve o penálti do empate mas o mais importante é que passámos. Cada um tem de lutar com as suas armas. VAR? Hoje acho que foi um uso um bocado excessivo, qualquer coisa lá ia recorrer ao VAR… Vamos agora defrontar o Uruguai, também seria difícil se fosse a Rússia por jogar em casa. Na altura do penálti sabíamos que a Espanha estava a perder mas que estávamos qualificados, depois ainda tiveram aquela oportunidade perigosa… Não foi fácil, eles acreditaram até ao fim”, referiu.

Adrien travou uma luta complicada a meio-campo frente ao Irão, no primeiro jogo como titular no Mundial (JACK GUEZ/AFP/Getty Images)

Seguiu-se Adrien, que quando se preparava para falar não disfarçou o sorriso ao ver que, aproveitando essa presença do médio ao pé da zona onde estavam os jornalistas portugueses, Cristiano Ronaldo fintou-o por trás também a rir e seguiu para o autocarro. Com uma marca visível no lábio, provavelmente uma marca de guerra do encontro num lance mais agressivo, o médio colocou também o enfoque na importância de seguir em frente. “O objetivo foi cumprido, ficámos felizes por isso. Nota artística? Em qualquer jogo, se pudermos ter isso também tentamos, mas o mais importante é que mantivemos os nossos objetivos intactos. Senti-me bem em campo, já nos conhecemos todos uns aos outros. Como está o Ronaldo? O Cristiano tem uma confiança inabalável, uma mentalidade que tem como ponto forte o caráter, a confiança. Se houver mais um penálti, volta a marcar. Agora vem aí o Uruguai, mas ainda falta algum tempo. Estávamos focados nestes jogos do grupo e vamos agora analisar. Conhecemos os jogadores, claro, mas agora é ver também como joga a equipa”, analisou.

Por fim, e sem que tivesse passado um único jogador do Irão entretanto (talvez porque Carlos Queiroz esteve muito mais tempo do que é habitual na conferência de imprensa), José Fonte, central que teve uma visão distinta do lance com Cédric que daria o empate ao Irão. “Para mim não é penálti, não dá para saltar com os braços colados ao corpo, como é que depois se consegue fazer a elevação? No mínimo é muito duvidoso, mas temos de aceitar”, frisou, antes de elogiar também a exibição do companheiro Pepe. “É um jogador de grande qualidade, que transmite confiança e é uma segurança saber que ele está ali ao lado. Foi pena não termos conseguido manter a baliza inviolável. Agora é o Uruguai, se fosse a Rússia a jogar em casa também era complicado. Já vimos que não existem jogos fáceis e temos de preparar bem o jogo, escolher o plano de jogo certo”, concluiu.