Pela última vez neste Mundial, o já eliminado Egito entrará em campo para defrontar a também já arredada Arábia Saudita e, à semelhança do primeiro encontro frente ao Uruguai, o astro maior dos faraós, Mohamed Salah, poderá não ir a jogo. Mas, se Salah falhou a partida inaugural devido a lesão, o mesmo não se pode dizer caso não jogue frente aos sauditas – as relações entre Salah e a Federação Egípcia têm vindo a deteriorar-se e podem levar à recusa da estrela do Liverpool em participar na partida da despedida egípcia no Mundial e, em último caso, à renúncia à seleção.

Durante a semana, Salah já se tinha desentendido com os dirigentes da Federação Egípcia por alegado uso não contratual da sua imagem, tendo também manifestado desagrado com a presença de celebridades e empresários na concentração da seleção. A gota de água terá sido durante a noite de sábado, quando o atleta foi obrigado a participar num jantar com o líder da Chechénia, Ramzan Kadyrov, contra a sua vontade. Segundo a CNN, terá sido este evento a dar a machadada final nas relações entre Salah e a Federação Egípcia.

A imprensa egípcia avança que Salah teve uma acessa discussão com o diretor da Federação Egípcia, Ehab Lehita, mas a situação foi prontamente desmentida pelo órgão que tutela o futebol egípcio. “Não houve qualquer discussão sobre a permanência do Salah na seleção durante as últimas horas. Nós somos sempre informados das decisões tomadas por ele. Estamos num evento da FIFA, sabemos como são os procedimentos e, se há alguma discussão política, esta deverá passar pela FIFA”, pode ler-se em nota enviada pela Federação Egípcia à FIFA.

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De recordar que, no final de Abril, o avançado do Liverpool mostrou o seu descontentamento ao ver a sua imagem usada sem autorização no avião da comitiva egípcia. Salah utilizou mesmo o Twitter para descrever o acontecimento como “um grande insulto”. Mais tarde, voltaria à rede social para anunciar um acordo entre as duas partes e “fazer as pazes” com a Federação.

Ramzan Kadyrov já tinha marcado presença num treino da seleção egípcia antes da estreia no Mundial, a 10 de Junho. No último sábado, repetiu a presença junto da comitiva do Egito, acabando por jantar com Salah e outros membros da delegação (Créditos: Getty Images).

O acordo pode ter durado apenas até este sábado, quando o líder checheno visitou a comitiva egípcia pela segunda vez – Ramzan Kadyrov já havia ido a um treino do Egito antes da estreia frente ao Uruguai – e jantou com Salah. Na presença de vários órgãos de comunicação social, o líder checheno aproveitou para anunciar que concedeu a Salah o título de cidadão checheno, algo que não caiu bem ao astro egípcio, que diz não se sentir confortável ao ver-se envolvido em situações de natureza política. 

Ramzan Kadyrov é o líder da região da Chechénia desde 2007, onde representa o governo russo. A situação chechena é uma questão marcada por violentos conflitos separatistas, que teve o seu início após a dissolução da antiga União Soviética e parece não ter fim à vista. Ramzan Kadyrov é acusado de permitir abusos contra os direitos humanos, discriminando mulheres e homossexuais, para além de não permitir qualquer oposição política, repreendendo e perseguindo os seus inimigos. São vários os assassinatos e crimes que se suspeitam poder ter mão do líder checheno, com o assassinato de Boris Nemtsov, líder da oposição russa em 2015, à cabeça.