Foram semanas de especulação sobre qual das duas propostas de lei sobre a imigração, atualmente a serem discutidas na Câmara dos Representantes, o Presidente norte-americano preferia. Donald Trump foi alimentando o tabu, dizendo que assinaria qualquer proposta aprovada por uma maioria de republicanos — mas esta quarta-feira instou os congressistas do seu partido a apoiarem a nova versão da chamada proposta Goodlatte, considerada a mais restritiva das duas propostas.

“Os republicanos da Câmara dos Representantes devem aprovar a proposta de lei forte, mas justa conhecida como Goodlatte II“, escreveu o Presidente na sua conta de Twitter em maiúsculas.

A proposta está, à partida, condenada — como o próprio Presidente reconhece, ao dizer que não será aprovada no Senado. Contudo, Trump defende que a tomada de posição a favor da proposta é necessária, já que tornará claro que os republicanos querem “fronteiras e segurança fortes, enquanto que os democratas querem fronteiras abertas”, o que, para o Presidente, equivale a mais criminalidade.

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O anúncio do Presidente surge depois de na passada sexta-feira ter escrito que os republicanos deveriam deixar de “perder tempo” com uma reforma para a imigração enquanto não houver eleições para o Congresso em novembro, o que pode representar uma reconfiguração tanto da Câmara dos Representantes como do Senado. “Poderemos aprovar ótima legislação depois da Onda Vermelha”, escreveu, referindo-se a uma vitória expressiva do Partido Republicano, representado pela cor vermelha.

Contudo, como relembra o Politico, o apoio do Presidente a esta proposta não significa necessariamente uma votação em massa por parte dos congressistas republicanos na Goodlatte II. Uma primeira versão desta proposta foi inclusivamente chumbada na passada quinta-feira, com 41 republicanos a votarem contra, ao lado de todos os 190 democratas da Câmara.

A Goodlatte II é uma das duas propostas de lei atualmente a serem negociadas no Congresso e contrasta com uma proposta mais moderada para a imigração, atualmente a ser negociada entre alguns republicanos e os democratas, que prevê a atribuição de cidadania aos chamados Dreamers — os filhos de imigrantes ilegais que foram levados para os Estados Unidos quando ainda eram menores de idade. Em troca, os republicanos que apoiam a proposta querem maior financiamento para a segurança nas fronteiras. Contudo, as negociações têm-se arrastado, sem ter sido ainda alcançado um compromisso entre os dois partidos: “Tem havido algumas negociações e em cada uma delas há membros que trouxeram algo à proposta, mas nunca conseguimos chegar a um ‘sim'”, declarou um republicano presente nas negociações à CNN.

Por outro lado, a proposta Goodlatte voltou a ser colocada em cima da mesa pelos republicanos mais anti-imigração, que encaram a atribuição de cidadania aos Dreamers como uma “amnistia”. Em vez disso, esta proposta prevê a atribuição de vistos de três anos aos Dreamers, com possibilidade de renovação. A Goodlatte inclui ainda medidas para o aumento da segurança na fronteira, limitação da ação das chamadas “cidades santuário” (cidades que limitam a sua colaboração com o Governo federal em matérias de imigração a fim de evitar deportações) e criação de um sistema online onde os empregadores têm de confirmar se estão a contratar um trabalhador em situação legal.

A proposta será apresentada a votação esta quarta-feira na Câmara dos Representantes e, para já, parece não reunir votos suficientes para ser aprovada. Dois membros do Partido Republicano contactados pelo Washington Post, que preferiam não se identificar, declararam que a tomada de posição do Presidente não deverá alterar o chumbo.