O Campeonato do Mundo FIFA pode estar a decorrer a todo o gás e milhões de adeptos aguardam ansiosamente pelo desfecho da grande final de dia 15 de julho. Contudo, uma outra competição internacional de futebol já se antecipou ao definir os novos “reis do mundo” nesta modalidade. Trata-se da Conifa Paddy Power World Football Cup 2018, a competição “alternativa” que reúne seleções nacionais de “nações, países não reconhecidos, minorias e territórios isolados de desportos”.

Enquanto as equipas que estão na Rússia lutam pela prestígio e pelo orgulho, as que se digladiaram até ao passado dia 9 de junho — data da grande final — procuravam alcançar o reconhecimento. Esta competição que começou em 2013 é organizada pela Confederação de Associações de Futebol Independentes, a CONIFA, que se descreve como sendo uma “caridade, gerida por voluntários e politicamente neutra”. No total, fazem parte deste organismo 47 equipas, 16 das quais conseguiram-se qualificar para a competição que decorreu no Reino Unido.

Segundo um artigo da Time, os participantes deste campeonato do mundo vieram de todas as partes do mundo, dos Abkhazians do noroeste da Geórgia aos Metabelelanders do este do Zimbabwe. Contudo, de entre todos os participantes, destacaram-se quatro equipas — uma delas, claro, foram os vencedores, a seleção de Karpatalya.

A Szekely Land é um território que fica na zona centro da Roménia e é a casa de centenas de húngaros. Originalmente, este pedaço de terra fazia parte da Hungria mas com as Guerras Mundiais acabou por ser entregue à Roménia. O seu nome tem origem no dialeto húngaro que usam para comunicar, o Szekel.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Durante décadas (especialmente durante o período de ditadura), os habitantes da Szekely Land foram tratados como cidadãos de segunda, sendo proibidos de falar húngaro em público e não podendo ser eleitos para cargos de governação. Com o fim da União Soviética surgiu um ténue esperança de que a independência pudesse ser alcançada, especialmente depois de ter sido criado o movimento Aliança Democrática dos Húngaros na Roménia. Houve uma vaga de protestos pacíficos (com exceção de um, em 1990, onde houve cinco mortos) , mas a situação nunca se alterou. Esta equipa foi a quarta qualificada.

A Padania, o terceiro qualificado, é um aglomerado de várias regiões no norte da Itália, na zona à volta do vale do Rio Pó. Há vários anos que este movimento critica de forma intensa os seus conterrâneos do sul, afirmando que eles, o Norte “rico e trabalhador”, está sempre a sustentar os “pobres” do sul. Este argumento, porém, tem sido silenciado nos últimos tempos muito por culpa do grande aumento de popularidade do partido político que representa as ambições do povo do norte, a ex-Liga do Norte, atual Liga. Por se ter coligado com o Movimento Eurosético Cinco Estelas, esta Liga, foi forçada a atenuar as suas reivindicações — tidas por alguns como sendo bastante radicais.

Um dos participantes na final de 9 de junho foi o Chipre do Norte, que alcançou o segundo lugar. O Chipre, que alcançou a independência em 1960, tem sido um foco de tensões há várias décadas, estando na origem de várias disputas entre a Grécia e a Turquia. Atualmente, 78% da população desta ilha é grega-cipriota, enquanto apenas 18% é turca-cipriota: ambos os lados acordaram repeitar a unidade e independência do Chipre, mas à medida que os ânimos se exaltaram nas décadas de 60 e 70, uma junta militar em Atenas apoiou uma tentativa de golpe de estado liderada pelos gregos-cipriotas, em 1974., desencadeando uma invasão de tropas turcas no Chipre do Norte. Os conflitos entre fações mantiveram-se até aos dias de hoje, de tal forma que o Chipre do Norte declarou-se independente em 1983. A Turquia foi o único país a reconhecer esta “nova” nação.

Apesar de muita gente nem sequer saber pronunciar a palavra “Karpatalya”, ela foi a grande campeã desta competição. Situada na zona montanhosa dos Cárpatos, no oeste da Ucrânia, esta nação é vizinha da Polónia, Eslováquia, Hungria e Roménia. Tem cerca de 1.2 milhões de habitantes de variadíssimas religiões e etnias. Durante a confusão da Segunda Guerra Mundial, este território que já fez parte da antiga Checoslováquia declarou a sua independência 24 horas antes de ser anexado pela Hungria. Mais tarde acabou por ser reclamado pela Ucrânia soba égide da bandeira da URSS, numa altura em que a Europa estava dividida pela guerra. Quando se deu o colapso da União Soviética em 1991, um referendo chegou à conclusão de que 8 em 10 karpatianos queriam a independência. Isso de pouco serviu, já que a mesma foi-lhes negada.

Um dado curioso sobre este pseudo-país é o facto de, recentemente, ter estado no centro de uma polémica que envolveu o ministro do Desporto ucraniano. Igor Zhadanov utilizou a sua conta de Facebook para recriminar a participação da equipa de Karpatalya, deixando a seguinte mensagem: “Peço aos Serviços Secretos da Ucrânia que respondam de forma apropriada a este acto de separatismo desportivo. É necessário interrogar os jogadores desta equipa para perceber o propósito deste questionar da integridade territorial da Ucrânia e para saber se têm alguma ligação a grupos terroristas ou separatistas.”