Para fazer com que algo perdure no tempo, há que seguir alguns truques. Ou se ergue uma construção monumental que, pelo seu peso e alicerces, se torna impossível de apagar da paisagem — o caso da Torre Eiffel –, ou se concebe um objeto leve e portátil, que pela simplicidade do seu design nunca deixa de ser útil nem passa de moda. A história começa em 1889, ano em que Paris abriu portas à grande Exposição Universal, época em que o ferro era material para toda a obra. Desse ferro nasceu a Simplex, uma cadeira sem pretensões a ser uma obra-prima do design, mas cuja patente foi registada nesse mesmo ano, por Édouard Leclerc. Mais inteligente do que sofisticada, esta cadeira estava na cidade certa à hora certa. “Os bares de Paris não queriam pagar taxas para ter esplanadas permanentes, então, muitos arranjaram peças que se pudessem desmontar facilmente”, conta Philippe Joyeux, proprietário da nova loja da Fermob em Lisboa, a primeira da Península Ibérica.

Composta por uma estrutura dobrável em ferro e por ripas de madeira, a cadeira populou os cafés e jardins de Paris, juntamente com as pequenas mesas, igualmente fáceis de montar e desmontar. Durante décadas, foi copiada e produzida em grande escala. Foi o que fez a Société Ségéral, nome dado por Raymond Ségéral à pequena oficina do pai, em Thoissey, perto de Lyon. Na mesma altura, já nos anos 50, o herdeiro decidiu revolucionar o negócio da família. Deixou de fazer apenas ornamentos para os edifícios da época, industrializou a produção e começou a fazer mobiliário de jardim. Entre os moldes estava a cadeira parisiense, claro. Cerca de 20 anos depois, Raymond morreu e a empresa foi comprada pela Neyrat-Peyronie, fabricante de chapéus de sol e de guarda-chuvas. Em 1977, a fábrica que descendia da velha oficina fundada pelos Ségéral, ainda no século XIX, ganhava um novo nome: Fermob.

Cadeiras Bistro na fábrica da Fermob, nos arredores de Lyon, Hoje, o preço de uma destas cadeiras varia entre 67€ e 105€ © Fermob

Em 1989, ano em que a peça articulada assinalou 100 anos, a marca voltou a ser vendida, desta vez a Bernard Reybier. O mobiliário de plástico começa a invadir o mercado e o empresário respondeu à concorrência com uma overdose de cor. Há 29 anos, a fábrica, que se mantém na mesma localidade francesa, empregava à volta de 10 artesãos do fer forgé. Hoje, a Fermob conta com cerca de 200 funcionários. Como produto estrela, adotou a velha cadeira e deu-lhe o nome de Bistro. O passo seguinte foi modernizá-la. O ferro foi trocado por alumínio, para deixá-la mais leve, e o acabamento tradicional que, de tempos a tempos, exigia a sua manutenção, foi substituído por uma técnica muito semelhante à pintura dos automóveis. Faça chuva, neve ou sol, a Bistrô continua a ser feita para estar ao ar livre.

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Ange, a cadeira desenhada por Jean-Charles de Castelbajac para a Fermob. Custa 350€

Quanto à Fermob, é normal que nunca tenha ouvido falar nela. Até aqui, a marca tem sido vendida por representantes, através dos quais conquistou, nos últimos anos, uma vasta legião de fãs, sobretudo arquitetos e designers de interiores. O segredo (ou um deles, pelo menos) está na cor. São 24, saltam à vista e qualquer peça que encontre dentro da loja pode ser comprada em qualquer um dos tons disponíveis. Pode mesmo dizer-se que a Fermob está para o mobiliário como a Benetton está para a roupa. O design também é um ponto forte. Desde o primeiro dia á frente da marca, Beybier tem promovido o trabalho conjunto com designers de renome, entre eles o britânico Terence Conran, fundador da cadeia de lojas Habitat, Frederic Sofia, autor da linha Luxembourg, essa sim originalmente concebida pela marca, e Jean-Charles de Castelbajac, designer que assina a romântica Ange.

Interior da loja, na zona de Santos, em Lisboa © Fermob

Atualmente, a marca fornece as mesas, bancos e cadeiras do Jardin des Tuileries e do Jardin du Luxembourg. Quanto às famosas cadeiras, fora da Europa, é possível encontrá-las em Times Square e em Bryant Park, em Nova Iorque. Em 2014, a propósito dos 125 anos da Bistro, a Fermob construiu uma réplica da Torre Eifeel usando mais de 300 cadeiras vermelhas. Todos os anos, a marca vende 100.000 destas cadeiras. “Deep Blue” e “Pink Praline” foram as últimas cores a juntarem-se ao catálogo. Com uma loja própria em Lisboa, a Fermob quer dar-se a conhecer ao público português. “Aqui, ainda são sobretudo os estrangeiros que conhecem — suecos, alemães e, claro, franceses. Há dias, passou por aqui uma australiana que tinha peças nossas em casa e aconteceu o mesmo com um americano de Seattle e com dois clientes de Xangai”, conta Philippe.

Nos últimos anos, a marca tem explorado o universo da decoração para além do mobiliário. Na loja lisboeta encontram-se pequenos objetos utilitários em alumínio, como tabuleiros e bases para quentes, mas também candeeiros recarregáveis e uma nova vaga de têxteis que inclui almofadas, toalhas e mantas. Ainda assim, os ambientes ao ar livre continuam a ser o forte da Fermob. De ferro já há muito pouco, mas a história está lá toda.

Nome: Fermob
Morada: Avenida D. Carlos I, 29-33
Telefone: 21 584 0171
Horário: De segunda a sábado das 10h às 19h