“A Europa é, provavelmente, tão má quanto a China. Só é mais pequena”, atirou Donald Trump em declarações à Fox News sobre o tema da chamada “guerra comercial” iminente. Os comentários do presidente norte-americano levam a crer que podem ser anunciadas, nas próximas semanas, novos aumentos das taxas aduaneiras no comércio entre os dois blocos — uma expectativa que está a amargurar o desempenho das bolsas de valores nesta primeira sessão da segunda metade do ano. Um setor que parece estar na mira de Trump é o setor automóvel, mas a Comissão Europeia já avisou que se Trump agravar esse imposto aduaneiro irá haver uma retaliação sobre produtos norte-americanos que valem 300 mil milhões de dólares.

Já terá desvanecido qualquer efeito das “explicações” de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o que une os EUA e a Europa, já que Donald Trump voltou a retratar a União Europeia como uma inimiga que é desfavorável aos interessas dos EUA. “É terrível o que nos fazem — são tão maus como a China, só mais pequenos”, comentou o presidente norte-americano, em entrevista à Fox News (a parte em que Trump fala sobre a Europa começa aos 13m47s, aproximadamente).

Questionado pela jornalista sobre a relação com os “aliados” europeus, Trump interrompe e responde: “desculpe, a União Europeia é possivelmente tão má quanto a China. É terrível o que nos fazem”. “Veja o exemplo dos carros”, defende Trump — “eles mandam os Mercedes deles para cá e nós não podemos mandar para lá os nossos carros”.

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Outro exemplo: “o que fazem com os nossos agricultores. Eles não querem os nossos produtos lá, porque protegem os agricultores deles. Nós não protegemos os nossos e eles protegem os deles”, defende Donald Trump. “No ano passado, se olharmos para a balança comercial — que eu, pelo menos, acho que é uma coisa importante — a Europa ganhou 151 mil milhões de dólares”, comentou Trump, comentando que “ama” os países como a Alemanha e a Escócia “mas eles tratam-nos muito mal”.

Além disso, lembra Trump, “gastámos uma fortuna com a NATO, para os proteger”.

Quem é, afinal, o “porquinho mealheiro” de quem?

Se Trump avançar com um imposto agravado sobre as importações norte-americanas de carros, a Comissão Europeia não deixará de reagir, tornando a “guerra comercial” um cenário cada vez mais real. Segundo o Financial Times, tal iniciativa de Trump irá levar a uma retaliação global capaz de afetar as exportações norte-americanas no valor de 300 mil milhões de dólares. O impacto será sentido “em vários setores da economia norte-americana”, estando em causa algo como 19% das exportações do país no ano passado.

O aviso está numa carta enviada ao Departamento do Comércio norte-americano, a que o diário financeiro londrino teve acesso. Depois das taxas aplicadas ao aço e ao alumínio, a Comissão Europeia avisa que a decisão de Trump pode “resultar em mais uma violação da lei internacional” por parte dos EUA, além de “danificar ainda mais a reputação” do país.

As empresas norte-americanas do setor, como a General Motors, têm feito avisos repetidos ao presidente norte-americano de que as taxas aduaneiras irão aumentar os preços dos veículos em milhares de dólares, penalizando a competitividade da empresa. Já a alemã BMW, que produz carros na Carolina do Sul e exporta 70% da produção, também avisou que estarão em risco muitos empregos se forem aplicadas as tarifas aduaneiras de que Trump fala há várias semanas.