O grupo automóvel PSA, que inclui as marcas Citroën, DS, Opel e Peugeot, anunciou nova reestruturação para a Península Ibérica. As principais novidades dizem respeito aos novos directores da Opel e Peugeot para Portugal e Espanha, função que passa a estar, respectivamente, nas mãos do português Jorge Tomé, que até aqui dirigia a Peugeot, e da francesa Hélene Bouteleau, que até aqui desempenhava o cargo de directora financeira da PSA no Reino Unido, depois de anteriormente ter assumido as mesmas funções na Peugeot Portugal.

Arrumar a casa depois de uma transformação radical nunca é tarefa fácil. Porém, é esta a “especialidade” de Carlos Tavares, o português que brilhou na Renault e agora lidera o grupo francês PSA. Comecemos pelo princípio. Quando a PSA- Peugeot Citroën bateu no fundo, em 2012, estava tecnicamente (e não só) falida, fruto de uma continuada má gestão. Foi salva dois anos depois, graças a um investimento do Estado francês e dos chineses da Dongfeng (controlada pelo governo local), quando ambos injectaram capital no grupo, por troca de cerca de 13% das acções. Já financeiramente à tona de água, faltava depois encontrar um timoneiro que evitasse novo naufrágio e é precisamente aí que entra Carlos Tavares, grande apaixonado por automóveis (até de competição) que conhecemos há anos, enquanto responsável pelo Mégane, mas que depois provou o seu potencial como gestor ao dirigir a Nissan, no Japão, o que lhe permitiu ascender a vice-presidente da Aliança Renault-Nissan. Tavares entrou na falida PSA em 2014 que, um ano depois, já dava lucro.

Reputado gestor tão determinado quanto competente, Carlos Tavares tem como missão prioritária trazer a Opel de regresso aos lucros, de que anda arredada há 15 anos (durante a gestão da General Motors), colocar a marca a integrar os recursos da PSA, utilizando as plataformas e mecânicas do grupo e reorganizar a distribuição comercial de forma a optimizar os lucros daquele que é agora o segundo maior grupo na Europa. E é precisamente aqui que incidem as modificações agora anunciadas para os mercados português e espanhol.

O director-geral da PSA para a região ibérica continua a ser Christophe Mandon, a quem cabe supervisionar as áreas de vendas e marketing das quatro marcas do grupo, função que mantém desde 2015, sendo a novidade a inclusão da Opel no lote de marcas sob o seu controlo. A direcção da Peugeot entregue a Bouteleau é uma escolha já esperada, com a financeira a ter a necessária experiência e a estar há muito ligada à marca do leão.

Mais interessante é passagem de Jorge Tomé da direcção ibérica da Peugeot para a da Opel, com o português a assumir mais um desafio e logo ele que tem por hábito levar sempre a água ao seu moinho. Tomé – que substitui Jonathan Akeroyd, que desempenhou essa função nos últimos 12 meses, tendo antes sido director de vendas da Opel em Espanha desde 2010 – foi quadro da Peugeot em Portugal de 1995 a 2015, altura em que passou a conduzir a marca nos mercados português e espanhol a partir de Madrid. O profundo conhecimento que possui dos meandros dentro da PSA e, sobretudo, do mercado português, ser-lhe-á de grande ajuda para fazer com que a Opel atinja mais rapidamente todo o seu potencial, que é grande, ou não fosse a marca alemã a que tem o maior potencial de vendas à escala europeia, dentro da PSA. E se durante anos a PSA sempre favoreceu a Peugeot, fruto de ser administrada pela família que lhe dá o nome, desde que Carlos Tavares assumiu a liderança – com a entrada da Dongfeng e do Estado, a família Peugeot está reduzida aos mesmos cerca de 13% dos restantes accionistas principais – cada fabricante é gerido de forma a maximizar a sua capacidade de sucesso, o que é uma excelente notícia para a Citroën, DS e Opel.

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