Os pequenos veículos comerciais como o Citroën Berlingo, modelo que neste capítulo é um dos que possui maior tradição no mercado, sempre ofereceram versões de passageiros, em paralelo com as de carga, mas a nova (e 3ª) geração do furgão francês leva mais longe este tipo de proposta. Denominado Multispace, a mais recente geração do Berlingo de passageiros assume-se cada vez mais como uma alternativa, com menores custos e mais espaço e versatilidade interior, aos que buscam um SUV ou um monovolume, para passear com a família e para a apoiar em incursões pela natureza ou em actividades de lazer.

Fabricado em Mangualde e em Vigo, no Norte de Espanha, o novo Berlingo começa por se assumir esteticamente mais apelativo, exibindo a nova frente da marca, mais volumosa e alta – o que o atirou para Classe 2 nas portagens, por superar 1,10 metros ao nível do eixo da frente –, o que o coloca em linha com os restantes SUV da Citroën, do C3 Aircross ao novo C5 Aircross. As Airbump laterais reforçam-lhe as aspirações de conseguir cativar os fãs dos SUV, com as oito cores para a carroçaria e as opções de decorá-la nas zonas laterais e frontal a fornecerem a desejada capacidade de personalização. Também ajuda o facto de o furgão contar com portas traseiras de correr mais “civilizadas” de operar, equipadas com vidros capazes de abrir de forma convencional.

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Continuamos perante uma versão mais apetecível e atraente de um veículo comercial, ou seja, mais estreita e alta do que os SUV convencionais. Mas se o Berlingo Multispace está uns pontos abaixo em algumas áreas, pode compensar noutras aos olhos dos clientes que procuram veículos mais acessíveis, volumosos e versáteis.

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De Mangualde para o mundo. Com novidades

O novo Berlingo tem a sua principal fábrica em Vigo, com a linha de produção portuguesa de Mangualde a dar um contributo importante, fruto de um investimento de 50 milhões de euros e o reforço de 225 funcionários, a somar aos 700 que já produziam ali as várias versões dos comerciais da Citroën e Peugeot, cerca de 56 mil unidades em 2017 (e 90.000  previstas para 2020), valor que irá aumentar consideravelmente a partir deste ano. Mas a 3ª geração do Berlingo, que substitui as de 2008 e 1996 traz consigo uma série de novidades, destinadas a civilizar o modelo, tornando-o mais silencioso, isento de vibrações e confortável.

A principal diferença face à geração anterior está no chassi, que é novo e resulta de uma solução híbrida, o que confirma a versatilidade que a PSA persegue. Para o novo veículo comercial, os homens do grupo francês associaram a plataforma traseira – denominada RG5 e que inclui a zona de carga – do furgão, à parte frontal da plataforma EMP2, que dá origem a tudo o que é automóveis e SUV do segmento médio da PSA, da Citroën, da Peugeot e, a partir de agora, também da Opel. É o recurso à zona frontal da EMP2 que permite montar as mais recentes mecânicas do grupo, bem como as soluções tecnológicas mais recentes. Isto além de perder peso, com uma redução de cerca de 40 kg face à geração anterior.

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Para incrementar a sensação de qualidade durante a utilização, o novo Berlingo recorre a um maior número de reforços na carroçaria, bem como a uma maior quantidade de material de insonorização. O modelo continua a ser proposto em duas versões, a versão normal, denominada M e a mais comprida, a XL. Enquanto a primeira exibe um comprimento total de 4,40 metros (mais 2 cm do que até aqui), com uma distância entre eixos de 2,78 metros, a XL vê a distância entre eixos aumentar para 2,97 m, o que atira o comprimento para 4,75 m, com mais espaço interior, mas uma estética menos apelativa. Os Berlingo M e XL podem acolher duas euro-paletes, na versão de carga, ou cinco ou sete lugares nos Belingo Multispace.

Por dentro é a grande evolução

Uma vez no interior, o novo Berlingo surpreende pelas cores e estilo, distanciando-se mais do que é tradicional encontrar num furgão comercial. Os plásticos são naturalmente rijos e abaixo do standard que encontramos até no C3 Aircross – preço oblige –, mas a marca tenta compensar isso mesmo com uma decoração mais alegre, com os plásticos a que é possível aceder com as mãos no tablier a estarem revestidos a tinta emborrachada, o que melhora o tacto.Os bancos, que parecem herdados do C4 Cactus, são mais confortáveis à frente e atrás, com a retaguarda a disponibilizar três assentos individuais de igual dimensão e rebatíveis, para optimizar a mala lá atrás.

A bagageira oferece 775 litros, ou mais 100 litros se estivermos em presença da versão XL, valor que cresce consideravelmente se deitarmos os assentos posteriores. Para evitar expor o habitáculo sempre que se abre o portão traseiro, a Citroën permite que se abra apenas o vidro, para que se possa colocar lá dentro objectos até 2,70 metros de comprimento (ou 3,05 m na versão XL). Além da mala, o Berlingo Multispace tem mais 28 espaços para arrumar pequenos objectos, num total de 186 litros, 60 dos quais estão junto ao tejadilho na zona da bagageira, acessível pela frente e por trás.

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O porta-luvas é refrigerado e há versões com tejadilho em vidro, de grandes dimensões, sendo a iluminação interior assegurada por LED montados numa calha superior em material translúcido, que visualmente é atraente, mas que deverá ser complicado manter limpa. Outra das novidades diz respeito à maior sensação de espaço para quem vai ao volante, fruto do tablier ter avançado 20 cm face à geração anterior, outra vantagem proporcionada pela EMP2.

Como é ao volante

O Berlingo, tanto na versão de carga como de passageiros, está disponível com motores diesel e gasolina, com a marca admitir que está a preparar uma versão eléctrica a bateria – para responder ao Kangoo Z.E., mas sem avançar para quando, sendo ainda possível e substancialmente mais fácil, conceber um Berlingo eléctrificado. Mas também aqui sem se comprometer com datas.

A gasolina é sempre o motor 1.2 PureTech detrês cilindros que está de serviço, com potências de 100 ou 130 cv e acoplado a uma caixa automática de seis velocidades ou automática tradicional com oito relações. A gasóleo as opções baseiam-se exclusivamente no novo 1.5 BlueHDI, que surge com 75, 100 e 130 cv.

Começámos por conduzir o Multispace com motor 1.5 BlueHDi de 130 cv e caixa automática, que revelou ter potência mais que suficiente para empurrar os seus cerca de 1.400 kg e manter um bom ritmo. O motor responde bem logo a partir das 1.300 rotações, com a caixa a explorá-lo de forma eficaz, sem ter de recorrer a regimes muito elevados, tanto mais que oito velocidades fazem o motor estar sempre na zona de máxima força e mínimo consumo. A caixa é suave, mas o comando rotativo na consola exige algum hábito, se que bem que ocupe menos espaço.

A direcção é correcta e fácil de manusear, similar aos veículos não de trabalho da marca –  vantagens da plataforma EMP2 –, com o ruído de rolamento a ser agora inferior e o isolamento da mecânica melhor. Quanto ao conforto, depende da estrada. Em condições normais agrada, mas quando o piso se torna mais irregular, nota-se uma grande diferença entre a suspensão da frente e traseira – a tal preparada para carga –, com esta a tornar o Berlingo excessivamente seco. Em ritmo de passeio, um consumo de 5,6 litros é perfeitamente possível, a subir para os 6,4 se a velocidade aumentar.

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De seguida trocámos o diesel pela gasolina, o 1.2 PureTech de 130 cv, e se a resposta ao acelerador continuou a ser despachada, mesmo a baixo regime (cortesia do turbocompressor), o ruído baixou consideravelmente. Porém, os consumos nem por isso, a manterem-se abaixo dos 6 litros numa toada mais calma, mas a subir para 8 quando abusámos um pouco mais do acelerador. Interessante é também o nível de equipamento que o Multispace proporciona, da abertura sem chave ao head-up display, passando pelo Grip Control, destinado a quem circula por pisos mais escorregadios e não gosta de modular a pressão no acelerador, uma vez que o modelo continua a ter apenas tracção ao eixo da frente.

Impressionante ainda é o número de sistemas electrónicos disponíveis, nada menos do que 19 (17 dos quais são novos no Berlingo), entre os vocacionados para o conforto e os dirigidos à ajuda ao condutor.

Quando chega a Portugal. E por quanto

A chegada do novo Berlingo ao nosso país vai ser feita a prestações, literalmente. Assim, as primeiras unidades vão surgir em Portugal apenas em Novembro e exclusivamente na versão longa (a XL) de passageiros e com sete lugares, por ser a única que a Citroën tem a certeza de poder passar de imediato pelo crivo das portagens como Classe 1, ao abrigo da mesma excepção que beneficia os restantes monovolumes, como os produzidos pela Autoeuropa.

Em relação a preços ainda não há novidades, mas questionados os responsáveis pela marca francesa fomos informados que, em França e em igualdade de condições (mecânica e caixa), o incremento não ultrapassa os 300€, face à geração actual. Não é muito face ao adicional de equipamento que o modelo passa a incluir, mas é sempre um valor que vai ter tendência para aumentar à medida que se opta por reforçar o número de dispositivos – especialmente os eléctrónicos – que inclui de série.

Como a PSA tem a certeza que o Governo vai rever em breve o actual sistema que penaliza veículos como o Berlingo, apenas por serem mais altos ao nível do eixo da frente, está já agendada a introdução em Janeiro de 2019 das restantes versões, as curtas com cinco e sete lugares e as comerciais M e XL, todas elas classificadas como Classe 1, sem o qual o seu sucesso comercial seria consideravelmente mais reduzido.