Portugal ficou em segundo lugar no grupo B e vai encontrar-se com o Uruguai no próximo sábado, dia 30, em Sochi, jogo a contar para os oitavos-de-final do Mundial da Rússia. Os uruguaios de Óscar Tabárez venceram o grupo A (que incluía também a Rússia, o Egito e a Arábia Saudita), ganharam todos os jogos e não sofreram qualquer golo. A Seleção Nacional sofreu quatro. Este Uruguai de 2018 quer repetir o de 2010 no primeiro Campeonato do Mundo em África, em que foi a equipa sensação e deixou para trás França, África do Sul, México, Coreia do Sul e Gana. Numa altura em que já se pensava que podia repetir o feito de 1930 e 1950, perdeu com a Holanda nas meias-finais – num jogo em que até esteve ganhar.

De 2010 para cá, as coisas mudaram. Mas não mudou Tabárez, selecionador nacional uruguaio desde 2006. O Uruguai tinha um estilo: equipas construídas de trás para a frente que tinham como objetivo tornar o golo adversário o mais difícil possível. As equipas dos últimos dez anos tinham como base um eixo central recuado forte e estável, apoiado em laterais que só atacavam quando era estritamente necessário. O meio-campo era tradicionalmente mais combativo do que criativo e tinha como real propósito executar um futebol vertical e servir os avançados. No fundo, o Uruguai não precisava de muito mais a não ser uma defesa estável e um ataque perigoso.

Mas as coisas mudaram. A equipa, que jogava junta há muitos anos, precisava de renovação – especialmente no meio-campo. Com novos jogadores, surgiu um novo estilo. A emergência de elementos como Federico Valverde, Rodrigo Bentancur, Nahitan Nández e Matías Vecino forçaram Óscar Tabárez a mudar de estratégia e de abordagem. Assim sendo, o meio-campo uruguaio ganhou velocidade, versatilidade, criatividade, mas perdeu força, robustez e assertividade.

O Uruguai tem pontos fortes, tem pontos fracos e tem Suárez-Cavani, uma das melhores duplas ofensivas deste Mundial.

Os pontos fortes que Portugal terá de ter em conta

Bolas paradas

O Uruguai marcou cinco golos neste Mundial. Todos eles foram marcados de bola parada. Três no seguimento de cantos, um no seguimento de um livre e outro de livre direto. Esta é, obviamente, uma das qualidades da seleção uruguaia que Portugal terá de preparar bem. A altura e eficácia de Pepe e José Fonte no jogo pelo ar serão trunfos que a Seleção Nacional terá de saber usar.

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Quanto aos livres, é necessário ter atenção aos homens que ficam à entrada da área. Laxalt, Vecino e Bentancur rematam bem e gostam de ficar à espera de uma segunda bola letal.

Sistema tático

É um clássico: 4-4-2, laterais subidos, quatro médios em linha com dois quasi extremos a aproveitar os espaços interiores e dois avançados que tanto se fixam na área como recuam para vir buscar jogo. Foi assim que o Uruguai jogou nas duas primeiras partidas, com o Egito e a Arábia Saudita (com a Rússia foi diferente, mas já lá vamos). Vecino e Bentancur assumem o meio-campo e dão liberdade aos extremos – que tanto podem ser Arrascaeta, Laxalt, Cristian Rodríguez, Sánchez ou Nández. Lá atrás, a defesa assenta na segurança de Giménez e Godín e na capacidade de recuperação defensiva pós-ataque de Cáceres e Maxi Pereira (ou Varela).

Na frente, Cavani e Suárez são letais mas também têm o espírito de sacrifício necessário para correr mais do que todos os outros, defender, lutar, atacar. Portugal terá de saber bloquear um meio-campo criativo que vive para servir os dois homens da frente – ao mesmo tempo que os marca, já que não precisam de mais ninguém para além de eles próprios para criar jogadas de perigo.

Bentancur e Vecino têm tido lugar cativo no eixo do meio-campo, enquanto que os corredores laterais já tiveram vários donos. É provável que, com Portugal, Óscar Tabárez aposte em Nández e Sánchez, os dois jogadores que tiveram exibições mais positivas nesta fase de grupos.

Dupla de centrais

Cristiano Ronaldo e quem quer que seja que jogar mais perto dele terão de enfrentar uma das melhores duplas de centrais deste Campeonato do Mundo. Para além de formarem dupla na seleção, Godín e Giménez jogam juntos semana sim semana sim, no Atl. Madrid. Entendem-se sem palavras e adivinham o passo seguinte um do outro, sendo o complemento certo quando alguém falha. E existe sempre também Coates, que conhece bem alguns dos jogadores portugueses.

Fortes no jogo aéreo, prometem causar muitos problemas aos atacantes portugueses. O facto de serem a dupla de centrais titular do Atl. Madrid tem ainda outro “problema”: o conhecimento profundo dos movimentos de Cristiano Ronaldo (sendo que, muitas vezes, nem assim conseguem parar o avançado). Ainda que seja fundamentalmente imprevisível, o capitão português terá pela frente dois homens que o conhecem bastante bem. Mas, em retrospetiva, o mesmo aconteceu com Espanha, quando Sergio Ramos e Piqué foram os jogadores responsáveis por Ronaldo. E todos sabemos como é que isso acabou.

Os pontos fracos que Portugal pode aproveitar

Falta de controlo emocional

Tal como a grande maioria das seleções sul-americanas, o Uruguai tem um longo historial de problemas disciplinares – a começar obviamente por Suárez, a passar por Cavani e a terminar nos tão bem conhecidos dos portugueses Sebastián Coates e Maxi Pereira. Se o jogo, seja devido ao resultado ou a um qualquer motivo de desestabilização, descambar para a seleção de Tabárez, será complicado controlar os ímpetos mais irracionais dos jogadores da albiceleste.

Algo que Portugal pode aproveitar, seja por prováveis erros defensivos, faltas inconsequentes ou escassez de discernimento.

Defesa a três centrais

Esta segunda-feira, no jogo frente à Rússia que venceu por 3-0 e que valeu a liderança do grupo, Óscar Tabárez decidiu apresentar uma equipa apoiada em três centrais: Coates, Godín e Cáceres. Se o selecionador uruguaio decidir jogar desta forma frente a Portugal – e mesmo que Fernando Santos se apresente como é tradição, em 4-4-2 -, o jogo português pode ser facilmente adaptável para uma situação de igualdade numérica lá na frente, com Ronaldo, Bernardo Silva ou Quaresma, André Silva ou Gonçalo Guedes.

Para além da redução de homens no setor defensivo, Tabárez reforçou o meio-campo com um médio defensivo (esta segunda-feira foi Torreira) e colocou Bentancur e Vecino num papel mais ofensivo. Nas laterais, Nández e Laxalt assumiram todo o corredor e cumpriram um jogo de alto desgaste. Nas transições ofensivas do adversário, por motivos óbvios, cria espaços vazios e obriga os dois jogadores a atuar no eixo a dobrar as laterais, que ficarão com certeza desprotegidas. Assim sendo, das duas uma: ou Vecino e Bentancur alargam o diâmetro do jogo para cobrir o corredor, criando uma abertura no meio-campo, ou Cavani e Suárez assumem esse papel, deixando sempre a frente atacante reduzida a um homem.

Seja como for, se Óscar Tabárez decidir jogar com três centrais e falsos extremos e fazer todo o corredor, Portugal pode aproveitar.

Menos capacidade física no meio-campo

A criatividade e o talento individual de Vecino e Bentancur criam oportunidades de golo e calafrios a todas as defesas adversárias. Mas a leveza e versatilidade dos dois uruguaios tirou pujança ao meio-campo uruguaio – e não é difícil prever quem ganha em caso de confronto físico com William Carvalho. O centro do jogo do Uruguai não é combativo nem aplica grande espírito de sacrifício, vivendo de transições rápidas e jogadas com poucos toques.

Portugal pode aproveitar para implementar um jogo mais forte, rasteiro e terreno, obrigando a grandes lutas físicas e a um desgaste elevado.

Suárez e Cavani

Quando se fala de Portugal diz-se que, embora não dependa de Cristiano Ronaldo, a Seleção Nacional pode sempre contar com a imprevisibilidade do capitão português. De um momento para o outro, num jogo que aparenta estar perdido e sem solução, Ronaldo pode soltar um drible, marcar um livre, inventar um jogada que resolve a situação. O mesmo acontece com o Uruguai. Suárez e Cavani não podem ser considerados pontos fortes porque não o são: são trunfos. São a carta que se guarda na sueca mas que não tarda a aparecer para resolver. A dupla de avançados junta o que de melhor há no futebol e é responsável por 96 golos e mais de 200 internacionalizações.

Uma coisa é certa: Pepe e José Fonte vão passar os dias até sábado a ver vídeos de desmarcações, livres, cantos, jogadas, arrancadas e mais mil e uma maravilhas que Suárez e Cavani assinaram nos últimos tempos.