O Facebook patenteou um sistema que consegue aceder ao microfone dos utilizadores e monitorizar o que estão a ver e ouvir na televisão, explica o The Guardian. É uma espécie de Shazam (app que ouve canções e as identifica) para a TV não controlado pelo utilizador, ou seja, não é ele que decide quando ativa o sistema.

De acordo com a descrição entregue com o pedido de patente, o sistema integra uma impressão digital de áudio, incorporada em programas de televisão ou anúncios, que o ouvido humano não consegue detetar e que, por sua vez, aciona o microfone do telefone ou tablet gravando “o ambiente”. A gravação segue depois para um banco de dados, que permite ao Facebook identificar o que aquela pessoa estava a ver na televisão.

Desta forma, as pessoas que trabalham na indústria sabem quem está a ver os programas que estão a transmitir e durante quanto tempo. O objetivo é usar esta informação para criar perfis individuais ou familiares, para fazer uma melhor recomendação de conteúdo e direcionar mais a publicidade.

No ano em que a maior rede social do mundo tem vivido sobre o assombro da privacidade, que emergiu com o caso Cambridge Analytica, o registo desta patente vem preocupar ainda mais os especialistas.

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“É extremamente desconcertante em matéria de privacidade ter um sinal inaudível, porque isso significa que não é óbvio para o utilizador o que é que o aparelho está a ouvir”, afirmou ao The Guardian William Budington, da Electronic Frontier Foundation.

O Facebook desvalorizou as críticas. Em comunicado, o responsável pela propriedade intelectual do Facebook, explicou que é prática comum registar patentes para prevenir que outras empresas façam o mesmo primeiro. “A tecnologia desta patente ainda não foi incluída em nenhum dos nossos produtos, nem vai ser nunca”, disse.

Em março de 2018, o The New York Times e o The Guardian noticiaram que a empresa de análises de dados britânica Cambridge Analytica utilizou indevidamente dados de 87 milhões de utilizadores do Facebook para ajudar a eleger Donald Trump, nas eleições legislativas de 2016. Depois deste episódio, Mark Zuckerberg foi ouvido durante 10 horas em dois dias, no Congresso norte-americano, e também no Parlamento Europeu, onde pediu desculpa pela falha de segurança.

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