Stéphane Buy, o homem que pilotou o helicóptero usado na fuga Redoine Faid da prisão, quebrou o silêncio e contou como foi agredido, teve uma arma apontada à cabeça, viu a família a ser ameaçada e foi forçado a voar com pouco combustível.

Paris. Ladrão de bancos fugiu outra vez da prisão. Agora, foi de helicóptero

Stéphane Buy esperava um domingo como outro qualquer. No dia 1 de julho, o experiente piloto, que contabiliza já mais de três mil horas de voo, tinha prevista uma lição para as 9h30.

Os alunos eram dois homens, um na casa dos 50 anos e outro dos 20, que o piloto já conhecia. “Foi a segunda ou terceira vez que os vi. Eles já tinham feito um voo de iniciação comigo e tinha corrido tudo muito bem. Eu pensei que era um pai que queria presentear o filho. Foi uma lição de voo como qualquer outra”, disse à rádio francesa RTL.

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Buy contou como tudo decorreu com normalidade até ao momento de embarcar. “Foi nesse momento que tudo mudou e eles começaram a ameaçar-me.” O piloto tinha preparado um helicóptero de modelo R44 Robinson, mas os homens insistiam que queriam voar com um Alouette II, um modelo vintage com capacidade para transportar até cinco pessoas, que estava estacionado no mesmo local. O instrutor terá tentado explicar que este modelo não era apropriado para pilotos iniciados e que não tinha combustível.

Os homens ameaçaram-no e fizeram-no acreditar que tinham um cúmplice junto à casa onde se encontrava a família do piloto. Sob ameaça, abasteceu o helicóptero e levantou voo. Foi depois forçado a aterrar num descampado e obrigado a sair do aparelho e agredido com o cabo das armas de fogo. “Foi-me dito que tinham decidido tirar um amigo da prisão de Réau, e era importante para mim fazer o meu trabalho bem, caso contrário a minha família estaria em risco.”

Stéphane foi novamente forçado a levantar voo e a fazer uma nova paragem, onde lhe foi dito que desligasse o motor e baixasse a cabeça para não ver o que estava a acontecer. Quando teve ordem para descolar novamente, o motor do Alouette II não ligou. “Nesse momento, os homens ficaram muito zangados. De repente, eu estava a ser atingido cada vez mais com o cabo da arma. Eles continuavam a gritar ‘liga isso, liga isso'”, relatou. Stéphane sugeriu sair do aparelho para verificar o motor e foi aí que viu que tinham entrado no helicóptero vários indivíduos encapuçados e vestidos com o fardamento da polícia de intervenção francesa.

Já fora do aparelho, Buy foi agredido repetidamente e deixado inconsciente momentaneamente por um golpe na cabeça. “Talvez eles achassem que eu estava a fingir a avaria, mas eu senti-me completamente inútil à frente do motor que tinha tentado reiniciar cinco ou seis vezes”, disse.

Quando finalmente conseguiram levantar voo, seguiram em direção à prisão sempre a uma altitude baixa para evitar serem captados pelos radares. Na prisão, o piloto foi forçado a fazer uma “manobra precisa” que é a sua especialidade num pátio com cerca de metro e meio. Os homens desembarcaram, invadiram a prisão e usaram uma rebarbadora para cortar a porta da sala de visitas onde Redoine Faid estava com o irmão.

Enquanto isto acontecia, Stéphano Buy foi obrigado por um dos homens armados que tinha ficado no aparelho a pairar sobre o pátio. “A minha preocupação era que o nível de combustível estava a diminuir. Estava muito baixo. E eu não sabia onde eles me levariam”, recorda.

Depois de todos reembarcarem, Buy recebeu ordens para voar em direção ao Charles de Gaulle, o maior aeroporto de França. Mais tarde, o piloto foi obrigado a aterrar numa ruela ao pé de uma bomba de gasolina, onde se apercebeu da intenção do grupo de incendiar o helicóptero.

Stéphane Buy estava em choque quando foi encontrado pela polícia em Gonesse, uma localidade que fica a 16,5 quilómetros a nordeste de Paris. O aparelho estava parcialmente queimado.