Reportagem em Mae Sai, Tailândia

Quando viu as notícias do desaparecimento das 13 pessoas na gruta de Tham Luang, Chanida Kankham não queria acreditar. “Fiquei em choque”, diz. De imediato, decidiu que tinha de fazer alguma coisa. Não só pelo facto de ser mulher do presidente da Câmara de Mae Sai, mas também porque tem muita experiência na resposta a situações de emergência. “Como o meu marido já foi presidente da Câmara em muitas cidades diferentes, eu, por regra, torno-me também diretora da Cruz Vermelha nesses locais. Estou em Mae Sai há oito meses, mas ao todo tenho mais de 20 anos de experiência nesta área”, explica ao Observador.

Dois dias depois das notícias, Kankham e a sua equipa já estavam nas imediações da gruta. “Fizemos um esforço cada uma e formámos uma vaquinha com o nosso dinheiro pessoal. Depois, comprámos comida: frango, vegetais, arroz, o que fosse preciso.”

“Fomos o primeiro grupo a chegar e começámos a cozinhar, quando isto ainda não estava nada organizado”, conta.

Quando o Observador a encontra, a operação de resgate já se aproxima do fim. A diretora da Cruz Vermelha já pôde, finalmente, sentar-se um pouco para descansar e está à conversa com as colegas, todas identificadas pelo colete azul escuro com a famosa Cruz. De baixa estatura, empoleirada num chapéu de chuva roxo que lhe serve de bengala, é visível que, seja pelo posto, seja pelo seu carisma, Chanida é o centro das atenções entre as companheiras. A primeira-dama avisa que não pode dar muitos pormenores sobre o que sabe da operação — as autoridades têm tentado controlar ao máximo os detalhes  divulgados aos jornalistas e são poucos os dados oficiais.

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Isso inclui, por exemplo, revelar onde estava o seu marido quando soube da notícia do desaparecimento, coisa que Chanida Kankham recusa fazer. Mas uma coisa dá como garantida: “Toda a gente estava muito apreensiva e triste. Nós, tailandeses, somos como uma família: os filhos dos outros são como se fossem nossos filhos.”

Comida vegetariana e halal para as equipas de resgate? Sim, também se arranja

Como pioneiras na operação logística de apoio às equipas de resgate, coube às senhoras da Cruz Vermelha a responsabilidade de cozinhar para os mergulhadores, fuzileiros e outros membros das forças de segurança. “Eles não fazem pedidos especiais, que isto não é um restaurante”, comenta. “Mas nós tentámos adaptar-nos aos que eles precisam. Por exemplo, temos feito refeições vegetarianas para os que não comem carne, comida halal para os muçulmanos… Tentamos adaptar-nos às necessidades deles.” Os 20 anos de experiência na Cruz Vermelha não a prepararam para o que aconteceu aqui em Mae Sai nestes dias, assegura. Não pelo cenário a que assistiu, mas pelo impacto emocional.

“O mais próximo que já vivi foi quando houve o tsunami de 2004. Eu fui para Phuket, mas à altura era só auxiliar. Aqui foi uma experiência muito mais emotiva, porque para nós isto é tudo mais próximo.”

Agora que já se sabe que a operação de resgate foi um sucesso e que todos os 13 Moo Pa foram retirados da gruta, Chanida prepara-se para organizar a próxima fase. “A primeira celebração que vamos todos fazer é juntarmo-nos e varrer isto tudo”, atira, soltando uma gargalhada. “Mais a sério, é preciso fazer trabalho na floresta. Temos de tentar fazê-la voltar o mais próximo possível ao que era, houve alguma desflorestação com as operações e temos de preservar este ecossistema.”

Os festejos, diz, ficam para depois de o ex-governador e o seu marido, o presidente da Câmara, anunciarem formalmente o fim das operações e regressarem a casa. “E nós não viemos aqui para celebrar, viemos para nos voluntariarmos”, acrescenta. Para casa, leva consigo a sensação de dever cumprido e um pouco mais de fé na humanidade: “O que isto provou é que os tailandeses têm compaixão. E o resto do mundo também. Vieram mergulhadores, trouxeram equipamento, vieram jornalistas… Estivemos aqui todos juntos.”