“Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”, é uma frase que muitas vezes se costuma dizer, na gíria popular, quando o acaso, por exemplo, revela-se tão certeiro que quase parece formar um padrão lógico. Verdade ou não, a realidade é que muitas vezes, diversos pormenores ou ocorrências parecem formar uma espécie de guia que nos permite, por exemplo, adivinhar o futuro. Se pegarmos neste conceito meio nebuloso e o aplicarmos ao sucesso da Seleção Nacional, quase que se pode arriscar a dizer que Portugal será campeão do mundo. Ora vejamos.

Euro 2016: A 22 de julho, Portugal carimbava o acesso aos oitavos-de-final da competição numa partida contra a Hungria. Depois de dois jogos tristonhos onde nunca foi além do empate (a 1 com a Islândia e a 0 com a Áustria), o jogo contra esta seleção da Europa central começou por parecer um descalabro quando Zoltán Gera marcou o primeiro golo do jogo, logo aos 19 minutos. Nani conseguiu repor a igualdade aos 42′, mas o cenário não parecia promissor. O intervalo chegou e todos temiam o pior, principalmente quando logo no início da segunda parte os húngaros voltaram à liderança, graças a um tiro certeiro de Dzsudzsák (aos 47′). Porém, como em qualquer conto de fadas, a revolução surge quando menos se esperava: João Mário cruza e Ronaldo, dentro da área, torna-se o primeiro jogador a marcar em quatro fases finais de competições europeias com um belíssimo toque de calcanhar que acaba no fundo da baliza de Gábor Király. O cronómetro batia nos 50 minutos e a força anímica da equipa das quinas parecia reforçada — e não é que estava mesmo? Apesar de a Hungria ter conseguido marcar cinco minutos depois da obra-prima de CR7, o astro português voltou a fazer o gosto ao pé (ou melhor, à cabeça) quando concretiza da melhor forma um cruzamento teleguiado de Ricardo Quaresma. 3-3, indicava o marcador no final. Portugal seguia em frente.

Voltemos uns dias atrás, ao jogo com a Áustria, a 18 de junho. Depois de uma partida difícil, onde os austríacos mostraram que não eram favas contadas, Ronaldo (e Portugal) recebe uma oportunidade de ouro, aos 79′, de garantir o triunfo. Raphael Guerreiro corre pelo flanco esquerdo, embalado, cruza para a grande área e Cristiano, num duelo com central Martin Hinteregger, é travado em falta. O árbitro apita e é assinalado penálti. Toda a gente acreditava que o golo estava certo… Mas não. A bola vai tão cesgada para o lado esquerdo da baliza que bate no poste e sai. O jogo acaba pouco depois com um empate a zero.

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A Croácia é uma das seleções nacionais que melhor percurso está a fazer no Mundial de 2018. Há dois anos, o seu registo era semelhante ao de hoje, isto, pelo menos, até encontrar Portugal nos oitavos-de-final do Europeu. O jogo realizado na cidade de Lens, em França, foi duríssimo para ambas as equipas. Várias chances perdidas, muita intensidade e ambos os lados a não arriscarem muito, com medo de hipotecar a passagem à ronda seguinte. Os 90 minutos chegaram ao fim e o zero a zero mantinha-se no marcador: Seria preciso ir a prolongamento. Os jogadores começavam a mostrar sinais de cansaço, o ritmo de jogo desceu, mas a Seleção Nacional tinha o “Harry Potter” do seu lado. Ricardo Quaresma é lançado aos 87 minutos (saiu João Mário) e depois de alguns lances perigosos, Renato Sanches lança um contra ataque rápido, a equipa adversária estava desiquilibrada, Ronaldo desmarca-se à direita, chuta, Danijel Subašić defende mas o ressalto sobra para Quaresma, que só teve de encostar. Aos 117′, Portugal fazia o 1-0 final. Estávamos a 25 de julho de 2016.

E o que tem tudo isto a ver com o Mundial que está hoje a ser disputado? É aqui que entram as coincidências. No primeiro jogo desta competição, Portugal enfrenta a toda-poderosa Espanha e o resultado é um empate com três golos para cada lado — tal como aconteceu com a Hungria, há dois anos. Passando à frente, para o jogo contra o Irão: a Seleção Nacional já estava a ganhar por um quando é assinalado um penálti a favor das Quinas. CR7 chega-se à frente, claro, e o guarda-redes iraniano defende. O astro madeirense falhava o penálti, tal e qual tinha feito contra a Áustria, em 2016. A piéce de resistance, porém, é ainda mais assustadora: no mesmo jogo contra o Irão, Ricardo Quaresma foi salvador ao marcar o golo que deu a vitória (e o apuramento para os “oitavos”) à equipa portuguesa. Que dia era? O mesmo em que salvou a equipa em 2016 contra a Croácia: 25 de junho.

Curiosidades destas valem o que valem, mas a verdade é que a expressão que abre este texto tem alguma razão de ser. Em 2016, tudo o que aconteceu culminou com o primeiro título europeu de Portugal. Se as “brujas” existirem mesmo e se olharmos para o percurso igual que a equipa nacional está a fazer, é melhor começarem já a guardar espaço nas vitrines da FPF para o “caneco” que virá no próximo dia 15 de julho. É esperar para ver.