A notícia circulava desde a manhã desta terça-feira, citando um artigo do New York Times: Donald Trump escreveu aos aliados da NATO a queixar-se da falta de cumprimento da meta dos 2% do PIB em Defesa, numa tentativa de pressionar um reforço dos compromissos. E Portugal constava dessa lista de correspondência do Presidente dos EUA, juntamente com outros países como a Alemanha, Espanha, Itália, Noruega, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Canadá.

Mas, ao que o Observador apurou junto de fontes diplomáticas, essa carta – a existir – nunca foi recebida em Lisboa. Nem via gabinete do Primeiro-Ministro – Trump terá escrito aos chefes de Governo dos países aliados – , nem via NATO. E mesmo que tivesse chegado, dizem as mesmas fontes, o assunto estava ultrapassado depois das reuniões de trabalho do governo e do Presidente da República em Washington, na semana passada.

Marcelo e Trump discutiram plano para Portugal atingir meta de despesa com NATO

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Se por um lado, faria sentido que a Casa Branca incluísse Lisboa como destinatário dessa carta (os gastos com defesa em Portugal não ultrapassam os 1,32% do PIB), por outro parecia incoerente com a declaração conjunta assinada pelos dois países aquando da visita de Marcelo Rebelo de Sousa aos Estados Unidos no final de junho, depois de um encontro com Donald Trump.

Os assuntos relacionados com a NATO estiveram na agenda das conversas bilaterais e no comunicado final conjunto, divulgado a 27 de junho, ficou explícito que os dois Presidentes falaram “dos esforços conjuntos para o fortalecimento” da Aliança Atlântica, incluindo “o plano credível de Portugal para atingir as metas de despesa com defesa da Aliança.”

Dias antes da chegada do Presidente da República a Washington, também o Ministro dos Negócios Estrangeiros tinha preparado caminho nesse sentido. Augusto Santos Silva chegou mais cedo e teve reuniões de trabalho com a administração norte-americana, incluindo com o homólogo, o secretário de Estado Mike Pompeo.

Na altura, a 22 de junho, o Departamento de Estado norte-americano comunicou que os dois chefes da Diplomacia tinham reafirmado o compromisso mútuo entre os Estados Unidos e Portugal para aumentar as despesas com a defesa da NATO.

Ou seja, estavam assumidos os passos para resolver um problema que tem estado frequentemente na agenda da diplomacia norte-americana.

Em causa, o compromisso alcançado em 2014, na cimeira da NATO no País de Gales, em que os países membros presentes acordaram estabelecer uma meta de 2% do PIB em gastos com a Defesa, até 2024. Atualmente a maioria dos países europeus e o Canadá ainda não atingiram esse valor, e os Estados Unidos têm manifestado publicamente a  “frustração” com a maior preponderância que têm assumido na NATO face aos restantes países.

EUA e Portugal assumem compromisso de aumentar despesas com a NATO

Algumas dessas cartas chegaram a ser divulgadas na imprensa internacional, incluindo a que foi enviada ao Primeiro-Ministro canadiano Justin Trudeau e aos chefes de governo da Alemanha, da Bélgica ou da Noruega.

“Há uma frustração crescente nos Estados Unidos com o facto de alguns aliados não terem assumido as responsabilidades como prometeram”, escreveu o Presidente na carta enviada à chanceler alemã, Angela Merkel, a que o New York Times teve acesso.

“Os Estados Unidos continuam a destinar mais recursos à defesa da Europa quando a economia do Continente, incluindo a alemã, está a ir bem e os desafios de segurança sobejam. Isto já não é sustentável para nós”, terá escrito Trump.

As cartas, personalizadas para cada um dos líderes, terão sido enviadas a 19 de junho, antes do encontro de Trump com Marcelo, mas numa altura em que os dois países já trabalhavam nos detalhes dos temas a discutir.

Curiosamente, os Reis de Espanha também estiveram em Washington dias antes do Presidente português, mas isso não terá impedido a receção de uma carta no Palácio da Moncloa em Madrid, depois da visita, de acordo com o El País.

Também o jornal espanhol incluiu Portugal no grupo de países que recebeu correspondência da Casa Branca sobre a NATO. Mas em Lisboa, garantem diversas fontes ao Observador, ninguém viu tal carta.