Enquanto Marcus Berg alinha na frente de ataque da seleção sueca neste Mundial, um estranho dorme na sua cama, come na sua cozinha, toma banho na sua banheira e vê futebol refastelado no seu sofá, talvez até com os pés pousados na mesa de centroÃãnnn? Como assim? Só para despistar a primeira ideia que lhe pode ter subido à cabeça, dizemos-lhe já: o luxuoso apartamento de 90 metros quadrados situado em Gotemburgo, segunda maior cidade sueca, não foi assaltado. Este não é um caso de polícia. É um caso de generosidade. De desportivismo, de ‘boa onda’.

Era uma vez um concurso lançado por um dos patrocinadores da seleção sueca, a Svenska Spel, que tinha como finalidade encontrar alguém para ficar hospedado na casa de Marcus Berg enquanto o jogador estava, ele próprio, hospedado na Rússia, com a seleção. E era uma vez um adepto, Jasper Bergkvist, de 28 anos (menos dois do que o 9 da formação nórdica) que ganhou esse concurso. “Um amigo avisou-me e pareceu-me uma oportunidade divertida e única. Escrevi uma mensagem a explicar por que razão queria instalar-me no apartamento e o resto é história”, explicou o adepto ao jornal sueco Expressen.

Mas se passar umas mini-férias de graça em casa de um jogador (ou em qualquer uma, vá) já pode ser considerado um luxo, a coisa não fica por aqui. Marcus Berg deixou o frigorífico cheio de comida, refeições pagas nos seus restaurantes favoritos (para o caso de Jasper Bergkvist não se ajeitar lá muito entre os tachos) e ainda lhe pagou a viagem desde Umea, onde vive o adepto, até Gotemburgo. Mas nem tudo foram brindes. Há sempre o lado B: o jogador deixou uma lista de afazeres escrita num quadro magnético pendurado no frigorífico, que incluía tratar das plantas.

Ora, Bergkvist aproveitou a hospitalidade e convidou até um grupo de dez amigos para assistirem ao jogo de estreia da seleção sueca frente à Coreia do Sul (que os nórdicos venceram por 1-0), instalados no sofá do avançado. “Tem sido sensacional. Viver aqui é mágico e é difícil explicar por palavras o que já desfrutei com os meus amigos”, garantiu Bergkvist ao jornal Expressen. Uma experiência que pode estar prestes a acabar, já que quando Berg regressar a casa (e pode ser já este domingo, caso a equipa nórdica não consiga ultrapassar a Inglaterra nos quartos de final), o adepto já terá abandonado o apartamento.

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Dois jogadores que a seleção uniu

Ora, para a experiência poder ser prolongada, convém que a dupla de ataque, composta por Berg e Toivonen, trate de carburar bem. Se depender do entendimento entre os dois, não há razões para a máquina não estar oleada. É que há uma enorme linha paralela a envolver o percurso dos dois jogadores. Que se juntou em 1986 (quando ambos nasceram, em cidades próximas) e em 2001, quando alinharam pelo Värmland, com 15 anos. E que se separou quando Berg se mudou para o Göteborg e Toivonen para o Degerfors. Mas os dois avançados estrearam-se, juntos, na seleção sub-21 e ainda se reencontraram no PSV, em 2010/11, quando Berg foi emprestado pelo Hamburgo ao emblema holandês.

Por essa altura, a amizade de infância já tinha deixado raízes fundas. Toivonen atravessava o país de ponta a ponta para visitar Berg, quando ele ainda vestia a camisola do Groningen (entre 2007 e 2009). E se agora as latitudes dos clubes são bem distantes — Toivonen veste a camisola do Toulouse, em França, e Berg a do Al Ain, nos Emirados Árabes Unidos — a seleção sueca pareceu uni-los de forma definitiva, sobretudo desde a retirada de Ibrahimovic. Novo teste à sintonia da linha avançada chega este sábado: a Inglaterra de Gareth Southgate é o senhor que se segue na luta pelas meias-finais.