Já virou moda no Brasil: treinador eliminado é treinador riscado. Desde 1978 que não há registo de um selecionador nacional brasileiro que tenha sido eliminado precocemente num campeonato do Mundo e tenha tido a oportunidade de seguir à frente dos comandos técnicos da canarinha. Claudio Coutinho foi o último treinador a manter a confiança da Confederação Brasileira de Futebol depois de se ficar pelo terceiro lugar do campeonato do Mundo realizado na Argentina (vitória por 2-1 sobre a Itália). Mas nem por isso chegou ao Mundial seguinte – em 1982 o Brasil foi orientado por Telê Santana.

Não é por isso de estranhar que, perante a eliminação brasileira nos quartos de final do Mundial 2018, a notícia seja o não despedimento de Tite. Pois é, no Brasil, todos se apressaram a defender a continuidade do atual selecionador nacional e, pela primeira vez em 40 anos, parece haver um treinador canarinho a sair mais cedo do Mundial e a manter o cargo.

O Brasil ultrapassou a fase de grupos e eliminou o México nos oitavos, antes de cair aos pés da Bélgica. Apesar da eliminação, Tite parece ter o apoio do grupo de trabalho, da Confederação Brasileira de Futebol e até mesmo dos próprios adeptos (Créditos: Getty Images).

Até mesmo os adeptos brasileiros, que invadiram a Rússia de samba movido a confiança, parecem estar do lado de Tite. Eles, que começaram o Mundial com um sentimento generalizado de que este ano o hexa não fugiria. Eles, que, desde o primeiro dia em terras russas, gritavam “o campeão voltou” num loop constante capaz de fazer doer os os ouvidos. Esses, que começaram o campeonato a tratar o selecionador nacional por “Empatite” e que a meio já o apelidavam de “Hexatite”. Esses mesmos, que vão da euforia à depressão, da festa ensurdecedora ao silêncio profundo, do melhor treinador do mundo ao pior que alguma vez houve, num piscar de olhos. São esses adeptos brasileiros que defendem a continuidade de Tite. Só isso já seria motivo de notícia!

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Na Confederação Brasileira de Futebol, a opinião é unânime: “Não há nem um debate sobre isso”, afirmou um dos principais dirigentes. Também o presidente da CBF, o coronel Antônio Nunes, atirou um “Isso é pergunta que se faça?”, após a eliminação brasileira. A tristeza e o desagrado pela derrota eram evidentes, mas, segundo o jornal brasileiro Estadão, a continuidade de Tite não estará em causa. 

Quando o melhor ataque supera a defesa menos batida, a maior surpresa nem é o resultado

Já no hotel em Moscovo, outro dirigente da CBF declarava: “O técnico da seleção brasileira é o Tite e nos próximos dias a CBF emitirá um comunicado sobre isso”. “Ele só não fica se não quiser”, afirmou.

E a verdade é que está tudo nas mãos de Tite. Durante o dia de sábado, o selecionador pediu uns dias de folga para pensar e só depois se deslocará à CBF para discutir o seu futuro. Uma coisa é certa: Tite tem a oportunidade de, 40 anos depois, fazer história e ser o único treinador brasileiro eliminado e não despedido. É obra!